São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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JUCA KFOURI

O nobre e o pobre


O extraordinário vôlei brasileiro não precisava de gesto ordinário para ser tri no Mundial da Itália


AO TRITURAR a jovem, e fortíssima, seleção cubana de vôlei na final do Mundial em Roma, a experiente, e campeoníssima, seleção brasileira comprovou aquilo que dela se sabe não é de hoje: bem orientada por Bernardinho, ganha de quem aparecer em sua frente, salvo as exceções de praxe.
Mas nem por isso Bernardinho tem o direito de passar por cima de princípios éticos ou ditar regras como se estivesse acima do bem e do mal, ainda mais fingindo irritação, como se não tivesse entregado o jogo que entregou para depois, contraditório, falar em "assumir responsabilidades". Por isso, por mais nobres que sejam seus objetivos, a seleção não deveria se utilizar de meios pobres, podres, porque além do respeito que deve a si mesma, precisa respeitar quem paga para vê-la jogar.
O tri mundial, queiramos ou não, será sempre lembrado pela vergonha contra a Bulgária, como até hoje é lembrado que a Alemanha Ocidental ganhou a Copa do Mundo de futebol, em 1974, em casa, entregando um jogo para a Alemanha Oriental e, assim, fugindo do Brasil. Os pragmáticos, os que acham que fins justificam meios e os simplesmente cínicos ou inescrupulosos dirão que ética é coisa de filósofo e repetirão o paradigmático Eurico Miranda. Não será por outra razão que vivemos num país em que um partido como o PSDB é fundado para se distanciar de uma figura como Orestes Quércia e hoje se alia a ele. Ou que PT e Collor e Sarney remam no mesmo barco. Ou que Netinho é candidato do PC do B!
Candidato mesmo, sem atropelar as regras e os bons costumes, passou a ser o Cruzeiro, graças à suada vitória por 1 a 0 contra o Fluminense, numa tarde em que o tricolor perdeu quatro gols que até a sua, raro leitor, e a minha avó fariam. Azar dos cariocas, sorte dos mineiros, que ainda viram a tragicômica derrota corintiana para um dos rabeiras do Brasileirão, o Atlético-GO, por 4 a 3, no Pacaembu.
Heranças de Mano Menezes como Moacir e Souza têm custado caro, mas não a ponto de justificar a demissão de Adilson Batista, que abandonou o barco de maneira surpreendente, numa atitude que beira o pânico se nada mais houver entre a decisão dele e vontade do clube que, está claro, sugeriu, concordou e até gostou da renúncia.
Alguma coisa estranha acontece no Corinthians, porque não é a primeira vez que um técnico aparentemente respaldado deixa de segurar o rojão, por experiente que seja, caso do próprio Adilson agora e de Leogevildo Júnior que, em 2003, não resistiu mais que duas rodadas. Uma coisa é certa: se o vôlei brasileiro não precisa fugir para vencer, o futebol corintiano precisa vencer para não fugir.

blogdojuca@uol.com.br


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