São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÁBIO SEIXAS

Cabeça de Vaca

Enquanto vibra com Alonso, Barcelona deve esquecer os 50 anos da morte do primeiro espanhol de destaque na F-1

NÃO é coincidência que, no ano da aposentadoria de Schumacher, a Alemanha tenha perdido um de seus GPs. Assim como não é coincidência que, de bandeja e sopetão, a Espanha de Alonso tenha recebido ontem a notícia de uma segunda prova, em Valencia. Sob a égide de Ecclestone, a F-1 vai aonde o dinheiro está. Ou, fruto do faro apurado do inglês, para onde um dia, quem sabe, pode estar.
Já foi provado no esporte que grandes personagens geram investimentos, fazem brotar eventos -lembre-se do que ocorreu com o tênis por aqui nos anos dourados de Guga. Até Alonso aparecer, a Espanha nunca havia dado nem recebido muita bola da F-1. E, quando ele apareceu, era uma dureza buscar referências sobre espanhóis do passado. A ocasião, o GP da Malásia de 2003. Pole no sábado, terceiro lugar no domingo. A dúvida na sala de imprensa de Sepang: "Quem foi o último espanhol num pódio?" Alguém pesquisou e lançou: "Cabeza de Vaca". "Ahn? Quem? Cabeça do quê?" Se na semana passada esta coluna versou sobre a falta de memória recente da categoria, o que dizer de acontecimentos de décadas atrás?
Pois amanhã, 12 de maio, enquanto Barcelona estiver fervendo com cem mil torcedores empurrando Alonso para a pole position e vibrando com o presente dado por Ecclestone, acredito que ninguém no circuito, ninguém, lembrará dos 50 anos da morte de Alfonso Antonio Vicente Eduardo Ángel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton, o 17º marquês de Portago. Sua história é curiosa, até pela comparação com o presente. O primeiro espanhol a subir num pódio da F-1 era tão diferente do bicampeão que, em vez de provocar o surgimento de uma prova, causou o fim de uma das mais célebres disputas do esporte a motor, a Mille Miglia.
A começar pela origem. Filho de um nobre espanhol com uma irlandesa, Alfonso, chamemos-o assim, nasceu em Londres, cresceu em Biarritz, mas tinha nacionalidade espanhola. Destacou-se em corridas de cavalo, em acrobacias aéreas e até no bobsled (foi membro de equipe olímpica) antes de conhecer um importador da Ferrari em Nova York e aceitar o convite para correr a mítica Carrera Panamericana, no México.
Tomou gosto pelo cheiro da gasolina, comprou um F-1 em Maranello e começou a disputar provas de estrada pela Europa, com bons resultados. A ponto de, em 1956, ser inscrito pelo comendador como o sexto piloto oficial do time no Mundial. Em Silverstone, naquele ano, Alfonso foi segundo, dividindo o volante com Peter Collins, o tal primeiro pódio espanhol. Em 12 de maio de 1957, uma semana antes de Mônaco, estava correndo a italiana Mille Miglia quando sofreu um acidente, fruto de um furo no pneu quando cruzava um vilarejo. Morreram ele, o navegador e dez torcedores -outros 20 ficaram feridos. Nunca mais a prova aconteceu.

fseixas@folhasp.com.br


Texto Anterior: Pan-2007: Obras do parque aquático são paralisadas
Próximo Texto: O que ver na TV
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.