São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Perigo à vista

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Se o Brasileirão terminasse hoje, três ex-campeões -Internacional, Palmeiras e Botafogo- seriam rebaixados para a Série B. À medida que a hora H se aproxima, cresce o temor de uma eventual virada de mesa que evite o rebaixamento dos grandes.
A julgar pelo que disse na ESPN Brasil o presidente do São Paulo, Portugal Gouvêa, já estaria sendo preparado na surdina um "plano B" para salvar os rebaixados.
Nesse estratagema, a organização do próximo Nacional, que a CBF recentemente retomou para si, voltaria às mãos dos clubes, o que justificaria "começar tudo do zero" -a exemplo do que aconteceu em 2000, com a malfadada Copa João Havelange.
Assim, a Série A do ano que vem poderia ter 26, 28 ou até 32 equipes, dependendo das pressões de clubes e federações.
Uma baixaria desse gênero jogaria por terra não apenas a credibilidade do campeonato como também todo o esforço que vem sendo feito para moralizar o futebol brasileiro.
A população já rejeitou nas urnas os mais atrasados caciques da bola. Os torcedores pressionam por mudanças em seus clubes (Edmundo Santos Silva foi escorraçado do Flamengo e Eurico Miranda já é vaiado em São Januário).
Tudo indica que não há clima para uma virada de mesa. Mas, com essa gente, todo cuidado é pouco.


Do Corinthians de Parreira poderíamos dizer o mesmo que João Cabral de Melo Neto escreveu sobre Ademir da Guia num poema memorável:
"(...) impõe com seu jogo/ o ritmo do chumbo (e o peso),/ da lesma, da câmera lenta, do homem dentro do pesadelo."
O time parece querer vencer o oponente pelo torpor, se não pelo tédio. Não se impõe pela técnica, nem pela força, nem pela criatividade, mas pelo controle do ritmo:
"Ritmo líquido se infiltrando/ no adversário, grosso, de dentro,/ impondo-lhe o que ele deseja,/ mandando nele, apodrecendo-o."
Se a tarde é de muito calor, como a de ontem, no Maracanã, a eficácia desse esquema de jogo é facilitada:
"Ritmo morno, de andar na areia,/ de água doente de alagados,/ entorpecendo e então atando/ o mais irrequieto adversário."
Mas às vezes o feitiço se volta contra o feiticeiro. Foi o que aconteceu ontem.
Até a metade do segundo tempo, o Botafogo -que precisava desesperadamente da vitória- parecia hipnotizado pela posse de bola corintiana.
Como a cascavel que paralisa sua presa e prepara o momento de dar o bote, o Corinthians cercava a área botafoguense e dava eventualmente suas estocadas. Perdeu uns três ou quatro gols, em sua maioria graças a grandes defesas de Carlos Germano, que não se deixou hipnotizar.
Mas eis que, quando os próprios corintianos já bocejavam à espera do apito final, foram vítimas de seu próprio veneno.
Numa jogada rápida e mortífera, o Botafogo chegou à vitória. Doni, pego de surpresa por um chute de Lúcio, espalmou a bola para dentro da área. Dois atletas que tinham entrado no segundo tempo -Rogério e Fábio- aproveitaram o rebote. A defesa corintiana chegou na cobertura uns dois dias depois.
Quem queria vencer por pontos acabou derrotado por nocaute no último round.

Reação da Ponte

A Ponte Preta fez contra o Santos, no sábado, sua melhor partida neste campeonato. Uma defesa sólida, um meio-campo eficiente (com destaque para o incansável Mineiro) e Basílio numa tarde inspirada foram a receita para barrar o ímpeto dos meninos da Vila. Pena que a Macaca tenha acordado um pouco tarde, o que torna difícil sua classificação para a próxima fase.

Oferecido

Vão dizer que sou implicante com Luiz Felipe Scolari, mas não posso deixar de dizer que foi vergonhosa sua excursão à Europa para se oferecer a clubes e seleções. Por não ter conseguido nada satisfatório, aumentam as chances de ser reconvidado a dirigir a seleção brasileira. Vai soar como um prêmio de consolação. Mas a CBF não devia esperar Felipão resolver sua vida antes de traçar seus planos.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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