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FUTEBOL
O quarto é o segundo terceiro
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Tico e Teco encontram-se nos
amplos corredores da Federação Paulista de Futebol:
- Muito bom-dia, senhor diretor de regulamentos para certames ludopédicos.
- Bom-dia, senhor diretor-assistente-adjunto para tabelas de
jogos.
- Me chame de Tico, Teco.
- Me chame de Teco, Tico.
- E aí, Teco, acompanhou a
rodada desse fim de semana?
- Claro, Tico, desde que nós fizemos aquelas regras, eu fico sempre querendo ver quais serão os
dois terceiros colocados que vão
se classificar para a próxima fase.
- Que dois terceiros, Teco?
- Ué, não se classificam os dois
melhores terceiros colocados, que
hoje seriam Portuguesa Santista e
Corinthians?
- Será possível, Teco, que você
não se lembra nem do regulamento que você mesmo ajudou a
escrever?
- Não estou entendendo, Tico.
- Eu desconfiava disso. Use esse cérebro que está embaixo dessa
cartola. No regulamento está escrito que, além dos dois primeiros
colocados de cada grupo, classificam-se "as duas (02) associações
melhores colocadas por índice
técnico independente do grupo a
que pertença." Ou seja, os dois
classificados extras podem ser do
mesmo grupo. Entendeu?
- Ainda não, Tico.
- Eu explico, Teco, eu explico.
É que não está escrito que os dois
melhores terceiros serão os classificados. A confusão que armamos
naquele texto é tamanha que, no
fim das contas, um quarto colocado pode ter feito mais pontos que
os outros dois terceiros. É o que está acontecendo hoje, aliás.
- Estou ficando com dor de cabeça, Tico...
- Veja bem, Teco: hoje os terceiros seriam Palmeiras, Portuguesa Santista e Corinthians. O
Palmeiras, como tem menos pontos que esses dois, cairia fora.
- Aí a Portuguesa Santista e o
Corinthians iriam para o mata-mata, não é isso, Tico?
- A Portuguesa Santista sim, o
Corinthians não.
- Ai, ai...
- É que o Santo André, que é o
quarto colocado do Grupo 2, teria
o mesmo número de vitórias, mas
um saldo de gols melhor que o do
Corinthians. Como essa história
de dois terceiros não está no regulamento, o Santo André, que é o
primeiro entre os quartos, passaria à fase seguinte, enquanto o
Corinthians, o segundo entre os
terceiros, ficaria fora.
- Jura, Tico?
- Juro, Teco.
- Mas vai ser muito azar se um
quarto terminar na frente de um
terceiro, Tico.
- Isso não é com a gente, Teco,
nosso trabalho é criar tabelas e regulamentos absurdos.
- Agora eu estou pensando...
- Vá com calma.
- ... se as coisas são assim mesmo, o empate é o pior resultado
que pode haver no campeonato.
- Brilhante, Teco, brilhante!
Porque com empates haverá menos pontos dentro do grupo. Além
disso, como o Grupo 2 tem pelo
menos duas babas (o Juventus e a
Inter de Limeira), os demais times
estão se aproveitando disso para
abrir uma boa margem de pontos
e de gols. Isso pode ser determinante na hora de se definir quem
continua respirando, quem desaparece no Limbo e quem se afunda no Torneio da Morte.
- Nós fizemos mesmo esse regulamento, Tico?
- Fizemos, Teco.
- Puxa vida, Tico, acho que
dessa vez merecemos aplausos.
- Aplausos e aumento, Teco.
F
Felisberto, apesar do nome,
era um infeliz, um pé-frio,
um caipora. Nunca ganhou
uma aposta e nem há loteria
ou carteado em que tenha se
dado bem. Até no par ou ímpar era um fracasso. Para ele,
todos os jogos eram de azar.
Porém Felisberto era um excelente meia-direita. Fazia
belos lançamentos, corria
com elegância e driblava com
facilidade. Sob seu comando,
o Ferradura Atlético Clube
invariavelmente chegava às
finais do campeonato municipal da encantadora Xangri-Lá, no Rio Grande do Sul.
Mas aí, é claro, sempre perdia. Depois de 12 vice-campeonatos, Felisberto decidiu
que dessa vez não jogaria a final. Ficaria no banco. E o Ferradura, é claro, conquistou a
taça. Hoje, sempre que Felisberto olha para aquele solitário troféu em sua estante,
uma lágrima rola por sua face. E ninguém sabe se é de
tristeza ou de alegria.
E-mail torero@uol.com.br
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