São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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XICO SÁ

Bicharada mística


Para quem gosta de futebol a vera, claro que não é nesse tipo de feira da Fifa que se mata a fome


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, como virgens suicidas -nunca venceram uma Copa- pelejam Holanda e Espanha pelo direito ao título.
Os espanhóis têm um futebol de preliminares, mas que beira amor platônico, toca, toca e pouco penetra, para ficarmos nas analogias de um fã do doutor Sigmund.
A pátria em tulipas possui ligação direta e libertina, como nos costumes holandeses. Sem esquecer que nesta semana os laranjas foram liberados para dois dias com suas mulheres. Isso conta.
Quem ganha a parada, entonces?
No palpite dos cavalheiros das mesas-redondas, a pátria em castanholas e chifradas fica com a taça. Pela zoologia sobrenatural, que superou a bruxaria e a mandinga humanas, o jogo é de equilíbrio.
O polvo Paul, o mais célebre da bicharada mística, vai de Espanha. O periquito de Cingapura, também com alto índice de acerto, cravou Holanda. O siri na lata do Recife, idem, por simples apego histórico à turma de Nassau, Frans Post e sua esquadra artística. A coruja de seu Lunga, em Juazeiro do Norte, é espanhola, brava, bravíssima.
A graúna de Durvalzim, secador do Come-Fogo em Ribeirão Preto, segue os bigodes nevados do Vicente del Bosque. Edgar, o corvo, vai na contramão do polvo, óbvio, puro despeito.
O urubu Augusto, aquele que pousou na sua sorte, filho do Engenho Pau D'Arco, Paraíba, aprecia detalhes mórbidos: decisão nos pênaltis, após 0 a 0 de doer nos ossos. Que tire a virgindade copeira o mais azarado durante os 120 minutos.
Uma bela Copa, não esqueça. Mais pelo que se viu fora de campo do que dentro. Com direito a uma imagem que já nasceu imortal, qual um Quixote: Puyol só de toalha diante de La Reina de España.
Para quem gosta de futebol a vera, claro que não é nesse tipo de feira da Fifa que se mata a fome. A Alemanha, porém, no 4 a 1 contra a Inglaterra e no 4 a 0 contra a Argentina, valeu por toda a maratona cabulosa e jabulística.
Até retranca virou arte. Nos pés de um destemido Paraguai, por supuesto. E como foi digna a Celeste de Lugano, Loco Abreu e Forlán. Gênios.
Aqui me despeço, torcendo para que todos, como naquele anúncio de aparelho de TV, tenham garantia até 2014. Bom domingo, paz no lar doce lar, com direito a uma feliz lambida do cão amigo.

xico.folha@uol.com.br


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