São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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"Falhei na liderança do grupo", diz Bernardinho

Treinador admite que não soube lidar com Ricardinho, afastado da seleção

Chateado com declarações do atleta, técnico diz que time teve união reforçada com corte do levantador, mas admite perda técnica

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

Os últimos meses foram os mais conturbados de Bernardinho à frente da seleção de vôlei. A rotina de pódios continua a mesma, mas, pela primeira vez, ele teve de lidar com uma crise escancarada na "família".
O treinador parece tranqüilo com sua decisão de cortar o levantador Ricardinho. Acredita que o episódio, aliás, o fez admirar mais seus comandados. Mas o mais vitorioso técnico de da história do vôlei do país carrega uma decepção.
"Minha maior frustração é comigo mesmo. Sinto que não consegui talvez orientar ou colocar tudo como deveria. Como líder eu, sinceramente, falhei. É uma conclusão clara", disse ele em Santiago, onde comandou o time no Sul-Americano.
Bernardinho costuma usar a teoria de que, quando você tem alguém com personalidade forte no grupo, tem de colocá-lo ao seu lado. Foi isso que o treinador buscou ao fazer de Ricardinho seu capitão na equipe.
"Quis ver se conseguiria, de alguma forma, orientá-lo da maneira correta. Então tenho parcela enorme nessa história", afirmou o técnico, que ficou chateado com as declarações do levantador de que se sentiu traído e que a ""família" Bernardinho não existia.
"Entendo que seja humano que alguém reaja quando está magoado. Mas isso gera mais afastamento", completou.
Bernardinho, no entanto, acredita que o episódio serviu para unir mais o grupo e ajudou a reafirmar valores que haviam sido um pouco escanteados.
"Resgatamos algo da essência do entendimento da necessidade de uma boa preparação. Quando vinha com meus alertas, eles achavam que era paranóia. É normal, porque beiro a paranóia mesmo em algumas coisas", afirmou o treinador.
"Mas agora, sem o Ricardo, temos de ser ainda mais um time, já que nos faltará algo na parte técnica. E esse grupo só chegou onde está porque com certeza foi o que mais ralou."
O técnico também elogiou a capacidade do elenco, do filho Bruno e de Marcelinho de lidarem com a crise. Os dois agüentaram a pressão e ganharam a confiança da equipe. O restante lavou a roupa suja em casa.
"A postura do grupo é coerente. Qualquer família tem briga, mas a nossa briga é investigada pela imprensa. Passei a respeitar ainda mais esses caras depois desse episódio."
Após todos os problemas enfrentados durante o Sul-Americano -quadra dura, muito frio, ginásios e hotéis precários-, Bernardinho quer discutir o caminho até a Olimpíada. Em novembro, disputará a Copa do Mundo em busca de uma vaga em Pequim-2008.
"Não adianta imaginar algumas coisas se eles não compactuarem comigo com essa idéia de evolução. Quero perguntar o que eles esperam", disse ele.
Além de Samuel e Murilo, que foram ao Sul-Americano, Roberto Minuzzi também continuará a ser testado. Bernardinho acena com possível retorno de Nalbert, que se recupera de cirurgia no ombro.
Mas enquanto pensa na Olimpíada, o treinador traça novos planos em carreiras paralelas. Ele tem um projeto de fazer versões comentadas de livros de grandes nomes do esporte mundial. O primeiro será a biografia de Michael Jordan, ex-jogador do basquete.
"Eu faria a introdução e "tropicalizaria" algumas situações, mostrando o que significam no país", disse o autor de "Transformando Suor em Ouro" e "Cartas a um Jovem Atleta".
Também sonha em fazer uma versão de ""Inside the Actor's Studio" ligada ao esporte. No programa da TV dos EUA, grandes nomes do cinema são entrevistados por estudantes.
Mas não pensa em aposentadoria. "Sei que tem muita gente esperando meu lugar, mas não quero parar ainda, é o que eu gosto de fazer", contou.


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