|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Falhei na liderança do grupo", diz Bernardinho
Treinador admite que não soube lidar com Ricardinho, afastado da seleção
Chateado com declarações do atleta, técnico diz que time teve união reforçada com corte do levantador, mas admite perda técnica
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
Os últimos meses foram os
mais conturbados de Bernardinho à frente da seleção de vôlei.
A rotina de pódios continua a
mesma, mas, pela primeira vez,
ele teve de lidar com uma crise
escancarada na "família".
O treinador parece tranqüilo
com sua decisão de cortar o levantador Ricardinho. Acredita
que o episódio, aliás, o fez admirar mais seus comandados.
Mas o mais vitorioso técnico de
da história do vôlei do país carrega uma decepção.
"Minha maior frustração é
comigo mesmo. Sinto que não
consegui talvez orientar ou colocar tudo como deveria. Como
líder eu, sinceramente, falhei. É
uma conclusão clara", disse ele
em Santiago, onde comandou o
time no Sul-Americano.
Bernardinho costuma usar a
teoria de que, quando você tem
alguém com personalidade forte no grupo, tem de colocá-lo ao
seu lado. Foi isso que o treinador buscou ao fazer de Ricardinho seu capitão na equipe.
"Quis ver se conseguiria, de
alguma forma, orientá-lo da
maneira correta. Então tenho
parcela enorme nessa história",
afirmou o técnico, que ficou
chateado com as declarações
do levantador de que se sentiu
traído e que a ""família" Bernardinho não existia.
"Entendo que seja humano
que alguém reaja quando está
magoado. Mas isso gera mais
afastamento", completou.
Bernardinho, no entanto,
acredita que o episódio serviu
para unir mais o grupo e ajudou
a reafirmar valores que haviam
sido um pouco escanteados.
"Resgatamos algo da essência do entendimento da necessidade de uma boa preparação.
Quando vinha com meus alertas, eles achavam que era paranóia. É normal, porque beiro a
paranóia mesmo em algumas
coisas", afirmou o treinador.
"Mas agora, sem o Ricardo,
temos de ser ainda mais um time, já que nos faltará algo na
parte técnica. E esse grupo só
chegou onde está porque com
certeza foi o que mais ralou."
O técnico também elogiou a
capacidade do elenco, do filho
Bruno e de Marcelinho de lidarem com a crise. Os dois agüentaram a pressão e ganharam a
confiança da equipe. O restante
lavou a roupa suja em casa.
"A postura do grupo é coerente. Qualquer família tem
briga, mas a nossa briga é investigada pela imprensa. Passei a
respeitar ainda mais esses caras depois desse episódio."
Após todos os problemas enfrentados durante o Sul-Americano -quadra dura, muito
frio, ginásios e hotéis precários-, Bernardinho quer discutir o caminho até a Olimpíada.
Em novembro, disputará a Copa do Mundo em busca de uma
vaga em Pequim-2008.
"Não adianta imaginar algumas coisas se eles não compactuarem comigo com essa idéia
de evolução. Quero perguntar o
que eles esperam", disse ele.
Além de Samuel e Murilo,
que foram ao Sul-Americano,
Roberto Minuzzi também continuará a ser testado. Bernardinho acena com possível retorno de Nalbert, que se recupera
de cirurgia no ombro.
Mas enquanto pensa na
Olimpíada, o treinador traça
novos planos em carreiras paralelas. Ele tem um projeto de
fazer versões comentadas de livros de grandes nomes do esporte mundial. O primeiro será
a biografia de Michael Jordan,
ex-jogador do basquete.
"Eu faria a introdução e "tropicalizaria" algumas situações,
mostrando o que significam no
país", disse o autor de "Transformando Suor em Ouro" e
"Cartas a um Jovem Atleta".
Também sonha em fazer
uma versão de ""Inside the Actor's Studio" ligada ao esporte.
No programa da TV dos EUA,
grandes nomes do cinema são
entrevistados por estudantes.
Mas não pensa em aposentadoria. "Sei que tem muita gente
esperando meu lugar, mas não
quero parar ainda, é o que eu
gosto de fazer", contou.
Texto Anterior: De casa nova: Brasileira luta pela Áustria Próximo Texto: Mais um: Seleção sofre no set final, mas ganha título sul-americano Índice
|