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FUTEBOL
Para atleta, casamento e filho vão acelerar recuperação técnica
Ronaldo promete crescer com nova "privacidade"
ALEXANDRE GIMENEZ
enviado especial a Amsterdã
Os leitores das revistas ""conheça a vida dos ricos e famosos" não
terão a oportunidade de acompanhar as estripulias da criança que,
em 2000, tem tudo para tirar de
Sasha Szafir, a filha da apresentadora Xuxa Meneghel, o título de
""bebê mais famoso do Brasil".
O atacante Ronaldo, 23, disse
em entrevista exclusiva à Folha,
em Amsterdã, que vai preservar a
privacidade de seu filho com a
modelo Milene Domingues, que
deverá nascer em sete meses.
Para o atacante, a paternidade e
o casamento com a modelo, marcado para o final do ano, serão
passos importantes para ele conquistar o ""direito à privacidade".
Ronaldo disse estar curado das
dores no joelho que o afastaram
da maioria dos jogos do último
Campeonato Italiano, próximo
de seu condicionamento físico
ideal e pronto para recuperar o título de melhor do planeta, que recebeu da Fifa em 1996 e 1997.
""Quando o meu filho nascer eu já
serei novamente o melhor do
mundo", disse o jogador, logo na
chegada da seleção à Amsterdã.
""Vou dar uma resposta aos que
falaram que estava bichado, que
minha carreira havia acabado."
Folha - Existe um assédio muito grande em relação a você. Na
sua opinião, isso deve aumentar
agora com o seu casamento e o
nascimento de seu filho?
Ronaldo - Com certeza, vocês
não vão me ver fazendo matérias
mostrando o meu filho. Quero
preservar a minha família.
De qualquer maneira, meus familiares precisam ter a cabeça no
lugar para não exagerarem.
Folha - Como a Milene está lidando com todo o burburinho
por causa da gravidez?
Ronaldo - Ela sabe da responsabilidade que tem agora, dos problemas que podem surgir. A Milene está de acordo com a minha
teoria de que precisamos preservar ao máximo a nossa relação.
Folha - Você acha que essa nova situação, casado e pai de
uma criança, pode ajudar você a
separar o ""Ronaldo público"
-um jogador conhecido em todo mundo- do ""Ronaldo privado"? O Pelé faz isso muito bem,
até refere-se ao ex-jogador na
terceira pessoa...
Ronaldo - Com certeza vou tentar me preservar mais, pois acho
que toda pessoa tem o direito de
ter a sua privacidade. Porém pouca gente respeita. O casamento é
um passo importante para isso.
Folha - Você tem apenas 23
anos. Ficou surpreso em saber
que será pai tão novo assim?
Ronaldo - Não tinha planejado
nada, mas não fiquei surpreso.
Foi a coisa mais bonita que aconteceu na minha vida. Toda a minha família, e a da Milene, ficou
feliz. Além disso, foi um grande
presente de aniversário.
Folha - Você já comprou muitos presentes para o bebê?
Ronaldo - Fui fazer compras na
loja da Nike (seu patrocinador
pessoal) em Amsterdã, e peguei
um monte de tênis e roupinhas
para o neném (sorri).
Folha - Você parece viver um
ótimo momento em sua vida
pessoal. Isso pode acelerar sua
recuperação dentro de campo
depois de um ano difícil, com
tantas cobranças e contusões?
Ronaldo - Com certeza isso ajuda. Estou muito bem fora do campo. Nessa situação é muito melhor e mais fácil trabalhar.
Folha - Você sentiu-se mais
pressionado com as cobranças
na Itália ou no Brasil?
Ronaldo - A pressão vem do
mundo todo, mas eu sempre respondi jogando. O problema é que
no último ano eu não joguei para
responder a todas as críticas e
pressões. Eu não correspondi às
expectativas de todos. Agora eu
vou poder responder jogando, calando a boca de muita gente.
Folha - E a quem você pretende dar uma resposta primeiro?
Ronaldo - A todos os que falaram que estava bichado, que a minha carreira havia acabado. Estou
totalmente recuperado fisicamente e motivado para trabalhar.
