São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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Rebeca brilha no Pan, mas segue distante da elite

Acusada de doping, nadadora ainda tem tempos aquém das primeiras posições no ranking da Fina e no último Mundial

Técnico afirma que, desde 2005, superar marcas se transformou em obsessão para a velocista brasiliense, que despontou com 13 anos


FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem dificuldades, Rebeca Gusmão faturou dois ouros no Pan do Rio. Sobressaiu em relação às adversárias. Deixou para trás Flávia Delaroli, até a Olimpíada de Atenas, em 2004, a melhor velocista do país.
Sob suspeita de doping -que foi detectado em 13 de julho, o dia da abertura dos Jogos cariocas-, a nadadora alcançou seus melhores resultados na carreira. Mas ainda estava distante da elite mundial das piscinas.
Com as marcas do Pan, chegaria, no máximo, à final dos 50 m livre no último Mundial, em Melbourne, em março deste ano. Não passaria das semifinais nos 100 m livre.
Na competição regional, os 25s05 (nos 50 m) e os 55s17 (nos 100 m) garantiram os triunfos. Mas o primeiro tempo é o 11º melhor do ranking da Fina (Federação Internacional de Natação) desta temporada. O obtido nos 100 m é o 29º.
Se forem comparados com o Mundial de Melbourne, o desempenho também fica aquém. O dos 50 m no Pan garantiria a Rebeca a oitava posição no torneio. A marca dos 100 m significaria a 12ª colocação.
Os dois tempos do Pan, em termos olímpicos, só dariam pódio nos anos 80 e 90. Os 55s17 assegurariam a prata em Seul-88 nos 100 m, e os 25s05 dos 50 m serviriam para levar o bronze em Atlanta-96.
Rebeca é acusada de ter injetado testosterona, hormônio masculino que aumenta a força muscular -algo vital em provas rápidas, em que braçadas e pernadas são mais decisivas.
A atleta atribuiu o aparecimento da substância em seu corpo ao problema de ovário policístico. Um teste feito pela Fina em 13 de julho acusou o excesso de testosterona, segundo o exame, ingerida e não produzida pelo organismo.
Os rumores de que Rebeca teria sido pega num exame antidoping começaram no ano passado, no Pan-Pacífico, em agosto, no Canadá.
O teste da nadadora foi feito em maio de 2006 e também teria acusado testosterona. O caso está sendo analisado pela Corte de Arbitragem do Esporte, que tem sede na Suíça.
O assunto era comentado por colegas e treinadores antes do Pan-Pacífico.
Rebeca começou a despontar em 1997, com 13 anos. Aos 15, disputou o primeiro Pan, em Winnipeg-1999. Foi bronze no 4 x 100 m livre. Segundo um técnico ouvido pela reportagem, que preferiu se manter anônimo, ela era extremamente competitiva naquela época.
A atleta passou pelo Vasco antes de chegar à AABB de Brasília. Saiu de lá no ano passado, indo para o São Caetano.
Em Atenas-2004, sua primeira Olimpíada, viu Flávia Delaroli ser finalista dos 50 m. Enquanto a colega marcou 25s17, recorde sul-americano na ocasião, Rebeca fez 25s31, parando nas semifinais.
De Santo Domingo-2003, seu segundo Pan, até o Rio-2007, Rebeca passou de 66 kg, com 1,77 m, para 82 kg e 1,78 m, segundo dados do Comitê Olímpico Brasileiro. Passou a priorizar a musculação. Após o Pan dominicano, contou com um preparador físico. Faz musculação de segunda a sábado. A cada dia, são três sessões, num total de três horas.
Segundo um técnico que não quis se identificar, de dois anos para cá, superar centésimos se tornou uma obsessão para Rebeca. Virou algo doentio, disse ele, que acompanhou de perto a nadadora brasiliense.
Era comum outros nadadores questionarem Rebeca em conversas entre eles. Até o doping vir à luz de todos.


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