São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009

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Júri de Miami adia veredicto de Castro Neves

Piloto brasileiro da Indy acompanhou julgamento das acusações de fraude fiscal rezando, cabisbaixo e com um terço nas mãos

ELOISA LOPEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MIAMI

Terno verde, camisa branca, gravata azul e um terço que zanzava de uma mão a outra, Hélio Castro Neves, 33, era só agonia na Corte Federal de Miami, ontem, primeiro dia de deliberações do júri sobre as acusações a que responde, de fraude fiscal. Para ouvir, ao fim do dia, que o veredicto só deve acontecer na próxima semana.
Após duas horas discutindo o caso, os jurados pediram à Promotoria esclarecimentos sobre um termo usado na acusação, "constructive receipt of income", doutrina tributária que estabelece o momento em que o imposto de renda é devido -usada em situações de receitas ainda a serem creditadas.
Como os promotores não conseguiram elaborar uma explicação que satisfizesse o júri, a sessão foi interrompida e só vai ser retomada às 8h (9h de Brasília) de segunda-feira.
Brasileiro, piloto da Indy, bicampeão das 500 Milhas de Indianápolis e celebridade nos Estados Unidos após vitória no reality show "Dancing with the Stars", em 2007, Castro Neves é acusado de fraudar o governo americano em US$ 5,5 milhões em impostos, além de outros seis crimes de evasão fiscal.
Sua irmã e empresária, Katiucia, e seu ex-advogado, Alan Miller, acusados de cumplicidade, também são julgados.
Se forem condenado por todos os crimes, eles podem pegar até 35 anos de prisão.
Os 12 jurados, porém, só irão se pronunciar quando chegarem a uma decisão unânime. Caso os réus sejam considerados culpados, o juiz Donald Graham vai então marcar uma data para revelar a sentença.
Procedimentos que prolongarão a ansiedade de Castro Neves, estado visível, flagrante.
Na manhã de ontem, antes de entrar na sala do tribunal e ouvir os argumentos finais da defesa e da Promotoria, o piloto, em silêncio, olhava pelas amplas janelas de vidro do 13º andar do prédio da Corte Federal de Miami, no centro da cidade.
Isolado da família, que se encontrava do outro lado do saguão, ele esperava impacientemente pelo que poderia ser o seu último dia de julgamento.
Sessão iniciada, com a sala repleta de amigos e parentes do piloto, a acusação não poupou os réus. As palavras "fraude" e "conspiração" eram repetidas a todo momento. O promotor-assistente Matthew Axelrod chegou a descrever Castro Neves e seus parceiros como "pessoas que tinham tudo, mas que não estavam satisfeitas".
No auditório, a mãe de Hélio e Katiucia tinha uma Bíblia aberta nos joelhos e rezava silenciosamente com um terço nas mãos. O pai, que assumiu ser o autor das fraudes e que, por morar no Brasil, estaria temporariamente a salvo da Justiça americana, entrava e saía da sala a todo instante.
Após uma pausa para o almoço, começaram as deliberações do júri. Foi quando Castro Neves assumiu o terço antes usado pela mãe e, rezando cabisbaixo, esperou as horas passarem. Katiucia enfrentou a tarde de maneira diferente: sorridente, conversava com amigos.
Na saída, com o impasse sobre o termo jurídico, Castro Neves fez um sinal de positivo para policiais na porta do tribunal e, chorando e soluçando, falou com a imprensa. "É uma injustiça o que estão fazendo comigo", disse, antes de ser amparado pela irmã e pelos pais.


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