Folha - Mas em nenhum momento você pensou que a sua
carreira estava prejudicada?
Ronaldo - Não, nunca passou
pela minha cabeça que a minha
carreira estava encerrada. Só ficava preocupado quando o tempo
passava e eu não ficava bom.
Folha - Quando você chegou a
Amsterdã disse que seria novamente o melhor do mundo antes do nascimento de seu filho,
na metade do próximo ano. De
onde vem essa confiança?
Ronaldo - A certeza que tenho
vem da minha recuperação física.
Um jogador depende de seu corpo. Durante o último ano, tive
problemas nos dois joelhos e não
pude mostrar o meu futebol.
Folha - E como você avalia seu
condicionamento físico atual?
Ronaldo - Sinto-me como há
três anos, antes da eleição da Fifa,
quando declarei que iria ganhar o
título... e ganhei. Tenho confiança
e muita vontade de treinar. Às vezes dá uma dorzinha aqui, outra
ali. Mas nunca deixo de treinar.
Folha - Além dos treinos normais, com todo o time, você tem
feito trabalhos extras...
Ronaldo - Preciso manter a rotina, não posso deixar de fazer reforço muscular para os joelhos.
Não é todo o dia, mas pelo menos
quatros vezes por semana. A causa dos meus problemas no joelho
foi um desequilíbrio muscular.
Folha - Você estava muito mal
fisicamente no início da preparação para a Copa América, em
junho, 8 kg acima do peso...
Ronaldo - Estava num nível
muito baixo. Eu cresci, mas ainda
tenho muito a crescer. A estrada é
grande. A questão nunca foi o peso, 1 kg a mais não faz diferença
para um jogador de futebol. Talvez faça para um piloto de F-1.
Folha - Nas últimas semanas,
você ficou afastado dos treinos
com bola em Milão, dedicando-se somente a trabalhos físicos?
Ronaldo - Chegamos ao consenso, com o Marcelo Lippi (técnico da Inter) e com os diretores,
que não seria inteligente jogar só
30 minutos e sair de campo por
falta de condicionamento. Comecei uma preparação física, uma
pré-temporada, para subir gradativamente de produção.
Folha - Sua confiança em sua
recuperação poderia ficar abalada se você falhasse nesse começo de temporada por causa
da falta de condicionamento?
Ronaldo - Além de eu ser um jogador técnico, dependo muito da
minha condição física. É daí que
eu tiro mais vantagem, na velocidade e na força. Falhar no início
do campeonato pode tirar a confiança do jogador.
Folha - Você vai continuar no
banco de reservas da Inter?
Ronaldo - O importante é estar
bem. Em boas condições, não me
importo em ficar no banco de reservas. Vou conquistar meu espaço novamente. Nunca corri de desafios. Gosto deles. Estando bem,
tenho certeza de que serei titular.
Folha - A Inter fez muitas exigências para liberá-lo para o
amistoso contra a Holanda...
Ronaldo - Houve um mal-entendido geral. O Marcelo Lippi jamais exigiu alguma coisa do
Wanderley (Luxemburgo, técnico
da seleção brasileira).
O Lippi conversou comigo e
disse que era importante dar seguimento ao trabalho de recuperação que iniciamos na Itália. Não
podia chegar aqui na Holanda e
jogar o tempo todo, para voltar
para a Itália arrebentado.
Pedi somente para não exagerar. Joguei apenas 30 minutos na
semana passada (na vitória por 2
a 1 sobre o Piacenza, na qual
marcou o gol da vitória da Inter).
Quero crescer gradativamente.
Folha - E a Copa do Mundo do
ano passado? Você já conseguiu
esquecer o que aconteceu no
dia da final contra a França?
Ronaldo - Acho que todo brasileiro já tentou esquecer a Copa.
Eu, particularmente, já esqueci.
Tenho outros objetivos, como a
Olimpíada de Sydney e, principalmente, a Copa do Mundo de 2002.
Folha - Na sua opinião, qual o
problema que você teve?
Ronaldo - Tive um mal-estar
inexplicável cientificamente.
Pena que foi, por ironia do destino, no dia da final do Mundial.
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