São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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BASQUETE

Em duelo de gigantes, guerra fria vira festa

No confronto, visto por Bush, americanos levam até aplausos

Placar de 101 a 70 para os visitantes não tira ânimo da torcida anfitriã, que saudou tanto Yao Ming quanto Kobe Bryant e LeBron James


ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Se havia clima de guerra fria entre EUA e China para o jogo de basquete de ontem, pela primeira rodada do torneio olímpico, esqueceram de avisar os torcedores da equipe da casa.
O confronto, alardeado pelos presidentes Hu Jintao (China) e George W. Bush (EUA), esteve longe de ser o prenúncio do conflito entre as duas nações pela liderança do quadro geral de medalhas. E não lembrou o clima de tensão criado após o assassinato em Pequim do sogro do técnico da seleção de vôlei dos EUA, Hugh McCutcheon, anteontem, por um chinês, que se matou em seguida.
Austrália e Croácia ainda finalizavam seu jogo. Faltava pouco mais de uma hora para o início da partida, marcada para as 22h15 locais (11h15 de Brasília), e o Ginásio Olímpico de Basquete, na capital chinesa, já estava com seus 18 mil lugares totalmente tomados. Espectadores não paravam de chegar.
Bush foi um deles. O presidente americano encerrou no basquete uma longa jornada de torcedor olímpico que fora iniciada horas antes, nas piscinas, vendo o primeiro triunfo de Michael Phelps na China.
A partida entre o país mais populoso do mundo e a pátria do basquete nestes Jogos Olímpicos gerou enorme interesse. E um problema organizacional: mais torcedores do que a capacidade comportava tinham entrado na arena. Dezenas ficaram em pé, atrás das arquibancadas, com visão da quadra bastante prejudicada. Ninguém, porém, reclamou disso.
Tanta empolgação surpreendeu os organizadores, que tentaram coibir a entrada de mais pessoas nos anéis superiores. Já não se podia andar por ali, nem descer as escadas.
Ninguém deu atenção às grades de proteção, facilmente transpostas, nem aos apelos das voluntárias, que faziam à multidão excedente a ridícula sugestão para que fosse lá fora ver a partida num telão.
A torcida foi pela primeira vez ao delírio na entrada da seleção chinesa na quadra. Yao Ming, maior ídolo do país, iniciou o aquecimento arremessando a bola na cesta. A vibração dos fãs fez parecer até que o confronto já havia começado.
Depois, chegaram os americanos. Ao contrário do que se poderia esperar, foram bastante aplaudidos, principalmente Kobe Bryant e LeBron James.
Novo grito soou das arquibancadas quando Yao acertou uma cesta de três pontos, a primeira da partida, em um lance improvável para um pivô de 2,29 m. "Atirei a bola e não acreditei quando ela caiu."
O mais perto do escárnio ocorreu durante tempo técnico, quando uma mascote com pernas de pau levou tremendo tombo ao tentar apressadamente deixar a quadra.
Nas arquibancadas, estrelas de Hollywood, como Glenn Close e Jared Leto, acompanhavam a disputa, fazendo parecer que o duelo fosse do LA Lakers ou do New York Knicks, que costumam ver esse desfile de celebridades na NBA.
No anel inferior, torcedores chineses exibiam três bandeiras do país. Nem se importaram quando, após cesta dos EUA, alguns poucos americanos, bem ali ao lado, desfraldaram o símbolo de seu país.
E os "Vai, China! Vai, China", berrados pela imensa maioria da arquibancada, não diminuíam de volume e entusiasmo mesmo quando os anfitriões eram atacados. Nem ao final do jogo, vencido pelos EUA por 101 a 70, com certa facilidade.


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