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olho na trapaça
Jogos de Pequim causam temor em antidoping
Agência mundial critica luta tímida da China contra o uso de drogas proibidas
Com 1,3 bi de habitantes, sede da Olimpíada-08 faz só 7.000 testes por ano, menos que a Austrália, que possui 1,56% da população chinesa
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A realização da próxima
Olimpíada em um local com
histórico de escândalos de doping causa temor na principal
entidade que combate o uso de
drogas ilícitas no esporte.
Em outubro, Dick Pound,
presidente da Wada (Agência
Mundial Antidoping), foi pessoalmente à China para se inteirar da situação e cobrar empenho maior das autoridades.
"O governo está tentando fazer o melhor. Mas não exerce
um controle eficaz sobre o que
acontece em todas as Províncias de lá", comentou o dirigente, em entrevista à Folha.
A próxima Olimpíada pode
ser a grande oportunidade para
os chineses mostrarem que o
encobrimento de casos faz parte de um passado nebuloso.
Nos últimos anos, o país tem
banido de suas delegações atletas com resultados suspeitos e,
a partir de 2004, adotou uma
rígida lei penal para tentar coibir o uso de drogas proibidas.
Foram dados alguns passos,
mas ainda é pouco, na visão de
Pound. "Não há dúvida de que
algo está sendo feito. Mas é
preciso intensificar a luta. O
país deve destinar a ela mais
recursos humanos e dar maior
transparência ao sistema."
O mandatário da Wada usa
dado simples para exemplificar
o atraso da sede da Olimpíada.
Por ano, a China, país mais
populoso do planeta (cerca de
1,3 bilhão de habitantes), realiza 7.000 testes antidoping. A
Austrália, com população de 20
milhões -1,56% da chinesa-,
promove 8.000 controles.
"Esse desequilíbrio faz com
que o programa antidoping não
seja efetivo. O número de testes não é proporcional ao tamanho do país", criticou ele.
Em agosto foi descoberto
que a Escola de Atletismo de
Anshan, um dos principais pólos de revelação de talentos, fazia uso sistemático de doping.
No local foram encontradas
25 doses de EPO (eritropoietina), droga que estimula a produção de glóbulos vermelhos,
melhorando a oxigenação sangüínea. Também foram
apreendidos esteróides anabólicos e testosterona (hormônio
masculino) em blitz promovida
após uma denúncia anônima.
O caso mostrou aos dirigentes que o doping não é apenas
um problema do âmbito esportivo. Lamine Diack, presidente
da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo), pede que haja mais ações
policiais como essa no país.
"Não podemos fazer nada
sem o governo. Só ele pode
prender suspeitos, revistar hotéis, parar carros. Só com o governo poderemos reforçar essa
luta", pede o dirigente, que defende mais rigor nas punições.
Já não era hora. Medalhas e
recordes da China nos anos 90
causaram estranheza e críticas.
Essas façanhas têm sido comparadas às dos alemães orientais nas décadas de 70 e 80.
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