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TOSTÃO
Evolução
Nota-se, neste Campeonato
Brasileiro, que os técnicos evoluíram muito na parte tática
em relação aos últimos anos e
criaram variações na maneira
de jogar de suas equipes.
O principal motivo dessa evolução foi a vitória passar a valer três pontos.
Entre outras razões, há a
aceitação, pelos técnicos, das
críticas de vários comentaristas
esportivos de que há alguns
anos todos os times jogam em
um só padrão.
O técnico do Cruzeiro, Levir
Culpi, tem alternado a escalação de
sua equipe dependendo do momento
e usado dois ou três
zagueiros, três ou
quatro meio-campistas, dois ou três
atacantes.
Nas últimas partidas, o treinador colocou três zagueiros
e jogadores de
meio-campo no lugar dos laterais, para a função de alas, o
que é mais correto.
O Vasco já atuou com três
atacantes e, com a volta do Felipe, jogou muito bem duas
partidas com apenas um volante. Depois, atuou mal contra o São Paulo e, no último jogo, contra o Flamengo, voltou
a seu padrão antigo, com dois
marcadores no meio-campo.
Antônio Lopes não é mais um
técnico de um só esquema, como dizíamos.
O treinador do São Paulo,
Paulo César Carpegiani, foi
muito criticado por mudar excessivamente seu padrão tático, mas está mostrando, até o
momento, pela boa posição de
sua equipe na tabela, que continua no caminho certo.
O Atlético-PR, dirigido por
Vadão, tradicional adepto do
sistema tático com três zagueiros e dois alas, tem variado, jogando dessa maneira e com o
4-4-2, com sucesso.
O Corinthians, desde o ano
passado com Wanderley Luxemburgo, joga com dois volantes (Rincón e Vampeta),
que defendem e apóiam com
eficiência -o que era ""proibido" no futebol brasileiro. A
equipe foi campeã no ano passado e é líder neste ano. O atual
técnico do time, Oswaldo de
Oliveira, no lugar de colocar
um marcador (Gilmar), para
substituir Rincón ou Vampeta,
como se esperava, preferiu o jovem e promissor Edu.
Luiz Felipe Scolari tem usado
com frequência três atacantes
no Palmeiras, escalando um,
vindo de trás, e mais dois (como a seleção brasileira), ou
dois atacantes pelos flancos e o
terceiro pelo meio.
O Flamengo, dirigido por
Carlinhos, que raramente muda seu esquema tático, entrou
na onda e jogou com três atacantes na quarta-feira, quando
goleou o Universidad do Chile,
por 7 a 0. Será que o técnico vai
ter a mesma ousadia, hoje, contra o
Botafogo-RJ?
O Atlético-MG,
comandado por
Dario Pereyra, embora timidamente,
tem tentado mudar
a escalação do time,
jogando com dois
ou três volantes.
As mesmas mudanças estão acontecendo em todo o futebol
mundial. A Argentina saiu do
tradicional esquema 4-4-2 e
desde a Copa de 98 está jogando à moda européia, com três
zagueiros e dois alas. A Holanda, há muito tempo, joga com
os dois pontas tradicionais e
um centroavante.
Penso que ainda falta aos times brasileiros e estrangeiros a
adoção, com mais frequência,
da marcação por pressão no
campo adversário, como fez a
seleção brasileira no segundo
jogo contra a Argentina, em
Porto Alegre. Escrevi esta coluna antes da partida de ontem,
contra a Holanda.
Esses são apenas alguns
exemplos. Houve uma evolução muito grande -que cobrávamos há muito tempo-
na maneira de jogar.
O padrão vitorioso da Copa
do Mundo de 94, muito utilizado em todo o mundo, principalmente no Brasil, com dois
zagueiros pelo meio, dois laterais apoiando, dois armadores
defensivos e dois ofensivos (um
de cada lado) mais dois atacantes, continua sendo eficiente e uma boa referência, mas
não é mais "o pensamento único" dos treinadores.
O mais importante é que acabou a mesmice dos últimos
anos. Aumentou o número de
gols e melhorou a qualidade
das equipes. Viva a diferença e
a criatividade.
Aparências
No futebol e em toda a sociedade, muitos parecem, mas
não são. Na verdade, a maioria
dos homens coloca uma máscara para viver, já que a total
liberdade de expressão e a realização de todos os desejos são
incompatíveis com a cultura.
Existem jogadores habilidosos que parecem craques, mas
não são; atletas que falam
muito em Deus e em respeito
ao próximo, mas no campo são
os mais desleais; técnicos que
adoram, no discurso, o futebol
ofensivo e sem violência, mas
colocam seus times na defesa e
mandam parar uma jogada de
qualquer maneira; comentaristas que estão sempre justificando e corrigindo suas opiniões quando os fatos os desmentem; dirigentes que se dizem apaixonados por seus clubes, mas estão sempre os prejudicando com suas atitudes;
pessoas que criticam a falta de
ética de políticos, mas frequentemente se comportam da mesma maneira; governantes que
dizem ser social-democratas,
mas sempre protegem os ricos,
fascinados pela economia de
mercado.
Enfim, uns mais, outros menos, somos todos dissimulados,
tentando parecer o que não somos. "Dentro de nós, há uma
coisa que não tem nome, essa
coisa é que somos." (Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.)
Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras
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