São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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FÁBIO SEIXAS

On/Off

É como se o alemão tivesse um interruptor no cérebro, que desligasse sempre que surge um imprevisto na pista

O PRIMEIRO sintoma apareceu no sábado. Piloto mais experiente do circuito, Schumacher se deixou enganar por Alonso e Kubica (um estreante!) exatamente num dia em que os comissários estavam esfomeados para puni-lo e compensar os exageros da véspera. Jogasse o carro na brita, escapasse para a grama, fosse direto ao muro... Qualquer atitude menos ultrapassar sob bandeira vermelha. Mas, não. Passou ambos e foi punido. A inteligência, a experiência, a malandragem e a frieza foram para o espaço. É como se o alemão tivesse um interruptor no cérebro, e naquele momento a chavinha estivesse no "off". É como se a vista escurecesse e ele só visse à frente a chance de vencer aquela contenda específica, daquele instante, e o Mundial não existisse. No domingo, antes do GP, a chave estava no "on". Começou racional como de hábito, ajudado pela sorte como quase sempre -com a punição a Button, foi alçado a 11º, a pole entre aqueles com liberdade para usar a gasolina que der na telha. Quando os boxes foram abertos, saiu com pneus para chuva forte, completou duas voltas. Voltou, colocou compostos intermediários, percorreu mais duas voltas para sentir a pista. Retornou, pôs um jogo novo de intermediários, dirigiu-se ao grid. Ou seja, usou o regulamento para largar com uma vantagem de cinco voltas em relação aos dez primeiros. Sabia o endereço de cada poça. E, na largada, abusou dos dados que colheu: avançou de 11º para quarto. Mas o conjunto não ajudava. Na marra, descobriu que a Ferrari não tem um pacote decente para asfalto molhado. Queda de rendimento. Alonso o ultrapassa por fora. A chuva aperta. Alonso lidera e faz dele retardatário. Desespero. Raiva. E "off". Tão absoluto é seu amor pelas vitórias que Schumacher não vê mais nada pela frente quando surge um imprevisto. Desliga-se do mundo. Passa por cima de tudo, sem medir as conseqüências. Isso não faz dele um piloto pior ou melhor -em certas situações, pode até resolver. É só mais uma marca de sua carreira. Senão, como explicar o que fez com De la Rosa, cortando caminho pela grama e não devolvendo a posição ao espanhol? Senão, como interpretar o toque com Heidfeld, que lhe tirou da prova, privando-lhe de terminar em quarto e reduzir a desvantagem no Mundial para seis pontos? Se tivesse a FIA mantido Kubica em sétimo, o vexame de Schumacher seria histórico. Do jeito que ficou, as pessoas poderão ver o resultado, daqui a algum tempo, e concluir que ele foi razoavelmente bem. Entre um "on" e alguns "offs", duas conclusões. A primeira joga as fichas da coluna no bi de Alonso -nada impede que Schumacher surte em Xangai e Suzuka, teoricamente favoráveis à Renault. A segunda, a de que nem Schumacher sabe se pára, apesar de os sinais indicarem a aposentadoria. Ele aguarda Monza, quando o cenário estará mais claro. E vai decidir num clique.

PRIMEIRO MUNDO
Mais divertido e sincero piloto dos últimos anos na F-1, Da Matta recupera-se pouco a pouco do inacreditável acidente. Mas o mais inacreditável é que, nos EUA, ninguém comenta sobre conseqüências para os donos do autódromo.

ACREDITE SE QUISER
Nelsinho conversa com a Renault para fazer testes. Nelsão, a exemplo do que fez na F-3 sul-americana, não quer desativar num estalo o time na GP2. Procura alguém com caixa para 2007. E esse alguém pode ser... Bruno. O primeiro-sobrinho também negocia com a ART, equipe de Nicolas Todt.

CONSTATAÇÃO
Já fosse a F-1 um monopólio de pneus -como será a partir da próxima temporada, por insistência de Mosley-, e a melhor corrida dos últimos anos seria menos boa.

fseixas@folhasp.com.br


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