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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

O quarto é o segundo terceiro

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Tico e Teco encontram-se nos amplos corredores da Federação Paulista de Futebol:
- Muito bom-dia, senhor diretor de regulamentos para certames ludopédicos.
- Bom-dia, senhor diretor-assistente-adjunto para tabelas de jogos.
- Me chame de Tico, Teco.
- Me chame de Teco, Tico.
- E aí, Teco, acompanhou a rodada desse fim de semana?
- Claro, Tico, desde que nós fizemos aquelas regras, eu fico sempre querendo ver quais serão os dois terceiros colocados que vão se classificar para a próxima fase.
- Que dois terceiros, Teco?
- Ué, não se classificam os dois melhores terceiros colocados, que hoje seriam Portuguesa Santista e Corinthians?
- Será possível, Teco, que você não se lembra nem do regulamento que você mesmo ajudou a escrever?
- Não estou entendendo, Tico.
- Eu desconfiava disso. Use esse cérebro que está embaixo dessa cartola. No regulamento está escrito que, além dos dois primeiros colocados de cada grupo, classificam-se "as duas (02) associações melhores colocadas por índice técnico independente do grupo a que pertença." Ou seja, os dois classificados extras podem ser do mesmo grupo. Entendeu?
- Ainda não, Tico.
- Eu explico, Teco, eu explico. É que não está escrito que os dois melhores terceiros serão os classificados. A confusão que armamos naquele texto é tamanha que, no fim das contas, um quarto colocado pode ter feito mais pontos que os outros dois terceiros. É o que está acontecendo hoje, aliás.
- Estou ficando com dor de cabeça, Tico...
- Veja bem, Teco: hoje os terceiros seriam Palmeiras, Portuguesa Santista e Corinthians. O Palmeiras, como tem menos pontos que esses dois, cairia fora.
- Aí a Portuguesa Santista e o Corinthians iriam para o mata-mata, não é isso, Tico?
- A Portuguesa Santista sim, o Corinthians não.
- Ai, ai...
- É que o Santo André, que é o quarto colocado do Grupo 2, teria o mesmo número de vitórias, mas um saldo de gols melhor que o do Corinthians. Como essa história de dois terceiros não está no regulamento, o Santo André, que é o primeiro entre os quartos, passaria à fase seguinte, enquanto o Corinthians, o segundo entre os terceiros, ficaria fora.
- Jura, Tico?
- Juro, Teco.
- Mas vai ser muito azar se um quarto terminar na frente de um terceiro, Tico.
- Isso não é com a gente, Teco, nosso trabalho é criar tabelas e regulamentos absurdos.
- Agora eu estou pensando...
- Vá com calma.
- ... se as coisas são assim mesmo, o empate é o pior resultado que pode haver no campeonato.
- Brilhante, Teco, brilhante! Porque com empates haverá menos pontos dentro do grupo. Além disso, como o Grupo 2 tem pelo menos duas babas (o Juventus e a Inter de Limeira), os demais times estão se aproveitando disso para abrir uma boa margem de pontos e de gols. Isso pode ser determinante na hora de se definir quem continua respirando, quem desaparece no Limbo e quem se afunda no Torneio da Morte.
- Nós fizemos mesmo esse regulamento, Tico?
- Fizemos, Teco.
- Puxa vida, Tico, acho que dessa vez merecemos aplausos.
- Aplausos e aumento, Teco.

F
Felisberto, apesar do nome, era um infeliz, um pé-frio, um caipora. Nunca ganhou uma aposta e nem há loteria ou carteado em que tenha se dado bem. Até no par ou ímpar era um fracasso. Para ele, todos os jogos eram de azar. Porém Felisberto era um excelente meia-direita. Fazia belos lançamentos, corria com elegância e driblava com facilidade. Sob seu comando, o Ferradura Atlético Clube invariavelmente chegava às finais do campeonato municipal da encantadora Xangri-Lá, no Rio Grande do Sul. Mas aí, é claro, sempre perdia. Depois de 12 vice-campeonatos, Felisberto decidiu que dessa vez não jogaria a final. Ficaria no banco. E o Ferradura, é claro, conquistou a taça. Hoje, sempre que Felisberto olha para aquele solitário troféu em sua estante, uma lágrima rola por sua face. E ninguém sabe se é de tristeza ou de alegria.

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