São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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Espanha que paga pouco é invadida por brasileiros

Peso espanhol na exportação de atletas nacionais mais do que dobra em 5 anos

Brasil mandou 38 atletas para o país europeu em 2007, a maioria para clubes da 4ª divisão, onde o salário quase nunca chega a 1 mil


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Espanha não quer mais brasileiros para trabalhar como garçom ou pedreiro. Mas vagas mal remuneradas para jogadores de futebol do maior país da América do Sul não faltam.
Em cinco anos, a participação do mercado espanhol na exportação de atletas nacionais pulou de 1,4% para 3,5%, segundo dados oficiais da CBF. Foram só nove jogadores em 2002 e 38 no ano passado, um crescimento de 322%, contra 60% do resto do mundo.
A Espanha passou no período do 19º para o 5º lugar no ranking de maiores importadores de boleiros brasileiros.
Com outros grandes mercados europeus aconteceu o contrário. A Itália era o destino de 5% das exportações brasileiras em 2002. Em 2007, respondeu por 4,3%. No caso da Alemanha esses números foram, respectivamente, de 6,7% e 4%. Na Inglaterra, 1% e 0,6%.
Mas o perfil do jogador brasileiro desejado hoje pelos clubes espanhóis tem muito pouco de Robinho ou Ronaldinho, com seus milionários salários, e bastante dos brasileiros barrados no aeroporto de Barajas.
Só 5 dos 38 atletas exportados no ano passado foram para clubes da primeira divisão. Mais de 70% deles foram para times da terceira ou quarta divisão e até ligas regionais -a Espanha tem um sistema de acesso e descenso envolvendo cerca de 500 clubes.
Justamente competições em que a remuneração só encolhe.
O torneio equivalente à terceira divisão, para onde foram mais de 20 brasileiro no ano passado, tinha na década passada salários que chegavam até a 18 mil anuais, quase R$ 44 mil. Hoje, os jogadores mais valorizados recebem 12 mil (menos de R$ 31 mil anuais).
Mas existem relatos de penúria absoluta, com atletas ganhando por mês 200 (pouco mais de R$ 500). Um clube de Logroño liberou todos os jogadores de cumprir o contrato por falta de meios para pagá-los. As dívidas trabalhistas e fiscais desses times pequenos crescem em ritmo elevado.
Como mostrou a Folha na edição de ontem, é possível encontrar trabalho de garçom para um brasileiro recém-chegado na Espanha com um salário de 800.
Com esse cenário, é cada vez mais comum atletas que atuam nessas divisões terem que arrumar uma outra atividade profissional.
A lista de clubes espanhóis que importaram brasileiros tem nomes totalmente desconhecidos, como Union Villalba, Baenta Atletico e Martos.
Dificilmente eles pagam algo para os clubes nacionais. Contratam jogadores brasileiros sem contrato em vigor ou ligados a empresários.
Também é bastante variada em termos geográficos. Clubes da Galícia, Andaluzia e até das Ilhas Canárias.
Os brasileiros não são o único grande grupo de jogadores nos clubes de divisões menores da Espanha. Argentinos e marroquinos também têm um número grande de representantes em clubes da terceira e quarta divisão do país europeu.


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