São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

olho na trapaça

Jogos de Pequim causam temor em antidoping

Agência mundial critica luta tímida da China contra o uso de drogas proibidas

Com 1,3 bi de habitantes, sede da Olimpíada-08 faz só 7.000 testes por ano, menos que a Austrália, que possui 1,56% da população chinesa

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A realização da próxima Olimpíada em um local com histórico de escândalos de doping causa temor na principal entidade que combate o uso de drogas ilícitas no esporte.
Em outubro, Dick Pound, presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), foi pessoalmente à China para se inteirar da situação e cobrar empenho maior das autoridades.
"O governo está tentando fazer o melhor. Mas não exerce um controle eficaz sobre o que acontece em todas as Províncias de lá", comentou o dirigente, em entrevista à Folha.
A próxima Olimpíada pode ser a grande oportunidade para os chineses mostrarem que o encobrimento de casos faz parte de um passado nebuloso.
Nos últimos anos, o país tem banido de suas delegações atletas com resultados suspeitos e, a partir de 2004, adotou uma rígida lei penal para tentar coibir o uso de drogas proibidas.
Foram dados alguns passos, mas ainda é pouco, na visão de Pound. "Não há dúvida de que algo está sendo feito. Mas é preciso intensificar a luta. O país deve destinar a ela mais recursos humanos e dar maior transparência ao sistema."
O mandatário da Wada usa dado simples para exemplificar o atraso da sede da Olimpíada.
Por ano, a China, país mais populoso do planeta (cerca de 1,3 bilhão de habitantes), realiza 7.000 testes antidoping. A Austrália, com população de 20 milhões -1,56% da chinesa-, promove 8.000 controles.
"Esse desequilíbrio faz com que o programa antidoping não seja efetivo. O número de testes não é proporcional ao tamanho do país", criticou ele.
Em agosto foi descoberto que a Escola de Atletismo de Anshan, um dos principais pólos de revelação de talentos, fazia uso sistemático de doping.
No local foram encontradas 25 doses de EPO (eritropoietina), droga que estimula a produção de glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação sangüínea. Também foram apreendidos esteróides anabólicos e testosterona (hormônio masculino) em blitz promovida após uma denúncia anônima.
O caso mostrou aos dirigentes que o doping não é apenas um problema do âmbito esportivo. Lamine Diack, presidente da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo), pede que haja mais ações policiais como essa no país.
"Não podemos fazer nada sem o governo. Só ele pode prender suspeitos, revistar hotéis, parar carros. Só com o governo poderemos reforçar essa luta", pede o dirigente, que defende mais rigor nas punições.
Já não era hora. Medalhas e recordes da China nos anos 90 causaram estranheza e críticas. Essas façanhas têm sido comparadas às dos alemães orientais nas décadas de 70 e 80.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: China aposta em testes e juventude para ser a melhor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.