São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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Baixinho folgado

"Fora do padrão" em seu país, por medir só 1,70m, Sneijder, que fez até gol de cabeça nesta Copa, exibe um ego gigantesco

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

A figura do baixinho folgado é perfeita para definir Wesley Sneijder, 26, o artilheiro da Holanda na Copa e a principal esperança de sua seleção na decisão de hoje.
Com 1,70 m, ele nem parece ser do país com a população mais alta do mundo. Em média, os homens holandeses adultos têm 1,85 m.
No futebol, a seleção laranja também sempre teve heróis grandalhões.
Entre seus principais craques, o mais "baixinho" era Johan Cruyff, que ainda assim tem 10 cm a mais do que Sneijder. O trio formado por Rijkaard, Van Basten e Gullit variava entre 1,86 m e 1,90 m.
Nanico para os padrões atuais do futebol da elite, Sneijder foi capaz até de marcar um gol de cabeça diante da alta zaga brasileira, um dos cinco tentos que fez na Copa (divide a artilharia do Mundial com o espanhol Villa, com o alemão Müller e com o uruguaio Forlán).
Mas o que o encaixa no perfil de baixinho folgado é o seu imenso ego, o que já gerou uma série de atos de indisciplina e o temor de que sua personalidade pudesse minar o ambiente da seleção holandesa no Mundial.
Desde que começou no futebol profissional, no Ajax, Sneijder mostrou desrespeito à hierarquia e teve seguidos atritos com companheiros.
Quanto tinha apenas 19 anos e já fazia alguns jogos como titular, ele foi colocado no banco pelo ex-zagueiro Ronald Koeman, então técnico do time de Amsterdã.
Sneijder entrou no segundo tempo desse jogo e marcou um gol. Correu então para o banco e começou a xingar um incrédulo Koeman.
Aos 23 anos, revoltou-se quando o Ajax não aceitou uma proposta do espanhol Valencia por ele. Como represália, afirmou que não iria para nenhum outro lugar. Depois, mudou de ideia e foi para o Real Madrid. Hoje, defende a Inter de Milão.
O gênio forte do talentoso meia também causou problemas na seleção. O caso mais famoso aconteceu na Eurocopa de 2008, quando ele e Van Persie discutiram para ver quem cobraria uma falta. Van Persie bateu e errou.
A rixa entre os jogadores durou meses, com ataque de Sneijder ao companheiro até por meio de seu site pessoal.
Meses antes do Mundial, outro episódio trouxe à tona a discussão sobre se o meia deveria ser convocado.
Em um encontro do time, Sneijder foi flagrado em uma conversa com o então goleiro reserva Piet Velthuizen em que desfilou arrogância. Perguntou quanto o colega ganhava. Velthuizen respondeu que recebia 400 mil por ano. Sneijder retrucou que era pouco e que ele ganhava 20 vezes mais que isso.
Ontem, no rápido treino que a Holanda fez no Soccer City, foi possível ter mais uma amostra do temperamento do camisa 10. A cada passe que não conseguia dominar, reclamava de forma espalhafatosa, gesticulava e abria os braços, mesmo quando o erro era dele. (MARTÍN FERNANDEZ E PAULO COBOS)


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