São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Braguinha, voz viva da Copa de 58, revê criação

Locutor que narrou o título da seleção na Suécia admite a fantasia de imagens

Para jornalista, imagem marcante da Copa não foi um gol, mas reação de Didi após o Brasil sair perdendo na final contra a Suécia


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

""O locutor esportivo era mais um criador, formava imagens que muitas vezes não eram correlatas com os fatos. Às vezes, a partida era uma porcaria, mas era irradiada com vibração, havia sempre uma paixão acima do normal na transmissão."
Quem diz isso é Braga Júnior, o Braguinha, locutor esportivo de rádio que trabalhou na Copa de 1958 e que, aos 75 anos, ainda esbanja um vozeirão ao atender a Folha em seu apartamento em São Paulo.
""Pelo que dizem, eu sou o único [locutor de rádio brasileiro na Copa-58 ainda vivo]."
Advogado, ele teve seu grande batismo nos microfones na primeira Copa conquistada pelo Brasil. ""Fui pé-quente", diz.
""Fiz curso de direito na PUC e depois comecei a discutir o rádio, o que ele deveria fazer. O locutor tinha a obrigação de fazer um espetáculo, de inventar, de fazer uma fantasia, sobretudo porque, se o camarada irradiasse triste, se retratasse fielmente um jogo horrível, seria demitido", fala Braguinha.
E um superior dele na Copa de 1958 era ""só" Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na Suécia.
""Ele era meu chefe, mas devo dizer que estive com ele só uma vez na Copa, para resolver um problema criado na equipe. Só fui rever o doutor Paulo 40 dias depois. Pedi férias após a Copa e passei 30 dias na Europa."
Braga Júnior narrou o Mundial quase cinqüentão pela paulista Rádio Record em cadeia com a Rádio Globo do Rio.
""Eu representava a Record a mando do Paulo Machado de Carvalho. Pela Globo, deveria irradiar o Mário Garcia, mas ele brigou com o chefe da equipe. Pegaram o segundo locutor deles, o baiano Carlos Lima. Eu e ele fomos com a incumbência de irradiar, meio tempo de cada um, as partidas da Copa."
A cobertura era bastante parcial e parceira do chefe da delegação? ""Quando tratava-se de seleção brasileira, claro que estava vestido com a camisa da equipe. O resto era só o resto. Sobre o doutor Paulo, por ele ser dono de um império de rádio e TV, era sempre potencialmente um futuro patrão. Os jornalistas tinham que considerar isso e o respeitavam."
Com 25 anos na Copa-58, Braguinha testemunhou a proximidade de integrantes da imprensa com a cúpula da seleção. ""O Paulo, inteligente, cercou-se de três jornalistas: Ary Silva, Flávio Iazzetti e Paulo Planet Buarque. A esse grupo, juntaram-se Nilton Santos, Didi e Feola. Conversavam entre eles. Didi e Nilton Santos, jogadores fantásticos e pessoas maravilhosas, tinham grande influência na formação do time."
Narrar aquele que para muitos foi o melhor time da história dispensou até a fantasia.
""Tive oportunidades melhores para inventar irradiando. O Brasil tinha um time excelente, com jogadores excepcionais em todas as posições. Estava muito bem preparado, endurecido. Atribuo muito do título ao Garrincha, o melhor jogador brasileiro de seleção, no conjunto da obra", diz Braguinha.
Uma narração marcante não foi a de um gol, foi a de um gesto: ""Quando levou o primeiro gol da Suécia, o Brasil poderia ter dado uma degringolada, mas Didi pegou a bola no fundo da rede e a colocou no meio-campo, foi uma reação máscula. O Brasil tinha aquela coisa antes de se deixar levar. Mas reagiu, empatou e dominou amplamente o time sueco."
O melhor jogo para narrar? ""Brasil x França. O primeiro tempo foi de arrepiar cabelos."
E deu mesmo emoção no final? ""Foi uma coisa inusitada, uma grande emoção. O pessoal recebendo medalhas de ouro, o rei da Suécia, o hino nacional... A partir dali se construiu o império do futebol brasileiro."


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