São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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FUTEBOL
Para atleta, casamento e filho vão acelerar recuperação técnica
Ronaldo promete crescer com nova "privacidade"

ALEXANDRE GIMENEZ
enviado especial a Amsterdã

Os leitores das revistas ""conheça a vida dos ricos e famosos" não terão a oportunidade de acompanhar as estripulias da criança que, em 2000, tem tudo para tirar de Sasha Szafir, a filha da apresentadora Xuxa Meneghel, o título de ""bebê mais famoso do Brasil".
O atacante Ronaldo, 23, disse em entrevista exclusiva à Folha, em Amsterdã, que vai preservar a privacidade de seu filho com a modelo Milene Domingues, que deverá nascer em sete meses.
Para o atacante, a paternidade e o casamento com a modelo, marcado para o final do ano, serão passos importantes para ele conquistar o ""direito à privacidade".
Ronaldo disse estar curado das dores no joelho que o afastaram da maioria dos jogos do último Campeonato Italiano, próximo de seu condicionamento físico ideal e pronto para recuperar o título de melhor do planeta, que recebeu da Fifa em 1996 e 1997. ""Quando o meu filho nascer eu já serei novamente o melhor do mundo", disse o jogador, logo na chegada da seleção à Amsterdã.
""Vou dar uma resposta aos que falaram que estava bichado, que minha carreira havia acabado."

Folha - Existe um assédio muito grande em relação a você. Na sua opinião, isso deve aumentar agora com o seu casamento e o nascimento de seu filho?
Ronaldo -
Com certeza, vocês não vão me ver fazendo matérias mostrando o meu filho. Quero preservar a minha família.
De qualquer maneira, meus familiares precisam ter a cabeça no lugar para não exagerarem.

Folha - Como a Milene está lidando com todo o burburinho por causa da gravidez?
Ronaldo -
Ela sabe da responsabilidade que tem agora, dos problemas que podem surgir. A Milene está de acordo com a minha teoria de que precisamos preservar ao máximo a nossa relação.

Folha - Você acha que essa nova situação, casado e pai de uma criança, pode ajudar você a separar o ""Ronaldo público" -um jogador conhecido em todo mundo- do ""Ronaldo privado"? O Pelé faz isso muito bem, até refere-se ao ex-jogador na terceira pessoa...
Ronaldo -
Com certeza vou tentar me preservar mais, pois acho que toda pessoa tem o direito de ter a sua privacidade. Porém pouca gente respeita. O casamento é um passo importante para isso.

Folha - Você tem apenas 23 anos. Ficou surpreso em saber que será pai tão novo assim?
Ronaldo -
Não tinha planejado nada, mas não fiquei surpreso. Foi a coisa mais bonita que aconteceu na minha vida. Toda a minha família, e a da Milene, ficou feliz. Além disso, foi um grande presente de aniversário.

Folha - Você já comprou muitos presentes para o bebê?
Ronaldo -
Fui fazer compras na loja da Nike (seu patrocinador pessoal) em Amsterdã, e peguei um monte de tênis e roupinhas para o neném (sorri).

Folha - Você parece viver um ótimo momento em sua vida pessoal. Isso pode acelerar sua recuperação dentro de campo depois de um ano difícil, com tantas cobranças e contusões?
Ronaldo -
Com certeza isso ajuda. Estou muito bem fora do campo. Nessa situação é muito melhor e mais fácil trabalhar.

Folha - Você sentiu-se mais pressionado com as cobranças na Itália ou no Brasil?
Ronaldo -
A pressão vem do mundo todo, mas eu sempre respondi jogando. O problema é que no último ano eu não joguei para responder a todas as críticas e pressões. Eu não correspondi às expectativas de todos. Agora eu vou poder responder jogando, calando a boca de muita gente.

Folha - E a quem você pretende dar uma resposta primeiro?
Ronaldo -
A todos os que falaram que estava bichado, que a minha carreira havia acabado. Estou totalmente recuperado fisicamente e motivado para trabalhar.

