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UM MUNDO QUE TORCE
Aventuras, roubadas, histórias, erros e acertos numa viagem pelos países da Copa
De volta para o futuro
Terceiro lugar serve
de consolo para
alemães , que
esperam triunfo
na Copa de 2014
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE
Foi uma noite estranha em
Munique. Porque quente demais, mesmo para o verão:
28C às 22h. Porque havia
muito menos gente no Estádio Olímpico do que de costume. Porque o que estava
em jogo, para um país tão
competitivo em tudo, era só
um prêmio de consolação.
Mas os que pagaram 8
para assistir a Alemanha x
Uruguai na frente do telão,
torceram. Muito. Sofreram.
Muito. Comemoraram. Muito. E tinham discurso afinado. Voltaram ao estádio dos
Jogos de 1972 pensando no
futuro. Já de olho em 2014.
"É um time jovem e que,
apesar disso, jogou o melhor
futebol da Copa. Estar aqui é
um modo de apoiar um grupo que pode ser campeão no
Brasil", diz Winni Schröder,
43, que levou a mulher e os
dois filhos ao estádio. "É
também um jeito de esquecer
os últimos dias. O país viveu
um blecaute", admite.
Foram três longos dias
desde a derrota para a Espanha, nas semifinais. Primeiro, o choque. "Depois de golear Inglaterra e Argentina, a
gente pensava que esmagaríamos os espanhóis como
insetos", diz Tim Kuhn, 26.
Seguiram-se então dois
dias de reflexão, uma certa
pasmaceira. Ontem, enfim,
os alemães decidiram abraçar novamente sua equipe.
Pelas ruas de Munique,
terceira maior cidade da Alemanha, o clima durante o dia
era de Copa do Mundo. Gente
passeando com camisas da
seleção, rostos pintados, bares anunciando a exibição da
partida nos biergarten.
"No Brasil, ou você é campeão ou você é nada. Aqui,
esta seleção vai ser lembrada
pelos 4 a 1 na Inglaterra e pelos 4 a 0 na Argentina. Eles
querem muito a terceira posição", conta Ricardo Fortes,
39, oito anos de Alemanha,
mineiro de Barbacena.
Os 5.000 que foram ao Estádio Olímpico queriam mesmo. Ainda era fim de tarde
quando eles começaram a
chegar, fazendo do gramado
um parque para aproveitar o
final do sábado ensolarado.
Barraquinhas de bratwurst (salsichão), cerveja e
refrigerante ajudavam a dar
ao lugar ares de piquenique.
Não eram os 40 mil do jogo
contra os espanhóis, mas,
pelas circunstâncias, talvez
fosse a parcela mais apaixonada da torcida. Vibrava como se houvesse um time ali
no campo, não a 8.420 km.
No intervalo, com o 1 a 1, o
clima era de preocupação.
"Pode parecer estranho
torcer por algo que não é tão
grande, mas fazemos isso
porque acreditamos nesses
jogadores. Daqui a quatro
anos, eles terão mais experiência, estarão mais preparados", fala Sascha Stern, 20.
Segundo tempo. O Uruguai vira. Mas a Alemanha
reage, faz 3 a 2, conquista a
terceira colocação na Copa.
O estádio fica de pé quando o telão mostra os jogadores recebendo as medalhas.
Ao lado do repórter, um garoto de espinhas no rosto, aparelhos nos dentes, aplaude
os premiados, um a um.
Eram 22h35 em Munique, e
os torcedores começavam a ir
embora quando os alto-falantes começaram a tocar
"We Are the Champions", do
Queen. Houve quem voltasse
para celebrar no gramado.
Foi uma noite estranha.
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