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FUTEBOL
Os triângulos de Parreira
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
A muito boa tarde dominical
contra a Bolívia e a razoável
noite de anteontem contra a Alemanha permitiram rever parte
considerável do repertório tático
que Parreira prepara para a Copa
de 2006. A última novidade, nitidamente experimental, foi a do
finzinho da partida em Berlim:
cinco meias (Edmílson, Edu, Renato, Júlio Baptista e Alex) e um
atacante (Ronaldo), sistema que
lembra o 4-6-0 um dia alardeado
por Zagallo.
O triângulo do ataque tem duas
variantes. Vinham jogando Ronaldo, Ronaldinho e Kaká. O primeiro, mais enfiado. O segundo,
não tão à frente, recuando, aproximando-se de Kaká, que partia
de trás. Ou seja: um triângulo
com um ângulo (Ronaldo) mais
perto do gol e outros dois mais
atrás (Ronaldinho e Kaká), embora não na mesma linha.
Na Copa América e nas eliminatórias (contra Argentina e Chile), o desenho mudou. Dois ângulos (Ronaldo e Luis Fabiano, antes; Adriano e Luis Fabiano, depois, no Peru) ficavam próximos
à área adversária e um vinha de
trás (Kaká nas eliminatórias;
Alex na Copa América).
A parelha dos centroavantes
funcionou bem no Mineirão (3 a 1
nos argentinos) e mais ou menos
na Copa América. Teve dificuldades com defesas mais consistentes
como a chilena e a alemã (anteontem Ronaldo e Adriano ficaram à frente; Ronaldinho, mais
atrás, mas não a ponto de formar
um retângulo no meio-campo).
Deve-se considerar o cansaço
com o jogo de domingo, a viagem
e o fuso. Kaká fez falta. Seria um
escândalo ele perder a posição devido ao conflito CBF x Milan.
Outro triângulo a resolver é o
do meio. No time principal, antes
do corte dos jogadores de Bayern
de Munique e Milan, Parreira
apostava no trio Edmílson, Zé
Roberto (volantes) e Juninho Pernambucano (meia vigoroso para
marcar e alcançar o ataque). Talvez Edu em vez de Zé Roberto.
Na Copa América, Edu ocupou
a vaga do atleta do Bayern. Para
quem, como eu, pensava que reforçaria a criação, até agora foi
frustrante. Zagallo mantém
imensa simpatia por Zé Roberto.
A despeito do bom desempenho
na meia direita (a atuação sem
brilho na quarta deve ser relativizada), Juninho tem uma ou duas
sombras: Renato e, talvez, Júlio
Baptista. Este, para uma formação mais ofensiva, depois que
mostrou na Espanha vocação para o ataque antes reprimida.
As opções de Parreira são tantas
que até o que parece porra-louquice, como o formato final contra a Alemanha, pode funcionar.
Com cinco meias (Alex e Júlio
Baptista à frente, em triângulo
com Ronaldo), o Brasil ameaçou
mais (Júlio quase marcou) e fechou o buraco que deixava a zaga
exposta. Entre outros motivos,
por causa do posicionamento errado de Edmílson e Belletti.
Parreira ainda tem Robinho,
Diego e outros ótimos jogadores.
Com exceção da zaga (a propósito, Juan está melhor que Lúcio) e
da reserva de Cafu, fazia tempo
que um treinador não contava
com elenco tão talentoso para
brincar com os botões.
Bobagem
É ridículo o novo hábito de parte dos jogadores da seleção de
pôr a mão no peito na hora do
hino. Trata-se de uma patriotada até há pouco distante daqui.
Nazismo e escravidão
Se os alemães imitassem Ruy
Barbosa, o Estádio Olímpico de
Berlim teria sido demolido para
esquecer o nazismo. Em nome
da vergonha da escravidão, o
brasileiro cometeu o absurdo
de mandar destruir os registros
sobre escravos. A Alemanha remodelou a velha arena.
Amarras
Santos e Atlético-PR não foram
criativos para superar as táticas
dos técnicos, que preferiram se
garantir na defesa. É crime
marcar amistoso da seleção em
data do Brasileiro.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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