São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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Croácia tem "feirão de patrocínios"

Contrato com 20 empresas, a maioria delas nacionais, faz federação croata arrecadar cerca de R$ 15 milhões anuais

Entre os parceiros, há uma petrolífera, produtores de salgadinhos e cervejaria que pertence à AmBev, uma das patrocinadoras da CBF


FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A BAD BRÜCKENAU

A sala de entrevistas da seleção croata em Bad Brückenau parece um mercadinho. Nas cadeiras, sacos de batatas fritas Cipi Cips e pacotes de biscoitos Napolitanke de limão e laranja aguardam os jornalistas. Há dois freezers: um horizontal, cheio de sorvetes Ledo, outro vertical, com cerveja Ozujsko, vinhos Ilocki Podrumi e Istravino e água mineral Jamnica. Todas as marcas são de patrocinadores da federação do país, que transformou o time num loteamento raramente visto entre participantes de Copa do Mundo. A Croácia tem 20 parceiros, quase todos nacionais, que vendem de roupas de noite a passagens de ônibus, de sementes a seguros. As exceções são as estrangeiras Nike, Ford e DHL, empresa de correio aéreo expresso. A cervejaria Ozujsko pode estar em um ou outro grupo, pois a marca é croata, mas foi adquirida pela gigante InBev, formada pela fusão da brasileira AmBev com a belga Interbrew. A Ina expandiu sua atuação em outros países do Leste Europeu. Ao lado da Nike, a multinacional de bebidas é a única interseção nessa área entre Brasil e Croácia, que jogam depois amanhã, em Berlim, na estréia de ambos no Grupo F da Copa. O contraste entre as duas realidades é imenso. Em primeiro lugar, porque a Confederação Brasileira de Futebol possui apenas quatro patrocinadores: Nike, AmBev (ou InBev), Vivo e Varig, que entra com o transporte aéreo. Com exceção da Varig, as demais são multinacionais ou empresas controladas por estrangeiros. Nike, AmBev e Vivo repassaram no ano passado à CBF cerca de R$ 62,9 milhões, quase cinco vezes mais do que recebem os croatas. Questionada sobre os valores dos contratos, a federação da Croácia disse que o tema é confidencial. Estimativas feitas por jornalistas do país apontam que o total equivale a cerca de R$ 15 milhões anuais. A petrolífera Ina (aproximadamente R$ 14 milhões distribuídos em três anos), com maior parte do capital estatal, e a cerveja Ozujsko e o banco Privredna (cerca de R$ 1,5 milhão por ano cada uma) são as que pagam mais. Pelo menos durante a preparação do time na Alemanha, quem mais aparece é a cerveja. Na mesa onde o técnico Zlatko Kranjcar e os jogadores se sentam para dar entrevistas coletivas, há várias latas e garrafas da bebida espalhadas. O treinador só tem aparecido nos encontros com os repórteres com um broche da Ozujsko na camisa. No campo de treino, é a logomarca do produto, nas mesmas cores da bandeira croata (vermelho e branco), que sobressai entre as placas publicitárias. De acordo com a mídia croata, o "feirão de patrocinadores" não é uma situação que agrade à federação do país, que gostaria de ter menos parceiros, mas com maior poderio econômico. A esperança dos dirigentes é que a Croácia consiga entrar logo na União Européia, já que é uma das nações balcânicas na lista de espera para virarem sócias do bloco econômico. A federação croata avalia que a ausência de barreiras econômicas atrairia multinacionais que hoje ainda resistem em investir na região.


Colaborou RODRIGO MATTOS , da Reportagem Local

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