São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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UM MUNDO QUE TORCE
Aventuras, roubadas, histórias, erros e acertos numa viagem pelos países da Copa

De volta para o futuro

Terceiro lugar serve de consolo para alemães , que esperam triunfo na Copa de 2014

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE

Foi uma noite estranha em Munique. Porque quente demais, mesmo para o verão: 28C às 22h. Porque havia muito menos gente no Estádio Olímpico do que de costume. Porque o que estava em jogo, para um país tão competitivo em tudo, era só um prêmio de consolação.
Mas os que pagaram 8 para assistir a Alemanha x Uruguai na frente do telão, torceram. Muito. Sofreram. Muito. Comemoraram. Muito. E tinham discurso afinado. Voltaram ao estádio dos Jogos de 1972 pensando no futuro. Já de olho em 2014.
"É um time jovem e que, apesar disso, jogou o melhor futebol da Copa. Estar aqui é um modo de apoiar um grupo que pode ser campeão no Brasil", diz Winni Schröder, 43, que levou a mulher e os dois filhos ao estádio. "É também um jeito de esquecer os últimos dias. O país viveu um blecaute", admite.
Foram três longos dias desde a derrota para a Espanha, nas semifinais. Primeiro, o choque. "Depois de golear Inglaterra e Argentina, a gente pensava que esmagaríamos os espanhóis como insetos", diz Tim Kuhn, 26.
Seguiram-se então dois dias de reflexão, uma certa pasmaceira. Ontem, enfim, os alemães decidiram abraçar novamente sua equipe.
Pelas ruas de Munique, terceira maior cidade da Alemanha, o clima durante o dia era de Copa do Mundo. Gente passeando com camisas da seleção, rostos pintados, bares anunciando a exibição da partida nos biergarten.
"No Brasil, ou você é campeão ou você é nada. Aqui, esta seleção vai ser lembrada pelos 4 a 1 na Inglaterra e pelos 4 a 0 na Argentina. Eles querem muito a terceira posição", conta Ricardo Fortes, 39, oito anos de Alemanha, mineiro de Barbacena.
Os 5.000 que foram ao Estádio Olímpico queriam mesmo. Ainda era fim de tarde quando eles começaram a chegar, fazendo do gramado um parque para aproveitar o final do sábado ensolarado.
Barraquinhas de bratwurst (salsichão), cerveja e refrigerante ajudavam a dar ao lugar ares de piquenique.
Não eram os 40 mil do jogo contra os espanhóis, mas, pelas circunstâncias, talvez fosse a parcela mais apaixonada da torcida. Vibrava como se houvesse um time ali no campo, não a 8.420 km.
No intervalo, com o 1 a 1, o clima era de preocupação.
"Pode parecer estranho torcer por algo que não é tão grande, mas fazemos isso porque acreditamos nesses jogadores. Daqui a quatro anos, eles terão mais experiência, estarão mais preparados", fala Sascha Stern, 20.
Segundo tempo. O Uruguai vira. Mas a Alemanha reage, faz 3 a 2, conquista a terceira colocação na Copa.
O estádio fica de pé quando o telão mostra os jogadores recebendo as medalhas. Ao lado do repórter, um garoto de espinhas no rosto, aparelhos nos dentes, aplaude os premiados, um a um.
Eram 22h35 em Munique, e os torcedores começavam a ir embora quando os alto-falantes começaram a tocar "We Are the Champions", do Queen. Houve quem voltasse para celebrar no gramado.
Foi uma noite estranha.


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