São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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AUTOMOBILISMO

Campeão de 92 diz que só vê largada e chegada dos GPs e que voltaria a guiar se não fosse a rotina de testes

Muita tecnologia estraga F-1, diz Mansell

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SILVERSTONE

Sem o bigode, ele é quase irreconhecível. Quase. Porque, quando começa a falar, Nigel Mansell, 50, é o mesmo de sempre. O mesmo das rusgas com Nelson Piquet, dos duelos com Alain Prost, da carona para Ayrton Senna, na mesma Silverstone, em 1991.
Campeão mundial em 92, campeão da Indy no ano seguinte, Mansell ensaiou um retorno à F-1 em 94, pela Williams, e em 95, pela McLaren. Mas, vários quilos acima do peso, foi dispensado da última por não caber no cockpit.
De lá para cá, pilotou carros esporte, escreveu um livro e jogou muito, muito golfe. Na última semana, voltou a pilotar um F-1. Foi em Londres, ao volante de um Jordan, em um evento para promover a prova de hoje.
Macacão amarelo amarrado na cintura, debaixo de uma tenda para aplacar o calor, Mansell falou com exclusividade à Folha. E atacou o "excesso de tecnologia" da F-1. "Só vejo as largadas e as chegadas", disse, com um sorriso aberto que envergaria seu bigode, aposentado junto com sua carreira na F-1. Mas o resto está lá. Ele ainda é Mansell. O "leão".

Folha - Ao contrário de ex-campeões, você não aparece em autódromos. Como você vê a F-1 atual?
Nigel Mansell -
Para ser sincero, eu assisto à largada, saio para fazer alguma coisa e, depois, volto para a chegada. Mas quase sempre sabemos quem vai ser o primeiro, certo? O Schumacher.

Folha - E o que você acha dele? E de todo esse domínio dele?
Mansell -
Schumacher é fantástico. E não é ele que estraga o esporte, como muitos pensam. O problema também não está no regulamento. Está, sim, na tecnologia. No excesso de tecnologia da F-1.

Folha - Mas a F-1 sempre foi um laboratório para isso.
Mansell -
Não sou contra a tecnologia. Certas coisas têm lugar no esporte, outras não. Você pilotou um F-1? Não? Pois, com pouco treino, você faz uma largada igual a do Schumacher. O controle de tração nivela as largadas do melhor e do pior piloto do grid.

Folha - O que mais atrapalha?
Mansell -
O câmbio automático. Não vou comparar a turma da minha época com os pilotos atuais. Mas antigamente, quando eu errava uma marcha, alguém me ultrapassava. Quando o Ayrton errava, eu o passava. E era comum errar marchas, porque os homens são falíveis. Os computadores não. É uma pena, porque os fãs perdem a chance de saber quem é quem. Também acho que deveria haver uma limitação de pit stops. Um por GP, para evitar essa chatice de ultrapassagens nos boxes.

Folha - Sobre os brasileiros. O que você acha do Rubens Barrichello?
Mansell -
Eu amo o Rubens. Mas infelizmente assinou um contrato de segundo piloto.

Folha - E o Senna?
Mansell -
Corri muito lado a lado com ele, tivemos disputas fantásticas. Quando eu estava em primeiro, sabia que ele era o segundo. E vice-versa. Achava que o Ayrton fosse à prova de balas.

Folha - E o Piquet?
Mansell -
Tivemos sérios problemas, mas hoje dou risada. São coisas já superadas.

Folha - Você voltaria a correr?
Mansell -
Eu voltaria, sem nenhum problema, se não fosse essa rotina absurda de testes. Os pilotos testam todas as semanas, quase todos os dias. Isso eu não agüentaria mais. Mas sei que correria tranqüilamente um GP.


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