São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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TOSTÃO

Momentos que mudam a história


Há vários tipos de artilheiros: os grossos, os que têm talento para fazer gols e os raros craques-artilheiros


RECENTEMENTE, escrevi um texto sobre o passe para a revista "Serrote", uma publicação do Instituto Moreira Salles. No domingo passado, neste espaço, falei sobre o drible. Hoje, escrevo sobre o gol e os artilheiros. Como disse Soninha, alguns gols deveriam valer dois, e outros, meio.
Há vários tipos de artilheiros. Um é o centroavante grosso, que domina a bola com a canela, que raramente dá um passe além do óbvio e que dificulta as jogadas ofensivas. Nunca quer receber a bola livre, para não se atrapalhar. Prefere o contato físico para fazer um gol na força. Quando não faz gols, é o pior do time.
De vez em quando, ele empurra a bola para dentro do gol. Aí são chamados de decisivos, falam que eles têm faro, cheiro de gol, e que a bola procura o artilheiro.
Tenho uma antiga teoria de que, se escalarem um zagueiro de centroavante, ele também vai fazer um gol de dois ou de três em três jogos. Se for um Miranda, dará ainda ótimos passes para gols.
Outro tipo de centroavante é o que tem grande talento, mas só para fazer gols. São craques dentro da área. Em pequenos espaços e em fração de segundos, giram e finalizam muito bem. São ótimos no jogo aéreo e fazem também a função de pivôs. Drogba, Fernando Torres, Luis Fabiano, Ibrahimovic, Adriano e outros são grandes destaques mundiais.
Há ainda os craques-artilheiros. São pouquíssimos. Além de fazerem gols, muitos belíssimos, eles driblam, dão excepcionais passes e se movimentam bastante. Podem ser centroavantes, como Romário e Ronaldo, ou meias-atacantes, pontas de lança ou segundos atacantes, como Zico, Pelé, Messi e outros. Alguns brilham de centroavante ou de segundo atacante, como Rooney.
É muito difícil dizer se alguns artilheiros são craques, talentosos ou grossos.
Washington não é grosso nem craque. Ele tem talento dentro da área. Uns acham que ele é grosso. O que não se pode é confundir o craque com o grosso. Alguns grossos têm momentos de craques.
Messi tem sido comparado a Maradona. Ronaldinho, quando foi, por duas vezes seguidas, o melhor do mundo, atingiu também esse nível. Como seu esplendor técnico durou pouco, ele perdeu esse lugar na história.
Messi tem grandes chances de ser um fenômeno por muito tempo. Ele atingiu o auge mais jovem, é artilheiro e tem um estilo agressivo, como tinham Pelé e Maradona. Parafraseando Renato Russo, os três jogam como se não houvesse outro jogo. Pelé ficava possesso quando era muito marcado, e seu time perdia a partida.
Se a Argentina for campeã do mundo, Messi poderá até suplantar Maradona, ainda mais se fizer um gol espetacular, como o de Maradona, em 1986.
Se a Argentina não chegar à final da Copa do Mundo, o que é muito mais provável, as chances de Messi ser o craque do Mundial da África do Sul são mínimas. Aí vão dizer que ele fracassou. Muitos já vão falar isso se o Barcelona for eliminado da Copa dos Campeões da Europa pela Inter de Milão.
Por causa de certos momentos, pequenos detalhes técnicos e acasos, muda-se a história do futebol, do mundo e de nossas vidas.


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