|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Artigo
Olimpíada opõe China e Ocidente
Mudanças políticas radicais, esperadas por ocidentais, não devem ocorrer no país após os Jogos de Pequim
DAVID JYE YUAN SHYU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para a maioria dos países, o
significado principal dos Jogos
Olímpicos, além da questão esportiva e cultural, é de ordem
econômica. Mas, na China, os
atuais Jogos carregam ainda
uma significativa conotação
histórica e política.
Desde meados do século 19,
intensificaram-se as invasões
das nações ocidentais e da japonesa. Por cerca de 150 anos, a
China foi praticamente um país
semicolonial e era caricaturada
pelos invasores como a "invalidez oriental". Além disso, por
causa das diferenças culturais e
dos maus entendimentos daí
decorrentes, o povo chinês sofreu muitas humilhações.
Muitos desses preconceitos
se propagaram no tempo e no
imaginário de outros povos.
Mesmo recentemente, Jack
Cafferty, apresentador da
CNN, chegou a afirmar que os
chineses eram "estúpidos".
Para o filósofo italiano Domenico Losurdo, essa "cruzada
antichinesa em curso está em
total continuidade com a longa
e abjeta tradição imperialista e
racista".
Devido a tantas injúrias, não
é por acaso que a maioria da população veja no sucesso dos Jogos uma chance de apresentar
ao mundo a "cara e o espírito"
verdadeiros da China moderna
e, assim, "limpar-se da humilhação" de centenas de anos.
Sendo assim, os protestos
contra a China no exterior surtiram um efeito contrário. Ajudaram a reforçar a unidade do
povo e despertaram um sentimento de patriotismo que fortalece o governo comunista.
De acordo com a pesquisa do
instituto PEW, em Washington, 86% do povo chinês está
satisfeito com o resultado de
política de reformas e otimista
com o desenvolvimento do
país. Foi o primeiro colocado
entre os 24 países pesquisados.
Apesar de o Comitê Olímpico
Internacional se opor à interferência política e religiosa, na
prática isso não tem acontecido. Especialmente nestes Jogos, as pressões políticas do exterior são enormes. Elas incluem a questão dos diretos humanos, do meio ambiente, do
Tibete, Falun Gong etc.
Em suma, os Jogos de 2008
se transformaram em um palco
não só para disputas desportivas, mas também políticas.
Para o jornalista Georg Blume, do "Die Zeit", os Jogos de
Pequim tornaram-se para os
"antichineses" uma base de teste para tentar alterar o destino
e o futuro da China.
Essas discussões também refletem um impacto psicológico
que o crescimento da China
provocou no mundo ocidental.
Depois da Guerra Fria, a China
não apenas sobreviveu à queda
dos países socialistas como pôde se transformar em um gigante econômico. Esse fato deixou certos países e analistas,
que ainda possuem uma ideologia herdada da Guerra Fria,
insatisfeitos e preocupados.
Não se deve esperar que estes
Jogos produzam mudanças políticas radicais. Mas, como eles
produzem um entusiasmo no
povo e propagam ideologias de
mundo distintas, devem influenciar indiretamente a política. Juntamente com o crescimento da classe média, os Jogos impulsionarão o caminho
das reformas. Mas as mudanças
ocorrerão de forma cautelosa.
Acreditamos que, quando a
festa acabar, a China continuará no caminho do desenvolvimento, como ocorre desde os
anos 80. A esperança de certos
ocidentais que torcem por profundas mudanças na área política não deve acontecer, pelo
menos em um futuro breve.
David Jye Yuan Shyu é professor de língua e literatura chinesa da USP
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Após fiascos, americanos falam de solidariedade Índice
|