São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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De patente a piada

A história do futebol e suas criaturas

Em livro, pesquisadores alemães levantam os registros da evolução de chuteiras, bolas e outros acessórios do esporte

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE

Klaus Wollny e Markus Seitz não agüentavam mais os repetitivos livros de história de futebol ou as manjadas biografias de craques que inundam o mercado em época de Copa. Funcionários do escritório de patentes alemãs, localizado em Munique, desejavam dar contribuição diferente aos visitantes do país-sede do Mundial.
Tiveram, então, um estalo: por que não vasculhar os arquivos do local onde trabalham e compilar as criações que fizeram do futebol o esporte mais popular do planeta?
Com a ajuda de outros dois colegas, Lisa Renniegir e Johann Holzmann, prepararam o curioso "Futebol e Técnica", livro que mostra a evolução de chuteiras, bolas, uniformes e outros acessórios usados nos campos através de registros documentados por inventores.
Entre 2003 e 2006, mais de 10 mil patentes foram destrinchadas pelo quarteto. O material não tem tradução para o inglês, mas pode ser obtido de graça no site www.dpma.de.
"Hoje as invenções que aparecem no futebol são mais produto dos departamentos de marketing do que de pesquisadores. Mas nem sempre foi assim. Para chegar aos materiais que vamos ver nesta Copa, existiram ótimas idéias e muito esforço", explica Seitz.
Ocorreram, também, muitos casos inusitados, como o do desastrado músico britânico Joseph Hudson. Ele tocava seu violino quando errou uma nota e estourou uma das cordas.
Gostou, todavia, do barulho produzido no acidente. Na busca para tentar repeti-lo, criou, em 1885, o mecanismo básico utilizado hoje na fabricação dos apitos para árbitros.
"A história é cheia de casos assim. Difícil é conseguir separar o que foi importante para o futebol e o que não passa de bobeira", afirma Wollny.
Ele, por exemplo, ficou encarregado do capítulo sobre a bola, mas precisava de um ponto de partida para começar.
A saída foi encontrada em Charles Goodyear, inventor do processo de vulcanização da borracha em 1839. A partir de suas descobertas, narra Wollny, a busca por técnicas ou materiais destinados a lapidar a bola usada em jogos ganhou fôlego entre pesquisadores.
Outro desafio do grupo estava na linha inicial para agrupar as mais importantes patentes relativas às chuteiras, já que o futebol era praticado com todos os tipos de calçado.
Seitz, encarregado da seara, só decolou nos trabalhos após analisar a trajetória das Copas. "Havia pouca coisa registrada antes de 1930, ano do primeiro Mundial. Então, os europeus tiveram que ir até o Uruguai competir. Lá, viram que seus sapatos pesados, normalmente utilizados para o frio, atrapalhavam o desempenho. Depois disso, a busca por invenções cresceu bastante", explica.
Cresceu tanto que produziu situações bizarras. Seitz conta que um dos grandes desafios era desenvolver calçados que facilitassem o domínio da bola.
Um alemão, então, inovou: patenteou um tênis com escamas de peixe fincadas na parte superior. "Quando li aquilo, morri de rir. Só que, anos depois, a Adidas lançava no mercado um modelo que segue a mesma lógica, usando garras na superfície para ampliar o atrito com a bola. Neste mercado, tudo pode ser aproveitado."


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