São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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À véspera de Mundial, judocas acirram rivalidade nos treinos

Equipes evitam intercâmbio e praticar contra adversários de outras seleções

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A proximidade do Campeonato Mundial de judô, que começa quinta-feira no Rio, deixou a cordialidade de lado nos últimos treinamentos do Brasil em São Paulo.
Na semana passada, a seleção brasileira dividiu os tatames em treinos com as equipes de Geórgia, Grécia e Suíça, num panorama bem distinto do que vigorou em outras sessões de treinamento que juntaram brasileiros e outras delegações.
O intercâmbio entre nacionais e estrangeiros, iniciado em 2003, quando a Holanda visitou o país pela primeira vez com sua equipe completa, e que prosseguiu desde então com times tradicionais como França, Rússia e Japão visitando o país, não se repetiu agora.
No lugar dos tradicionais "treinos conjuntos", na prática, o que se viu no Ibirapuera foram treinos simultâneos das delegações participantes.
Em vez de realizarem as lutas contra judocas de outras nacionalidades -como costuma acontecer em treinos conjuntos-, tanto os brasileiros quanto os estrangeiros preferiram praticar entre si, para não dar informações a possíveis rivais.
Nem mesmo atletas apontados como os principais adversários foram testados pela equipe nacional no período. O meio-pesado (até 100 kg) Luciano Corrêa, que destaca o georgiano Levan Zhorzholiani como um dos mais fortes oponentes, está "no escuro". "Por enquanto, nós treinamos entre nós, eles, entre eles."
O leve (até 73 kg) Leandro Guilheiro conta que "apesar de ele ser tão carrancudo" tem boa relação com David Kevkhisvili, rival georgiano a quem bateu nos Jogos de Atenas-04. "Mas contato no treino agora não é interessante nem pra nós nem pra eles", ressalta o santista.
"O momento do treino conjunto já passou. Foi depois das etapas de Copa do Mundo, aqui e na Europa", declara Carlos Honorato, 32, mais velho atleta da seleção brasileira.
"Treinar com ele agora pode dar informações sobre meus tempos de golpe, minhas estratégias de entradas", conta ele sobre o grego Ilias Iliadis, antes de narrar uma nada romântica troca de olhares. "No treino, um olha o outro e tenta focar em sua preparação."
Tiago Camilo, campeão dos Jogos Pan-Americanos no peso médio (90 kg), classe acima da que lutará o Mundial (81 kg), resume por que o intercâmbio a uma semana do certame mais importante do ano foi quase nulo. "Agora não tem amizade, é guerra e rivalidade mesmo. Cada um no seu treino."
De fato. Na última sexta-feira, cada equipe ocupou uma das áreas de luta do ginásio do Ibirapuera. Quando, por exemplo, Edinanci Silva se deslocou para o espaço dos gregos ao tentar uma entrada, recebeu da treinadora Rosicléia Campos a instrução para retornar ao tatame que era usado pelos brasileiros.
Na quinta-feira, gregos e georgianos realizaram treino que simulava a competição -inclusive com os técnicos nos papeis de árbitros-, o que privou o Brasil de usar os tatames pela manhã, quando a seleção teve treino físico.
A estratégia de "esconder o jogo" às vésperas do Mundial não é exclusiva dos times que treinaram em São Paulo.
A forte seleção japonesa, tradicionalmente uma das melhores do mundo, abriu mão dos treinos conjuntos oferecidos pela organização, para realizar suas práticas de forma privada, em um condomínio no Rio.


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