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FÁBIO SEIXAS
On/Off
É como se o alemão tivesse um interruptor no cérebro, que desligasse sempre que surge um imprevisto na pista
O
PRIMEIRO sintoma apareceu
no sábado. Piloto mais experiente do circuito, Schumacher se deixou enganar por Alonso e
Kubica (um estreante!) exatamente
num dia em que os comissários estavam esfomeados para puni-lo e
compensar os exageros da véspera.
Jogasse o carro na brita, escapasse
para a grama, fosse direto ao muro...
Qualquer atitude menos ultrapassar
sob bandeira vermelha. Mas, não.
Passou ambos e foi punido. A inteligência, a experiência, a malandragem e a frieza foram para o espaço.
É como se o alemão tivesse um interruptor no cérebro, e naquele momento a chavinha estivesse no "off".
É como se a vista escurecesse e ele só
visse à frente a chance de vencer
aquela contenda específica, daquele
instante, e o Mundial não existisse.
No domingo, antes do GP, a chave
estava no "on". Começou racional
como de hábito, ajudado pela sorte
como quase sempre -com a punição a Button, foi alçado a 11º, a pole
entre aqueles com liberdade para
usar a gasolina que der na telha.
Quando os boxes foram abertos,
saiu com pneus para chuva forte,
completou duas voltas. Voltou, colocou compostos intermediários, percorreu mais duas voltas para sentir a
pista. Retornou, pôs um jogo novo
de intermediários, dirigiu-se ao grid.
Ou seja, usou o regulamento para
largar com uma vantagem de cinco
voltas em relação aos dez primeiros.
Sabia o endereço de cada poça. E, na
largada, abusou dos dados que colheu: avançou de 11º para quarto.
Mas o conjunto não ajudava. Na
marra, descobriu que a Ferrari não
tem um pacote decente para asfalto
molhado. Queda de rendimento.
Alonso o ultrapassa por fora. A chuva aperta. Alonso lidera e faz dele retardatário. Desespero. Raiva. E "off".
Tão absoluto é seu amor pelas vitórias que Schumacher não vê mais
nada pela frente quando surge um
imprevisto. Desliga-se do mundo.
Passa por cima de tudo, sem medir
as conseqüências. Isso não faz dele
um piloto pior ou melhor -em certas situações, pode até resolver. É só
mais uma marca de sua carreira.
Senão, como explicar o que fez
com De la Rosa, cortando caminho
pela grama e não devolvendo a posição ao espanhol? Senão, como interpretar o toque com Heidfeld, que lhe
tirou da prova, privando-lhe de terminar em quarto e reduzir a desvantagem no Mundial para seis pontos?
Se tivesse a FIA mantido Kubica
em sétimo, o vexame de Schumacher seria histórico. Do jeito que ficou, as pessoas poderão ver o resultado, daqui a algum tempo, e concluir que ele foi razoavelmente bem.
Entre um "on" e alguns "offs",
duas conclusões. A primeira joga as
fichas da coluna no bi de Alonso
-nada impede que Schumacher
surte em Xangai e Suzuka, teoricamente favoráveis à Renault. A segunda, a de que nem Schumacher
sabe se pára, apesar de os sinais indicarem a aposentadoria. Ele aguarda
Monza, quando o cenário estará
mais claro. E vai decidir num clique.
PRIMEIRO MUNDO
Mais divertido e sincero piloto
dos últimos anos na F-1, Da Matta
recupera-se pouco a pouco do inacreditável acidente. Mas o mais
inacreditável é que, nos EUA, ninguém comenta sobre conseqüências para os donos do autódromo.
ACREDITE SE QUISER
Nelsinho conversa com a Renault para fazer testes. Nelsão, a
exemplo do que fez na F-3 sul-americana, não quer desativar num
estalo o time na GP2. Procura alguém com caixa para 2007. E esse
alguém pode ser... Bruno. O primeiro-sobrinho também negocia com
a ART, equipe de Nicolas Todt.
CONSTATAÇÃO
Já fosse a F-1 um monopólio de
pneus -como será a partir da próxima temporada, por insistência de
Mosley-, e a melhor corrida dos
últimos anos seria menos boa.
fseixas@folhasp.com.br
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