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De patente a piada
A história do futebol e suas criaturas
Em livro, pesquisadores alemães levantam os registros da evolução de chuteiras, bolas e outros acessórios do esporte
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE
Klaus Wollny e Markus Seitz
não agüentavam mais os repetitivos livros de história de futebol ou as manjadas biografias
de craques que inundam o mercado em época de Copa. Funcionários do escritório de patentes alemãs, localizado em
Munique, desejavam dar contribuição diferente aos visitantes do país-sede do Mundial.
Tiveram, então, um estalo:
por que não vasculhar os arquivos do local onde trabalham e
compilar as criações que fizeram do futebol o esporte mais
popular do planeta?
Com a ajuda de outros dois
colegas, Lisa Renniegir e Johann Holzmann, prepararam o
curioso "Futebol e Técnica", livro que mostra a evolução de
chuteiras, bolas, uniformes e
outros acessórios usados nos
campos através de registros documentados por inventores.
Entre 2003 e 2006, mais de
10 mil patentes foram destrinchadas pelo quarteto. O material não tem tradução para o inglês, mas pode ser obtido de
graça no site www.dpma.de.
"Hoje as invenções que aparecem no futebol são mais produto dos departamentos de
marketing do que de pesquisadores. Mas nem sempre foi assim. Para chegar aos materiais
que vamos ver nesta Copa,
existiram ótimas idéias e muito
esforço", explica Seitz.
Ocorreram, também, muitos
casos inusitados, como o do desastrado músico britânico Joseph Hudson. Ele tocava seu
violino quando errou uma nota
e estourou uma das cordas.
Gostou, todavia, do barulho
produzido no acidente. Na busca para tentar repeti-lo, criou,
em 1885, o mecanismo básico
utilizado hoje na fabricação
dos apitos para árbitros.
"A história é cheia de casos
assim. Difícil é conseguir separar o que foi importante para o
futebol e o que não passa de bobeira", afirma Wollny.
Ele, por exemplo, ficou encarregado do capítulo sobre a
bola, mas precisava de um ponto de partida para começar.
A saída foi encontrada em
Charles Goodyear, inventor do
processo de vulcanização da
borracha em 1839. A partir de
suas descobertas, narra
Wollny, a busca por técnicas ou
materiais destinados a lapidar
a bola usada em jogos ganhou
fôlego entre pesquisadores.
Outro desafio do grupo estava na linha inicial para agrupar
as mais importantes patentes
relativas às chuteiras, já que o
futebol era praticado com todos os tipos de calçado.
Seitz, encarregado da seara,
só decolou nos trabalhos após
analisar a trajetória das Copas.
"Havia pouca coisa registrada
antes de 1930, ano do primeiro
Mundial. Então, os europeus
tiveram que ir até o Uruguai
competir. Lá, viram que seus
sapatos pesados, normalmente
utilizados para o frio, atrapalhavam o desempenho. Depois
disso, a busca por invenções
cresceu bastante", explica.
Cresceu tanto que produziu
situações bizarras. Seitz conta
que um dos grandes desafios
era desenvolver calçados que
facilitassem o domínio da bola.
Um alemão, então, inovou:
patenteou um tênis com escamas de peixe fincadas na parte
superior. "Quando li aquilo,
morri de rir. Só que, anos depois, a Adidas lançava no mercado um modelo que segue a
mesma lógica, usando garras
na superfície para ampliar o
atrito com a bola. Neste mercado, tudo pode ser aproveitado."
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