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AUTOMOBILISMO
Campeão de 92 diz que só vê largada e chegada dos GPs e que voltaria a guiar se não fosse a rotina de testes
Muita tecnologia estraga F-1, diz Mansell
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SILVERSTONE
Sem o bigode, ele é quase irreconhecível. Quase. Porque, quando
começa a falar, Nigel Mansell, 50,
é o mesmo de sempre. O mesmo
das rusgas com Nelson Piquet,
dos duelos com Alain Prost, da
carona para Ayrton Senna, na
mesma Silverstone, em 1991.
Campeão mundial em 92, campeão da Indy no ano seguinte,
Mansell ensaiou um retorno à F-1
em 94, pela Williams, e em 95, pela McLaren. Mas, vários quilos
acima do peso, foi dispensado da
última por não caber no cockpit.
De lá para cá, pilotou carros esporte, escreveu um livro e jogou
muito, muito golfe. Na última semana, voltou a pilotar um F-1. Foi
em Londres, ao volante de um
Jordan, em um evento para promover a prova de hoje.
Macacão amarelo amarrado na
cintura, debaixo de uma tenda
para aplacar o calor, Mansell falou
com exclusividade à Folha. E atacou o "excesso de tecnologia" da
F-1. "Só vejo as largadas e as chegadas", disse, com um sorriso
aberto que envergaria seu bigode,
aposentado junto com sua carreira na F-1. Mas o resto está lá. Ele
ainda é Mansell. O "leão".
Folha - Ao contrário de ex-campeões, você não aparece em autódromos. Como você vê a F-1 atual?
Nigel Mansell - Para ser sincero,
eu assisto à largada, saio para fazer alguma coisa e, depois, volto
para a chegada. Mas quase sempre sabemos quem vai ser o primeiro, certo? O Schumacher.
Folha - E o que você acha dele? E
de todo esse domínio dele?
Mansell - Schumacher é fantástico. E não é ele que estraga o esporte, como muitos pensam. O problema também não está no regulamento. Está, sim, na tecnologia.
No excesso de tecnologia da F-1.
Folha - Mas a F-1 sempre foi um
laboratório para isso.
Mansell - Não sou contra a tecnologia. Certas coisas têm lugar
no esporte, outras não. Você pilotou um F-1? Não? Pois, com pouco treino, você faz uma largada
igual a do Schumacher. O controle de tração nivela as largadas do
melhor e do pior piloto do grid.
Folha - O que mais atrapalha?
Mansell - O câmbio automático.
Não vou comparar a turma da minha época com os pilotos atuais.
Mas antigamente, quando eu errava uma marcha, alguém me ultrapassava. Quando o Ayrton errava, eu o passava. E era comum
errar marchas, porque os homens
são falíveis. Os computadores
não. É uma pena, porque os fãs
perdem a chance de saber quem é
quem. Também acho que deveria
haver uma limitação de pit stops.
Um por GP, para evitar essa chatice de ultrapassagens nos boxes.
Folha - Sobre os brasileiros. O que
você acha do Rubens Barrichello?
Mansell - Eu amo o Rubens. Mas
infelizmente assinou um contrato
de segundo piloto.
Folha - E o Senna?
Mansell - Corri muito lado a lado
com ele, tivemos disputas fantásticas. Quando eu estava em primeiro, sabia que ele era o segundo. E vice-versa. Achava que o
Ayrton fosse à prova de balas.
Folha - E o Piquet?
Mansell - Tivemos sérios problemas, mas hoje dou risada. São coisas já superadas.
Folha - Você voltaria a correr?
Mansell - Eu voltaria, sem nenhum problema, se não fosse essa
rotina absurda de testes. Os pilotos testam todas as semanas, quase todos os dias. Isso eu não
agüentaria mais. Mas sei que correria tranqüilamente um GP.
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