São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

Que negócio é esse?


Nem tudo o que é bom para o futebol brasileiro é necessariamente bom para a televisão, e vice-versa

TERÇA-FEIRA passada, dia 6, Marcelo de Campos Pinto participou de um dos seminários da MaxiMídia, em São Paulo. Trata-se, você sabe, do diretor da Globo Esportes, sempre disposto a mudar o Brasileirão de pontos corridos e voltar ao modelo dos mata- -matas. Mas o assunto em pauta no seminário era Copa de 2014. Da mesa, além do diretor global, participavam J. Hawilla, proprietário de retransmissoras da Rede Globo no interior paulista, Paulo Saad, representante da TV Bandeirantes, e Júlio Casares, ex-diretor de marketing do São Paulo, pela TV Record.
No meio do painel, Marcelo de Campos Pinto colocou um assunto em pauta, do nada.
"Futebol não é entretenimento. É negócio. E, por isso, precisamos tomar muito cuidado com o atual formato do Brasileirão. Estamos largando dinheiro na mesa", declarou, referindo-se a quantias supostamente desperdiçadas.
Imediatamente, Júlio Casares retrucou. Disse que o diretor da Globo quer discutir um modelo consolidado. Ouviu a tréplica: "Você acha que esse modelo funciona porque o São Paulo é tricampeão".
J. Hawilla, concessionário da Globo, e Paulo Saad, da Band, parceira global nas transmissões do Brasileirão, apoiaram Campos Pinto.
Na véspera, segunda, o diretor da Globo participou de reunião no Clube dos 13 e de novo tentou emplacar os mata-matas. O Painel FC, nesta Folha, já deixou claro que o lobby pelo fim dos pontos corridos tenta se fortalecer. Na segunda, os dirigentes ouviram divididos o discurso global. Há os que gostariam de voltar aos mata-matas. Especialmente os que não se aproximaram da luta pela taça nos últimos seis anos. Mas, de modo geral, a ideia não foi bem recebida. "Hoje, há maioria, entre os dirigentes de clubes, pela continuidade dos pontos corridos", diz o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo.
A Globo quer mais do que o fim dos pontos corridos. Quer a diminuição dos Estaduais e o fim da Copa Sul-Americana, ou pelo menos a exclusão dos maiores clubes do país do torneio. Como a CBF já divulgou o calendário de 2010, não há hipótese de mudança no ano que vem. Mas haverá novas batalhas até 2011. Uma delas: o C13 comprometeu-se a encomendar pesquisa para entender o que o consumidor final, o torcedor, julga dos pontos corridos e dos mata-matas.
"Precisamos ouvir nossos patrocinadores, porque, se colocarmos tudo na mesa, eles pagam mais do que a Globo", diz Belluzzo. O presidente alviverde é favorável ao debate. Ao debate, não à imposição. Se o argumento da Globo prega "futebol é negócio", é necessário entender de que negócio se está falando. Se o negócio é o futebol, os clubes melhoraram suas receitas com bilheteria e seus contratos de patrocínio na era dos pontos corridos. Também acabaram com o risco da eliminação em novembro -eram dois meses sem atividade, pagando salário e 13º aos atletas.
O que é bom negócio para o futebol não é necessariamente bom para a TV, e vice-versa. Por isso, se é a Globo quem faz força para os mata-matas voltarem, a pergunta é: ela pensa no bem do futebol ou da TV? Afinal, que negócio é esse?

pvc@uol.com.br


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