São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

2008 justifica outra revolução chinesa

Ritmo das construções é vertiginoso e em semanas bairros são remodelados em Pequim, sede da próxima Olimpíada

Concepções de arquitetos de renome internacional, selecionados por concurso do governo, ganham corpo nas obras da capital chinesa


CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

Mais do que um evento esportivo gigantesco, a Olimpíada de 2008 será o palco de apresentação da China ao mundo, uma espécie de baile de debutantes da potência emergente. Principal centro das competições, a cidade de Pequim vive uma revolução urbana de proporções poucas vezes vista na história, para a qual foram contratados alguns dos melhores arquitetos do mundo.
As mudanças na paisagem de Pequim são medidas em meses, não em anos. Bairros inteiros deixam de existir em questão de semanas, novas ruas parecem surgir do nada e no intervalo de um ano o visitante se surpreende com prédios que antes eram inexistentes.
O ritmo das construções é vertiginoso e é difícil andar cinco minutos de carro na cidade sem passar por um canteiro de obras, normalmente de proporções gigantescas.
Novos marcos em uma cidade que tem monumentos centenários como a Cidade Proibida, as obras que serão as estrelas de 2008 refletem a imagem que a China pretende projetar ao mundo: grandiosas, caras, ousadas e desafiadoras do ponto de vista tecnológico.
Projetos de arquitetos celebrados internacionalmente -como o britânico Norman Foster e o holandês Rem Koolhaas- foram escolhidos em concursos promovidos pelo governo chinês a partir de 2001, ano em que Pequim foi escolhida para sediar a Olimpíada.
As principais estrelas da revolução urbana da cidade são o Ninho de Pássaros, como foi batizado o Estádio Olímpico, o Cubo d'Água (centro das competições de natação), a nova sede da TV estatal CCTV, o Terminal 3 do aeroporto e o Teatro Nacional -único projeto que teve início antes de 2001.
De todos, o mais surpreendente é o prédio que abrigará a CCTV, com o qual o governo chinês pretende dar à sua rede oficial prestígio comparável ao de gigantes como a britânica BBC e a americana CNN.
Concebido por Koolhaas, o projeto está entre os de mais difícil execução já concebidos em todo o mundo. "O design não se assemelha a nada que tenha sido construído", disse à Folha o inglês Rory McGowan, da empresa de engenharia Arup, que se associou ao escritório de Koolhaas na competição.
McGowan chefiou uma equipe de 100 designers e engenheiros que trabalharam durante dois anos no desenvolvimento de soluções técnicas para o projeto, que tem duas torres inclinadas e conectadas, como duas letras "Z" invertidas, com um enorme vão livre no meio. Quando estiverem prontas, as duas torres conectadas abrigarão 10 mil pessoas. Ao lado, um outro edifício terá um centro de convenções e um hotel para receber visitantes.
Para dar a dimensão da grandiosidade do projeto, McGowan o compara à torre Canary Wharf, o mais alto edifício de Londres, que tem 80 mil m2 de construção. A nova sede da CCTV terá 560 mil m2.
O prédio é uma pequena fração dos milhões de metros quadrados em construção que Pequim ganha a cada ano. Em 2005, a cidade concluiu 32,23 milhões de m2 de obras residenciais. No mesmo ano, foram entregues em São Paulo 4,61 milhões de m2.
O novo terminal do aeroporto, projetado por Foster, terá a missão de impactar os visitantes logo que aterrissarem na cidade. Mais caro de todos os projetos (US$ 2,8 bilhões), o terminal tem dois prédios futuristas, conectados por um trem que percorre em três minutos os 2 km que os separam.
No interior, o amplo espaço é pontuado por enormes colunas vermelhas, que lembram os monumentos tradicionais chineses. Além da grandiosidade, o aeroporto promete impressionar pela eficiência. O sistema de entrega de bagagens, desenvolvido pela alemã Siemens ao custo de US$ 250 milhões, será um dos mais rápidos em operação no mundo.
Mas as atenções durante os Jogos estarão voltadas para os locais de competição, também concebidos por arquitetos estrangeiros escolhidos em competições internacionais.
O Ninho de Pássaros foi desenhado pela dupla suíça Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Como Foster e Koolhaas, eles já receberam o Pritzker, o equivalente do prêmio Nobel na arquitetura. Outra atração será o Cubo d'Água, que dará a impressão de ser construído com bolhas agrupadas.
A Arup participou do desenvolvimento dos dois projetos. Segundo McGowan, o maior desafio do Ninho de Pássaros foi o trabalho com os "fios" de aço que formam seu corpo.
O Cubo d'Água não teve uma execução complicada, mas exigiu um exaustivo trabalho anterior de projeções matemáticas, diz. O desenho que parece aleatório obedeceu ao conceito de ocupação mais eficiente do espaço infinito por um objeto determinado -no caso, bolhas de água.


Texto Anterior: Alemão: Werder Bremen vence com gols brasileiros
Próximo Texto: Reforma total
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.