São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Os triângulos de Parreira

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

A muito boa tarde dominical contra a Bolívia e a razoável noite de anteontem contra a Alemanha permitiram rever parte considerável do repertório tático que Parreira prepara para a Copa de 2006. A última novidade, nitidamente experimental, foi a do finzinho da partida em Berlim: cinco meias (Edmílson, Edu, Renato, Júlio Baptista e Alex) e um atacante (Ronaldo), sistema que lembra o 4-6-0 um dia alardeado por Zagallo.
O triângulo do ataque tem duas variantes. Vinham jogando Ronaldo, Ronaldinho e Kaká. O primeiro, mais enfiado. O segundo, não tão à frente, recuando, aproximando-se de Kaká, que partia de trás. Ou seja: um triângulo com um ângulo (Ronaldo) mais perto do gol e outros dois mais atrás (Ronaldinho e Kaká), embora não na mesma linha.
Na Copa América e nas eliminatórias (contra Argentina e Chile), o desenho mudou. Dois ângulos (Ronaldo e Luis Fabiano, antes; Adriano e Luis Fabiano, depois, no Peru) ficavam próximos à área adversária e um vinha de trás (Kaká nas eliminatórias; Alex na Copa América).
A parelha dos centroavantes funcionou bem no Mineirão (3 a 1 nos argentinos) e mais ou menos na Copa América. Teve dificuldades com defesas mais consistentes como a chilena e a alemã (anteontem Ronaldo e Adriano ficaram à frente; Ronaldinho, mais atrás, mas não a ponto de formar um retângulo no meio-campo).
Deve-se considerar o cansaço com o jogo de domingo, a viagem e o fuso. Kaká fez falta. Seria um escândalo ele perder a posição devido ao conflito CBF x Milan.
Outro triângulo a resolver é o do meio. No time principal, antes do corte dos jogadores de Bayern de Munique e Milan, Parreira apostava no trio Edmílson, Zé Roberto (volantes) e Juninho Pernambucano (meia vigoroso para marcar e alcançar o ataque). Talvez Edu em vez de Zé Roberto.
Na Copa América, Edu ocupou a vaga do atleta do Bayern. Para quem, como eu, pensava que reforçaria a criação, até agora foi frustrante. Zagallo mantém imensa simpatia por Zé Roberto.
A despeito do bom desempenho na meia direita (a atuação sem brilho na quarta deve ser relativizada), Juninho tem uma ou duas sombras: Renato e, talvez, Júlio Baptista. Este, para uma formação mais ofensiva, depois que mostrou na Espanha vocação para o ataque antes reprimida.
As opções de Parreira são tantas que até o que parece porra-louquice, como o formato final contra a Alemanha, pode funcionar. Com cinco meias (Alex e Júlio Baptista à frente, em triângulo com Ronaldo), o Brasil ameaçou mais (Júlio quase marcou) e fechou o buraco que deixava a zaga exposta. Entre outros motivos, por causa do posicionamento errado de Edmílson e Belletti.
Parreira ainda tem Robinho, Diego e outros ótimos jogadores. Com exceção da zaga (a propósito, Juan está melhor que Lúcio) e da reserva de Cafu, fazia tempo que um treinador não contava com elenco tão talentoso para brincar com os botões.

Bobagem
É ridículo o novo hábito de parte dos jogadores da seleção de pôr a mão no peito na hora do hino. Trata-se de uma patriotada até há pouco distante daqui.

Nazismo e escravidão
Se os alemães imitassem Ruy Barbosa, o Estádio Olímpico de Berlim teria sido demolido para esquecer o nazismo. Em nome da vergonha da escravidão, o brasileiro cometeu o absurdo de mandar destruir os registros sobre escravos. A Alemanha remodelou a velha arena.

Amarras
Santos e Atlético-PR não foram criativos para superar as táticas dos técnicos, que preferiram se garantir na defesa. É crime marcar amistoso da seleção em data do Brasileiro.

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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