São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Lelê e o pior dos pesadelos

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

O meu nome é Leocádio, mas todos me chamam de Lelê. Hoje eu não quero dormir de jeito nenhum. Mas eu explico por quê:
Eu tenho quatro dias favoritos. O primeiro é o meu aniversário, que é bom porque eu ganho presente, porque tem bolo e porque tem festa. O segundo é o Natal, que é um dia legal porque eu ganho presente e porque tem um monte de comida diferente. O terceiro é a Páscoa, que é bacana porque eu ganho um monte de ovos de Páscoa (se bem que eu não gosto do dia-que-vem-depois-da-Páscoa, porque nesse dia eu sempre tenho dor de barriga). E o quarto dia é amanhã, que é o Dia das Crianças.
Eu gosto tanto do Dia das Crianças que ontem até sonhei com amanhã. Mas não foi um sonho bom, não. Foi assim:
Estava todo mundo aqui em casa (todo mundo é meu pai, minha mãe, meu tio Torero, que vem sempre aqui quando tem festa, e meu avô). Aí todo mundo gritou:
- Feliz Dia das Crianças!
Aí eu achei aquilo superlegal, ainda mais porque cada um trouxe uma caixa de presente e eu estava querendo ganhar uma bola nova, porque a minha que eu tinha antes era muito fraquinha e uma vez, quando eu fui secar ela no forno da minha mãe... bom, deixa pra lá. É melhor nem falar nisso, porque ela ficou brava à beça (mas eu até gostei daquele cheirinho de bola pela casa).
Então o meu pai me deu a caixa dele, e eu abri correndo. Mas não era uma bola. Era uma coisa horrível! Uma coisa realmente terrível: um caderno de tabuada!
- É para você ser um bom aluno de matemática, Lelê.
Aí eu disse obrigado para o meu pai (porque a minha mãe diz que a gente tem sempre que dizer obrigado quando ganha um presente) e abri o presente da minha mãe, que estava numa caixa coloridona, com um lação que deu o maior trabalho para desfazer. Mas aí lá dentro só tinha um casaco de lã.
- É para você não passar frio.
Aí eu disse obrigado para a minha mãe e abri o presente do meu avô. Eu rasguei toda aquela papelada bem rápido para ver o que tinha lá. Se eu soubesse o que tinha, porém, eu tinha aberto bem devagar. Era uma foto minha de quando eu era bebê.
- É a foto mais linda que você já tirou, Lelê!
Aí eu disse muito obrigado para o meu avô e fui abrir o presente do meu tio. Era a maior caixa de todas. Aí eu abri o pacote e aconteceu uma coisa engraçada, porque dentro da caixa tinha outra caixa, e dentro daquela outra caixa tinha outra caixa, até chegar a uma caixa menor de todas, que não tinha nada dentro.
- Gostou?, o meu tio perguntou.
- Mas não tem nada dentro...
- Claro que não. Isso é um jogo de caixas para você guardar seus brinquedos, ele disse com uma cara feliz que me deu a maior raiva.
Aquele presente não servia para nada, porque todo mundo sabe que brinquedo não é para ficar guardado, ainda mais dentro de uma caixa!
Então eu comecei a chorar muito, mas muito mesmo. Minha casa já estava toda alagada e todo mundo ia morrer afogado quando a minha mãe me acordou.
- Não chora, Lelê, você só teve um sonho ruim.
- Ruim, não. Péssimo!
Aí ela me deu um beijo e mandou eu me arrumar para a escola. Esse pesadelo foi muito assustador. É por isso que hoje eu não quero dormir de jeito nenhum.

Testosterona
Ainda no espírito da data, convoco uma seleção cuja marca principal são as espinhas, os hormônios descontrolados e as vozes oscilantes. Goleiros: Fábio (Vasco) e Doni (Corinthians). Laterais: Gabriel (São Paulo), Leonardo Moura (Palmeiras), Chiquinho (Inter) e Fabiano (Atlético-PR). Zagueiros de área: Alex (Santos), Jean (São Paulo), Anderson (Corinthians) e Preto (Santos). Volantes: Paulo Almeida (Santos), Felipe Melo (Flamengo) e Paulo Assunção (Palmeiras). Armadores: Paulinho (Atlético-MG), Kaká (São Paulo), Adrianinho (Ponte Preta), Léo Lima (Vasco) e Diego (Santos). Atacantes: Léo (Guarani), Liédson (Flamengo), Robinho (Santos) e Lima (Coritiba).
Nosso presente Eurico fora, Nabi fora. O futebol brasileiro, tenham certeza, está feliz como criança.

E-mail torero@uol.com.br



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