São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Made in China

Qual é a música?

PARA AGRADAR À BABEL OLÍMPICA, ORGANIZAÇÃO DOS JOGOS EMBALA COMPETIÇÕES COM SALADA MUSICAL, QUE VAI DE MÚSICA FOLCLÓRICA CHINESA A "FESTA NO APÊ", PASSANDO PELO TRASH METAL

DOS ENVIADOS A PEQUIM

De "Mamãe eu Quero" a clássicos thrash metal do Megadeth. De pop-rock chinês a Bon Jovi. E ainda Queen, Xuxa, Ray Parker Jr., Guns'n'Roses, Beatles remixado, pop romântico.
E, acredite, "Festa no Apê".
O primeiro fim de semana dos Jogos revelou uma marca imperceptível a quem os segue à distância: uma salada musical nos ginásios tão divertida quanto surpreendente, ilógica.
Incoerência, diz o comitê organizador, que tem por trás a dura missão de agradar a todos.
Segundo o Bocog, a principal preocupação na escolha na trilha sonora foi assegurar que o maior número possível de países fosse contemplado, para dar um ar global aos eventos.
Geralmente, as músicas são disparadas nos intervalos, nos pedidos de tempo, antes e depois dos eventos, quando a TV está veiculando comerciais.
A seleção, diz o Bocog, acontece segundo a afinidade com os esportes e os países em ação. Também há o cuidado de que elas tenham relação com os momentos da competição.
Na natação, por exemplo, o aquecimento é embalado por músicas melosas, geralmente de cantores chineses de pop romântico, como Wang Feng.
Antes da largada, ganham espaço ritmos mais agitados, chineses ou americanos, e até o pesado metal do Megadeth.
O momento mais feliz dos nadadores também tem trilha especial. A chegada de Michael Phelps nos 400 m medley, seu primeiro ouro em Pequim, foi embalada por uma versão em espanhol de "Ilariê", da Xuxa.
Funcionários do Bocog responsáveis pela trilha do Cubo d'Água não conheciam a apresentadora e pensavam que a versão era de uma canção italiana. Mas eram fãs da música, "bastante alegre" para eles.
O Brasil também toca no ginásio do vôlei. Anteontem, no intervalo do primeiro set de EUA x Japão, pelo torneio feminino, o sistema de som atacou de "Mamãe eu Quero", que foi acompanhada por uma coreografia das cheerleaders.
Nos outros intervalos, houve música eletrônica e pop-rock chinês. O telão incentivava o público a cada ponto.
No vôlei de praia, a homenagem ao Brasil também teve "Ilariê" e ainda passou por "Festa no Apê", de Latino, e "Liberar Geral", do Terra Samba. Mas, apesar da inclusão dos ritmos brasileiros, as dançarinas contratadas para animar os intervalos, com biquínis enormes, mantiveram a mesma coreografia descoordenada.
Do pop internacional houve um clima trash anos 80 e 90, com Queen, Bon Jovi e Ramones, passando também pela trilha musical de "Caça-Fantasmas", com Ray Parker Jr.
Mas há arenas mais comportadas. Ou desinteressadas.
No ginásio de judô, a participação dos DJs é notada apenas antes do início das competições. E a trilha sonora é sóbria, com ênfase no tema oficial da Olimpíada. Só quando o palco fica vazio, no intervalo entre os blocos da competição, há alguma ousadia, com pop chinês.
O mesmo acontece nos telões. No espaço do judô, os videoclipes trazem a história da modalidade nos Jogos, performances anteriores de judocas e mesmo relatos de momentos de outras modalidades, como Jesse Owens em Berlim-36.
O futebol concorre para ter as arenas menos animadas.
Em Shenyang, ontem, não existia um DJ à vista. Não havia garotas com pom-pom ou qualquer outro evento para levantar o público, que permaneceu calado por quase todo o tempo.
Na estréia da seleção masculina, Jorge Benjor soou no intervalo. Que passou despercebido diante da maioria esmagadora de chineses no estádio.
Antes dos jogos, música de elevador. Ontem, nada de música brasileira. Além do tema de Pequim-08, pop em espanhol.


Texto Anterior: Juca Kfouri
Próximo Texto: Mao Live reúne salada musical de samba e rock
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.