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FÁBIO SEIXAS
Cabeça de Vaca
Enquanto vibra com Alonso, Barcelona deve esquecer os 50 anos da morte do primeiro espanhol de destaque na F-1
NÃO é coincidência que, no
ano da aposentadoria de
Schumacher, a Alemanha tenha perdido um de seus GPs. Assim
como não é coincidência que, de
bandeja e sopetão, a Espanha de
Alonso tenha recebido ontem a notícia de uma segunda prova, em Valencia. Sob a égide de Ecclestone, a
F-1 vai aonde o dinheiro está. Ou,
fruto do faro apurado do inglês, para
onde um dia, quem sabe, pode estar.
Já foi provado no esporte que
grandes personagens geram investimentos, fazem brotar eventos
-lembre-se do que ocorreu com o
tênis por aqui nos anos dourados de
Guga. Até Alonso aparecer, a Espanha nunca havia dado nem recebido
muita bola da F-1. E, quando ele apareceu, era uma dureza buscar referências sobre espanhóis do passado.
A ocasião, o GP da Malásia de
2003. Pole no sábado, terceiro lugar
no domingo. A dúvida na sala de imprensa de Sepang: "Quem foi o último espanhol num pódio?" Alguém
pesquisou e lançou: "Cabeza de Vaca". "Ahn? Quem? Cabeça do quê?"
Se na semana passada esta coluna
versou sobre a falta de memória recente da categoria, o que dizer de
acontecimentos de décadas atrás?
Pois amanhã, 12 de maio, enquanto Barcelona estiver fervendo com
cem mil torcedores empurrando
Alonso para a pole position e vibrando com o presente dado por Ecclestone, acredito que ninguém no circuito, ninguém, lembrará dos 50
anos da morte de Alfonso Antonio
Vicente Eduardo Ángel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y
Leighton, o 17º marquês de Portago.
Sua história é curiosa, até pela
comparação com o presente. O primeiro espanhol a subir num pódio
da F-1 era tão diferente do bicampeão que, em vez de provocar o surgimento de uma prova, causou o fim
de uma das mais célebres disputas
do esporte a motor, a Mille Miglia.
A começar pela origem. Filho de
um nobre espanhol com uma irlandesa, Alfonso, chamemos-o assim,
nasceu em Londres, cresceu em
Biarritz, mas tinha nacionalidade
espanhola. Destacou-se em corridas
de cavalo, em acrobacias aéreas e até
no bobsled (foi membro de equipe
olímpica) antes de conhecer um importador da Ferrari em Nova York e
aceitar o convite para correr a mítica
Carrera Panamericana, no México.
Tomou gosto pelo cheiro da gasolina, comprou um F-1 em Maranello
e começou a disputar provas de estrada pela Europa, com bons resultados. A ponto de, em 1956, ser inscrito pelo comendador como o sexto
piloto oficial do time no Mundial.
Em Silverstone, naquele ano, Alfonso foi segundo, dividindo o volante com Peter Collins, o tal primeiro pódio espanhol. Em 12 de
maio de 1957, uma semana antes de
Mônaco, estava correndo a italiana
Mille Miglia quando sofreu um acidente, fruto de um furo no pneu
quando cruzava um vilarejo.
Morreram ele, o navegador e dez
torcedores -outros 20 ficaram feridos. Nunca mais a prova aconteceu.
fseixas@folhasp.com.br
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