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Seleção esvazia o guaraná e enche a bola da cerveja
Originalmente assinado para promover refrigerante,
contrato CBF-AmBev usa imagem do time para vender bebidas alcoólicas em amistosos como o de Hong Kong
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
No início, era estratégia para
ajudar a vender guaraná. Hoje, a
seleção brasileira está a serviço da
AmBev para faturar com amistosos e promover cerveja.
No amistoso que tem direito
por contrato a explorar a cada
ano, a gigante de bebidas esqueceu o produto não-alcóolico que
é, afinal, o que a empresa escolheu
para estampar as camisas de treino e painéis publicitários do time.
Em seu lugar, muita cerveja,
agrado a parceiros e cotas milionárias. O ápice dessa estratégia
aconteceu anteontem, na goleada
de 7 a 1 sobre Hong Kong na Ásia.
A AmBev recebeu US$ 1 milhão
(R$ 2,6 milhões) da Carlsberg,
cervejaria dinamarquesa que representa na América Latina.
O jogo foi uma "festa etílica"
usando a imagem da seleção, ou
bem diferente do início da associação da empresa com a CBF -o
contrato foi assinado em 2001.
Em 2002, primeira temporada
em que pôde fazer o amistoso, a
AmBev levou a seleção a Portugal
em um ambicioso projeto de aumentar a participação do guaraná
Antarctica no mercado europeu.
De lá para cá, a estratégia mudou. A cerveja passou a aparecer
ao lado do refrigerante como
apoiadora do time -em placas
na Granja Comary, por exemplo.
No segundo ano da parceria, a
AmBev fez um jogo no México e
levou parceiros no ramo de cerveja na América Central. Em 2004,
escolheu a seleção da Catalunha,
que nem é reconhecida pela Fifa.
Em janeiro do ano passado, um
anúncio publicitário com os dizeres "A seleção brasileira é Brahma" causou mal-estar entre a CBF
e a empresa. O fato fez a confederação dizer que só se sentia identificada com o guaraná Antarctica".
Em Hong Kong, a AmBev colocou mais uma vez a serviço da cerveja o canal publicitário que escolheu para promover guaraná. Tudo girou em torno de marcas da
bebida alcoólica em Hong Kong.
A AmBev tinha o direito de explorar as placas publicitárias em
um lado do gramado. Poderia tê-las colocado à venda ou utilizá-las
para promover seu guaraná, mas
preferiu ostentar uma das suas
marcas de cerveja, a Brahma. Fez
o mesmo no espaço a que teve direito no banner que estava atrás
da mesa onde Carlos Alberto Parreira deu uma entrevista coletiva.
Promotora do jogo, a parceira
Carlsberg estava por todos os cantos do estádio, a começar das placas à beira do campo.
Na sela de entrevista, mais
exemplos da associação de cerveja com a seleção. Parreira falou
com nove garrafas de Carlsberg à
sua frente. Nessas ocasiões, costuma-se colocar garrafas de água ou
do hoje esquecido guaraná.
Ronaldinho, principal astro do
time na excursão, também teve
sua imagem ligada ao álcool. Ao
final do jogo, depois que o Brasil
ganhou a "Carlsberg Cup", ele recebeu uma garrafa gigante com o
logotipo da empresa e foi filmado
pelas câmaras. "Era para comemorar o Ano Novo chinês", disse.
Em alguns jogos das eliminatórias, membros da seleção não deram entrevistas nos estádios por
serem obrigados a fazê-lo diante
de painéis publicitários de concorrentes de produtos da AmBev.
Criticada por muitos, a associação entre esporte e cerveja pode
ser deseducativa, mas não é ilegal,
ao menos no Brasil. A lei que restringe a propaganda de bebidas
alcóolicas só considera sujeitas às
suas regras aquelas cujo teor alcoólico supere 13 graus. Nenhuma das maiores marcas de cerveja
do país alcança a metade disso.
Já o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária
proíbe propaganda de cerveja em
uniformes de modalidades olímpicas e diz que campanhas devem
ser voltadas para adultos.
Na América Latina, a restrição à
exposição de logomarcas de cerveja em uniformes é quase exclusividade brasileira. Seleções e clubes do continente são patrocinados por fabricantes da bebida. Na
Europa, sem que apareçam em
uniformes, a Carlsberg apóia a Inglaterra, e a Sagres, Portugal.
Com a Reportagem Local
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