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Braguinha, voz viva da Copa de 58, revê criação
Locutor que narrou o título da seleção na Suécia admite a fantasia de imagens
Para jornalista, imagem marcante da Copa não foi um gol, mas reação de Didi após o Brasil sair perdendo na final contra a Suécia
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
""O locutor esportivo era mais
um criador, formava imagens
que muitas vezes não eram correlatas com os fatos. Às vezes, a
partida era uma porcaria, mas
era irradiada com vibração, havia sempre uma paixão acima
do normal na transmissão."
Quem diz isso é Braga Júnior, o Braguinha, locutor esportivo de rádio que trabalhou
na Copa de 1958 e que, aos 75
anos, ainda esbanja um vozeirão ao atender a Folha em seu
apartamento em São Paulo.
""Pelo que dizem, eu sou o
único [locutor de rádio brasileiro na Copa-58 ainda vivo]."
Advogado, ele teve seu grande batismo nos microfones na
primeira Copa conquistada pelo Brasil. ""Fui pé-quente", diz.
""Fiz curso de direito na PUC
e depois comecei a discutir o
rádio, o que ele deveria fazer. O
locutor tinha a obrigação de fazer um espetáculo, de inventar,
de fazer uma fantasia, sobretudo porque, se o camarada irradiasse triste, se retratasse fielmente um jogo horrível, seria
demitido", fala Braguinha.
E um superior dele na Copa
de 1958 era ""só" Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na Suécia.
""Ele era meu chefe, mas devo
dizer que estive com ele só uma
vez na Copa, para resolver um
problema criado na equipe. Só
fui rever o doutor Paulo 40 dias
depois. Pedi férias após a Copa
e passei 30 dias na Europa."
Braga Júnior narrou o Mundial quase cinqüentão pela
paulista Rádio Record em cadeia com a Rádio Globo do Rio.
""Eu representava a Record a
mando do Paulo Machado de
Carvalho. Pela Globo, deveria
irradiar o Mário Garcia, mas
ele brigou com o chefe da equipe. Pegaram o segundo locutor
deles, o baiano Carlos Lima. Eu
e ele fomos com a incumbência
de irradiar, meio tempo de cada um, as partidas da Copa."
A cobertura era bastante
parcial e parceira do chefe da
delegação? ""Quando tratava-se
de seleção brasileira, claro que
estava vestido com a camisa da
equipe. O resto era só o resto.
Sobre o doutor Paulo, por ele
ser dono de um império de rádio e TV, era sempre potencialmente um futuro patrão. Os
jornalistas tinham que considerar isso e o respeitavam."
Com 25 anos na Copa-58,
Braguinha testemunhou a proximidade de integrantes da imprensa com a cúpula da seleção. ""O Paulo, inteligente, cercou-se de três jornalistas: Ary
Silva, Flávio Iazzetti e Paulo
Planet Buarque. A esse grupo,
juntaram-se Nilton Santos, Didi e Feola. Conversavam entre
eles. Didi e Nilton Santos, jogadores fantásticos e pessoas maravilhosas, tinham grande influência na formação do time."
Narrar aquele que para muitos foi o melhor time da história dispensou até a fantasia.
""Tive oportunidades melhores para inventar irradiando. O
Brasil tinha um time excelente,
com jogadores excepcionais
em todas as posições. Estava
muito bem preparado, endurecido. Atribuo muito do título ao
Garrincha, o melhor jogador
brasileiro de seleção, no conjunto da obra", diz Braguinha.
Uma narração marcante não
foi a de um gol, foi a de um gesto: ""Quando levou o primeiro
gol da Suécia, o Brasil poderia
ter dado uma degringolada,
mas Didi pegou a bola no fundo
da rede e a colocou no meio-campo, foi uma reação máscula. O Brasil tinha aquela coisa
antes de se deixar levar. Mas
reagiu, empatou e dominou
amplamente o time sueco."
O melhor jogo para narrar?
""Brasil x França. O primeiro
tempo foi de arrepiar cabelos."
E deu mesmo emoção no final? ""Foi uma coisa inusitada,
uma grande emoção. O pessoal
recebendo medalhas de ouro, o
rei da Suécia, o hino nacional...
A partir dali se construiu o império do futebol brasileiro."
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