São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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JUCA KFOURI

Parece que foi amanhã


Esta coluna foi publicada em 4 de fevereiro de 2007. Mas parece que foi ontem. Ou até amanhã...

"CONTAREI AQUI o que vi.
Nada que ninguém tenha me contado.
Desde 1982, na Espanha, cubro Copas do Mundo.
Nem em Sevilha, nem em Barcelona, cidades onde a seleção brasileira jogou, havia estádios novos. Nem em Madri, palco da final.
No México, em 1986, a mesma coisa: nenhum estádio novo.
Já na Itália, em 1990, teve um, em Turim, o estádio Delle Alpi. E só.
Nos Estados Unidos, no país mais rico do mundo, em 1994, então, também nenhum, sendo que o Brasil jogou no estádio universitário de Stanford e em campos adaptados para o futebol.
Fora os centros de imprensa feitos de madeira pré-moldada.
Na França, em 1998, de novo apenas o Stade de France, no subúrbio de Paris, mas o Parque dos Príncipes foi, naturalmente, usado.
Jogou-se, aliás, até no velho campo de Marselha, construído para a Copa do Mundo de... 1938!
O que originou um comentário de Ricardo Teixeira: "Se aqui pode ter jogo de Copa, o Brasil também pode organizar uma".
E ele tinha toda razão.
Mas, ao que parece, mudou de opinião. É bem verdade que, somente sobre o Maracanã, já mudou de opinião três vezes.
Sim, bem sei que as Copas na Ásia e na Alemanha modificaram conceitos, com a construção de uma porção de arenas, com dinheiro a rodo, modelo que a África do Sul tenta seguir -até porque não tinha estádios que pudessem receber uma Copa.
Mas o Brasil tem.
Quando se argumenta, por exemplo, que Maracanã e Morumbi não têm estacionamentos, são cometidos dois crimes: contra os fatos e contra o meio ambiente.
Na Alemanha, era preciso andar muito a pé para chegar a suas modernas arenas.
O novíssimo estádio do Arsenal nem estacionamento tem.
Tudo de acordo com, estes sim, novos conceitos, de evitar excesso de veículos e seus gases poluentes, para proteger a natureza.
O novo Wembley terá um estacionamento que será a metade do que tinha o velho Wembley.
Claro, Londres tem mais de 400 quilômetros de metrô, mas é nisso que precisamos pensar para 2014, e não em estacionamentos.
O incrível nisso tudo é ver o governo federal, que pagará a maior parte da conta da eventual Copa do Mundo no país, assistir a tudo calado, como se abrisse mão de influenciar a escolha das cidades e dos locais das partidas.
Locais que serão usados, no máximo, para receber três jogos da Copa, evento que dura um mês.
Precisamos mesmo de novos estádios ou de um mínimo de transparência e vergonha na cara?"
Fiz algumas supressões para adequar ao espaço disponível. Mas, quando se vê que só em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre não se fala em gastar dinheiro público com estádios, fica a pergunta: valerá a pena fazer a Copa no Brasil?
Juro que passo a torcer para que São Paulo, onde vivo, fique de fora.
Como gostaria de ver um gesto de altivez do governador paulista e do São Paulo FC mandando a Fifa e a CBF pegar a Copa, enrolar bem enroladinha e enfiar no nariz.

blogdojuca@uol.com.br


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