Folha - Mas em nenhum momento você pensou que a sua carreira estava prejudicada?
Ronaldo -
Não, nunca passou pela minha cabeça que a minha carreira estava encerrada. Só ficava preocupado quando o tempo passava e eu não ficava bom.

Folha - Quando você chegou a Amsterdã disse que seria novamente o melhor do mundo antes do nascimento de seu filho, na metade do próximo ano. De onde vem essa confiança?
Ronaldo -
A certeza que tenho vem da minha recuperação física. Um jogador depende de seu corpo. Durante o último ano, tive problemas nos dois joelhos e não pude mostrar o meu futebol.

Folha - E como você avalia seu condicionamento físico atual?
Ronaldo -
Sinto-me como há três anos, antes da eleição da Fifa, quando declarei que iria ganhar o título... e ganhei. Tenho confiança e muita vontade de treinar. Às vezes dá uma dorzinha aqui, outra ali. Mas nunca deixo de treinar.

Folha - Além dos treinos normais, com todo o time, você tem feito trabalhos extras...
Ronaldo -
Preciso manter a rotina, não posso deixar de fazer reforço muscular para os joelhos. Não é todo o dia, mas pelo menos quatros vezes por semana. A causa dos meus problemas no joelho foi um desequilíbrio muscular.

Folha - Você estava muito mal fisicamente no início da preparação para a Copa América, em junho, 8 kg acima do peso...
Ronaldo -
Estava num nível muito baixo. Eu cresci, mas ainda tenho muito a crescer. A estrada é grande. A questão nunca foi o peso, 1 kg a mais não faz diferença para um jogador de futebol. Talvez faça para um piloto de F-1.

Folha - Nas últimas semanas, você ficou afastado dos treinos com bola em Milão, dedicando-se somente a trabalhos físicos?
Ronaldo -
Chegamos ao consenso, com o Marcelo Lippi (técnico da Inter) e com os diretores, que não seria inteligente jogar só 30 minutos e sair de campo por falta de condicionamento. Comecei uma preparação física, uma pré-temporada, para subir gradativamente de produção.

Folha - Sua confiança em sua recuperação poderia ficar abalada se você falhasse nesse começo de temporada por causa da falta de condicionamento?
Ronaldo -
Além de eu ser um jogador técnico, dependo muito da minha condição física. É daí que eu tiro mais vantagem, na velocidade e na força. Falhar no início do campeonato pode tirar a confiança do jogador.

Folha - Você vai continuar no banco de reservas da Inter?
Ronaldo -
O importante é estar bem. Em boas condições, não me importo em ficar no banco de reservas. Vou conquistar meu espaço novamente. Nunca corri de desafios. Gosto deles. Estando bem, tenho certeza de que serei titular.

Folha - A Inter fez muitas exigências para liberá-lo para o amistoso contra a Holanda...
Ronaldo -
Houve um mal-entendido geral. O Marcelo Lippi jamais exigiu alguma coisa do Wanderley (Luxemburgo, técnico da seleção brasileira).
O Lippi conversou comigo e disse que era importante dar seguimento ao trabalho de recuperação que iniciamos na Itália. Não podia chegar aqui na Holanda e jogar o tempo todo, para voltar para a Itália arrebentado.
Pedi somente para não exagerar. Joguei apenas 30 minutos na semana passada (na vitória por 2 a 1 sobre o Piacenza, na qual marcou o gol da vitória da Inter). Quero crescer gradativamente.

Folha - E a Copa do Mundo do ano passado? Você já conseguiu esquecer o que aconteceu no dia da final contra a França?
Ronaldo -
Acho que todo brasileiro já tentou esquecer a Copa. Eu, particularmente, já esqueci. Tenho outros objetivos, como a Olimpíada de Sydney e, principalmente, a Copa do Mundo de 2002.

Folha - Na sua opinião, qual o problema que você teve?
Ronaldo -
Tive um mal-estar inexplicável cientificamente.
Pena que foi, por ironia do destino, no dia da final do Mundial.


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