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À véspera de Mundial, judocas acirram rivalidade nos treinos
Equipes evitam intercâmbio e praticar contra adversários de outras seleções
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A proximidade do Campeonato Mundial de judô, que começa quinta-feira no Rio, deixou a cordialidade de lado nos
últimos treinamentos do Brasil
em São Paulo.
Na semana passada, a seleção
brasileira dividiu os tatames
em treinos com as equipes de
Geórgia, Grécia e Suíça, num
panorama bem distinto do que
vigorou em outras sessões de
treinamento que juntaram brasileiros e outras delegações.
O intercâmbio entre nacionais e estrangeiros, iniciado em
2003, quando a Holanda visitou o país pela primeira vez
com sua equipe completa, e que
prosseguiu desde então com times tradicionais como França,
Rússia e Japão visitando o país,
não se repetiu agora.
No lugar dos tradicionais
"treinos conjuntos", na prática,
o que se viu no Ibirapuera foram treinos simultâneos das
delegações participantes.
Em vez de realizarem as lutas
contra judocas de outras nacionalidades -como costuma
acontecer em treinos conjuntos-, tanto os brasileiros quanto os estrangeiros preferiram
praticar entre si, para não dar
informações a possíveis rivais.
Nem mesmo atletas apontados como os principais adversários foram testados pela
equipe nacional no período. O
meio-pesado (até 100 kg) Luciano Corrêa, que destaca o
georgiano Levan Zhorzholiani
como um dos mais fortes oponentes, está "no escuro". "Por
enquanto, nós treinamos entre
nós, eles, entre eles."
O leve (até 73 kg) Leandro
Guilheiro conta que "apesar de
ele ser tão carrancudo" tem boa
relação com David Kevkhisvili,
rival georgiano a quem bateu
nos Jogos de Atenas-04. "Mas
contato no treino agora não é
interessante nem pra nós nem
pra eles", ressalta o santista.
"O momento do treino conjunto já passou. Foi depois das
etapas de Copa do Mundo, aqui
e na Europa", declara Carlos
Honorato, 32, mais velho atleta
da seleção brasileira.
"Treinar com ele agora pode
dar informações sobre meus
tempos de golpe, minhas estratégias de entradas", conta ele
sobre o grego Ilias Iliadis, antes
de narrar uma nada romântica
troca de olhares. "No treino,
um olha o outro e tenta focar
em sua preparação."
Tiago Camilo, campeão dos
Jogos Pan-Americanos no peso
médio (90 kg), classe acima da
que lutará o Mundial (81 kg),
resume por que o intercâmbio
a uma semana do certame mais
importante do ano foi quase
nulo. "Agora não tem amizade,
é guerra e rivalidade mesmo.
Cada um no seu treino."
De fato. Na última sexta-feira, cada equipe ocupou uma das
áreas de luta do ginásio do Ibirapuera. Quando, por exemplo,
Edinanci Silva se deslocou para
o espaço dos gregos ao tentar
uma entrada, recebeu da treinadora Rosicléia Campos a instrução para retornar ao tatame
que era usado pelos brasileiros.
Na quinta-feira, gregos e
georgianos realizaram treino
que simulava a competição
-inclusive com os técnicos nos
papeis de árbitros-, o que privou o Brasil de usar os tatames
pela manhã, quando a seleção
teve treino físico.
A estratégia de "esconder o
jogo" às vésperas do Mundial
não é exclusiva dos times que
treinaram em São Paulo.
A forte seleção japonesa, tradicionalmente uma das melhores do mundo, abriu mão dos
treinos conjuntos oferecidos
pela organização, para realizar
suas práticas de forma privada,
em um condomínio no Rio.
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