São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009

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MOTOR

A volta do patinho feio


Ferrari de hoje lembra aquela dos anos de jejum, em que era uma equipe simpática de passado glorioso e nada mais


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

POR 20 ANOS, a Ferrari foi uma espécie de clown na F-1. Um Giovannone do conterrâneo Fellini, "que parece um patinho feio (...) e por isso quebra os pratos, se retorce no chão, se atira baldes d'água no rosto", como o gênio definiu o personagem do belíssimo "I Clown", traduzido aqui como "Os Palhaços".
De 1979 a 1999, foi uma Portuguesa, um Juventus. Aquele time charmoso, que já viveu seus momentos de glória, e simpático porque geralmente pouco competitivo, azarado. E não adiantava contratar estrelas. De vermelho, Mansell não fez mais que o quarto lugar no Mundial. Prost foi vice em 90, mas vice é vice, é apenas um "quase lá", é clown.
Não adiantava porque o buraco era mais em cima, era na cúpula, era de homens como Cappelli, Fiorio, Lombardi, Ghedini, gente cuja maior qualidade era ser "da casa". A situação começou a mudar em 93, quando Montezemolo contratou um certo Todt para a chefia. Ganhou ares mais sérios quando o francês puxou Schumacher, Brawn e Byrne, em 95/96. E o clown perdeu a graça, Giovannone virou Theodore, quatro anos depois, com o primeiro dos cinco títulos do alemão por Maranello. Mas pessoas cansam, mudam de ideias, têm a estranha mania de buscar coisas novas. E, após anos de domínio ferrarista, o grupo começou a se esfacelar, os personagens começaram, um a um, a sair de cena.
Falta de memória, impotência ou soberba, a Ferrari deixou. Deu nisso. Deu numa equipe que em 2008 inventou o pirulito-eletrônico, que errou no motor, no escapamento... Deu numa equipe que, nos dois GPs de 2009, foi um desastre. Que se embananou nos compostos na Austrália. Que arrasou com as chances de Massa no grid de Sepang. Que fez uma aposta em pneus de chuva para o finlandês quando estava... seco!
Uma comédia de erros, à la Giovannone, a ponto de a cena ferrarista de domingo ter sido Raikkonen chupando picolé. Uma situação da qual a Ferrari deveria tentar fugir, mas na qual só se afunda mais. Pior: achando que está fazendo certo. Só faltam o toque das cornetas, o picadeiro vazio, a saída de cena...


No primeiro treino no Qatar, deu Stoner, seguido por Rossi. Este deve ser o duelo em 2009, com o italiano, por ora, atrás. No mês passado, o australiano levou uma BMW pelo "título" da pré-temporada.


A Stock jura ter corrigido a falha de fixação nos capôs. A ver, tem etapa em Curitiba amanhã. E, se os carros não desmancharem, a próxima atitude poderia ser definir de uma vez o calendário. Antes que ele acabe.

PALPITE
Os difusores serão proibidos, mas Honda, Williams e Toyota manterão os pontos já conquistados.
fabio.seixas@grupofolha.com.br


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