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FUTEBOL
Lelê e o pior dos pesadelos
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
O meu nome é Leocádio, mas
todos me chamam de Lelê.
Hoje eu não quero dormir de jeito
nenhum. Mas eu explico por quê:
Eu tenho quatro dias favoritos.
O primeiro é o meu aniversário,
que é bom porque eu ganho presente, porque tem bolo e porque
tem festa. O segundo é o Natal,
que é um dia legal porque eu ganho presente e porque tem um
monte de comida diferente. O terceiro é a Páscoa, que é bacana
porque eu ganho um monte de
ovos de Páscoa (se bem que eu
não gosto do dia-que-vem-depois-da-Páscoa, porque nesse dia
eu sempre tenho dor de barriga).
E o quarto dia é amanhã, que é o
Dia das Crianças.
Eu gosto tanto do Dia das
Crianças que ontem até sonhei
com amanhã. Mas não foi um sonho bom, não. Foi assim:
Estava todo mundo aqui em casa (todo mundo é meu pai, minha
mãe, meu tio Torero, que vem
sempre aqui quando tem festa, e
meu avô). Aí todo mundo gritou:
- Feliz Dia das Crianças!
Aí eu achei aquilo superlegal,
ainda mais porque cada um trouxe uma caixa de presente e eu estava querendo ganhar uma bola
nova, porque a minha que eu tinha antes era muito fraquinha e
uma vez, quando eu fui secar ela
no forno da minha mãe... bom,
deixa pra lá. É melhor nem falar
nisso, porque ela ficou brava à beça (mas eu até gostei daquele
cheirinho de bola pela casa).
Então o meu pai me deu a caixa
dele, e eu abri correndo. Mas não
era uma bola. Era uma coisa horrível! Uma coisa realmente terrível: um caderno de tabuada!
- É para você ser um bom aluno de matemática, Lelê.
Aí eu disse obrigado para o meu
pai (porque a minha mãe diz que
a gente tem sempre que dizer
obrigado quando ganha um presente) e abri o presente da minha
mãe, que estava numa caixa coloridona, com um lação que deu o
maior trabalho para desfazer.
Mas aí lá dentro só tinha um casaco de lã.
- É para você não passar frio.
Aí eu disse obrigado para a minha mãe e abri o presente do meu
avô. Eu rasguei toda aquela papelada bem rápido para ver o que tinha lá. Se eu soubesse o que tinha,
porém, eu tinha aberto bem devagar. Era uma foto minha de
quando eu era bebê.
- É a foto mais linda que você
já tirou, Lelê!
Aí eu disse muito obrigado para
o meu avô e fui abrir o presente
do meu tio. Era a maior caixa de
todas. Aí eu abri o pacote e aconteceu uma coisa engraçada, porque dentro da caixa tinha outra
caixa, e dentro daquela outra caixa tinha outra caixa, até chegar a
uma caixa menor de todas, que
não tinha nada dentro.
- Gostou?, o meu tio perguntou.
- Mas não tem nada dentro...
- Claro que não. Isso é um jogo
de caixas para você guardar seus
brinquedos, ele disse com uma cara feliz que me deu a maior raiva.
Aquele presente não servia para
nada, porque todo mundo sabe
que brinquedo não é para ficar
guardado, ainda mais dentro de
uma caixa!
Então eu comecei a chorar muito, mas muito mesmo. Minha casa já estava toda alagada e todo
mundo ia morrer afogado quando a minha mãe me acordou.
- Não chora, Lelê, você só teve
um sonho ruim.
- Ruim, não. Péssimo!
Aí ela me deu um beijo e mandou eu me arrumar para a escola.
Esse pesadelo foi muito assustador. É por isso que hoje eu não
quero dormir de jeito nenhum.
Testosterona
Ainda no espírito da data,
convoco uma seleção cuja
marca principal são as espinhas, os hormônios descontrolados e as vozes oscilantes.
Goleiros: Fábio (Vasco) e Doni (Corinthians). Laterais:
Gabriel (São Paulo), Leonardo Moura (Palmeiras), Chiquinho (Inter) e Fabiano
(Atlético-PR). Zagueiros de
área: Alex (Santos), Jean (São
Paulo), Anderson (Corinthians) e Preto (Santos). Volantes: Paulo Almeida (Santos), Felipe Melo (Flamengo)
e Paulo Assunção (Palmeiras). Armadores: Paulinho
(Atlético-MG), Kaká (São
Paulo), Adrianinho (Ponte
Preta), Léo Lima (Vasco) e
Diego (Santos). Atacantes:
Léo (Guarani), Liédson (Flamengo), Robinho (Santos) e
Lima (Coritiba).
Nosso presente
Eurico fora, Nabi fora. O futebol brasileiro, tenham certeza, está feliz como criança.
E-mail torero@uol.com.br
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