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2008 justifica outra revolução chinesa
Ritmo das construções é vertiginoso e em semanas bairros são remodelados em Pequim, sede da próxima Olimpíada
Concepções de arquitetos de renome internacional, selecionados por concurso do governo, ganham corpo nas obras da capital chinesa
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
Mais do que um evento esportivo gigantesco, a Olimpíada de 2008 será o palco de apresentação da China ao mundo,
uma espécie de baile de debutantes da potência emergente.
Principal centro das competições, a cidade de Pequim vive
uma revolução urbana de proporções poucas vezes vista na
história, para a qual foram contratados alguns dos melhores
arquitetos do mundo.
As mudanças na paisagem de
Pequim são medidas em meses,
não em anos. Bairros inteiros
deixam de existir em questão
de semanas, novas ruas parecem surgir do nada e no intervalo de um ano o visitante se
surpreende com prédios que
antes eram inexistentes.
O ritmo das construções é
vertiginoso e é difícil andar cinco minutos de carro na cidade
sem passar por um canteiro de
obras, normalmente de proporções gigantescas.
Novos marcos em uma cidade que tem monumentos centenários como a Cidade Proibida, as obras que serão as estrelas de 2008 refletem a imagem
que a China pretende projetar
ao mundo: grandiosas, caras,
ousadas e desafiadoras do ponto de vista tecnológico.
Projetos de arquitetos celebrados internacionalmente
-como o britânico Norman
Foster e o holandês Rem Koolhaas- foram escolhidos em
concursos promovidos pelo governo chinês a partir de 2001,
ano em que Pequim foi escolhida para sediar a Olimpíada.
As principais estrelas da revolução urbana da cidade são o
Ninho de Pássaros, como foi
batizado o Estádio Olímpico, o
Cubo d'Água (centro das competições de natação), a nova sede da TV estatal CCTV, o Terminal 3 do aeroporto e o Teatro
Nacional -único projeto que
teve início antes de 2001.
De todos, o mais surpreendente é o prédio que abrigará a
CCTV, com o qual o governo
chinês pretende dar à sua rede
oficial prestígio comparável ao
de gigantes como a britânica
BBC e a americana CNN.
Concebido por Koolhaas, o
projeto está entre os de mais difícil execução já concebidos em
todo o mundo. "O design não se
assemelha a nada que tenha sido construído", disse à Folha o
inglês Rory McGowan, da empresa de engenharia Arup, que
se associou ao escritório de
Koolhaas na competição.
McGowan chefiou uma equipe de 100 designers e engenheiros que trabalharam durante dois anos no desenvolvimento de soluções técnicas para o projeto, que tem duas torres inclinadas e conectadas, como duas letras "Z" invertidas,
com um enorme vão livre no
meio. Quando estiverem prontas, as duas torres conectadas
abrigarão 10 mil pessoas. Ao lado, um outro edifício terá um
centro de convenções e um hotel para receber visitantes.
Para dar a dimensão da grandiosidade do projeto, McGowan o compara à torre Canary
Wharf, o mais alto edifício de
Londres, que tem 80 mil m2 de
construção. A nova sede da
CCTV terá 560 mil m2.
O prédio é uma pequena fração dos milhões de metros quadrados em construção que Pequim ganha a cada ano. Em
2005, a cidade concluiu 32,23
milhões de m2 de obras residenciais. No mesmo ano, foram
entregues em São Paulo 4,61
milhões de m2.
O novo terminal do aeroporto, projetado por Foster, terá a
missão de impactar os visitantes logo que aterrissarem na cidade. Mais caro de todos os
projetos (US$ 2,8 bilhões), o
terminal tem dois prédios futuristas, conectados por um trem
que percorre em três minutos
os 2 km que os separam.
No interior, o amplo espaço é
pontuado por enormes colunas
vermelhas, que lembram os
monumentos tradicionais chineses. Além da grandiosidade,
o aeroporto promete impressionar pela eficiência. O sistema de entrega de bagagens, desenvolvido pela alemã Siemens
ao custo de US$ 250 milhões,
será um dos mais rápidos em
operação no mundo.
Mas as atenções durante os
Jogos estarão voltadas para os
locais de competição, também
concebidos por arquitetos estrangeiros escolhidos em competições internacionais.
O Ninho de Pássaros foi desenhado pela dupla suíça Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Como Foster e Koolhaas,
eles já receberam o Pritzker, o
equivalente do prêmio Nobel
na arquitetura. Outra atração
será o Cubo d'Água, que dará a
impressão de ser construído
com bolhas agrupadas.
A Arup participou do desenvolvimento dos dois projetos.
Segundo McGowan, o maior
desafio do Ninho de Pássaros
foi o trabalho com os "fios" de
aço que formam seu corpo.
O Cubo d'Água não teve uma
execução complicada, mas exigiu um exaustivo trabalho anterior de projeções matemáticas, diz. O desenho que parece
aleatório obedeceu ao conceito
de ocupação mais eficiente do
espaço infinito por um objeto
determinado -no caso, bolhas
de água.
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