São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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JUCA KFOURI

O fotógrafo e o Pacaembu


Impossível não se comover diante da cena no grandioso, e belo, salão de entrada do Museu do Futebol

TODO DE branco, o velho fotógrafo chegou à noite de autógrafos pontualmente. Thomaz Farkas, 84, entrava no Museu de Futebol, recebido por seu diretor, Leonel Katz, na terça-feira à noite, de braço dado com a companheira Marli, para lançar oficialmente o livro "Pacaembu", da DBA Editora.
Um livro que resume parte do trabalho de toda uma vida, a deste brasileiro nascido na Hungria que viu o o estádio surgir desde que o terreno foi desmatado e que fotografou também todo o entorno para mostrar uma cidade de São Paulo que não existe mais, mas que era de uma delicadeza insuspeitada.
Delicadeza. Eis a palavra que melhor define o velho e bom, e ótimo, e exemplar, Farkas.
Ali estavam seus filhos Bia, João e Kiko, cada um a seu modo herdeiros do talento do pai, netos e netas, noras e genro, numa noite em que o carinho era a marca registrada. Mais de uma centena de admiradores foram pegar a dedicatória do autor cuja letra é desenhada, clara, firme e invejável.
Nada mesmo como um dia após o outro. Thomaz Farkas não é apenas um dos fotógrafos que revolucionaram a fotografia brasileira ao lado de Geraldo de Barros, José Oiticica Filho e José Yalenti.
É, também, um calígrafo de primeira. E diga-se que nem precisava, dada a excelência de suas fotos, invariavelmente em branco e preto, cores também de seu time do coração, o Corinthians.
Três dias antes da tocante noite, porém, uma ambulância na porta do prédio em que mora em Higienópolis, com vista para o portão principal do Pacaembu, assustou os vizinhos.
O velho combatente que conheceu os porões da ditadura brasileira foi dar no hospital, vítima de uma infecção que está sendo devidamente tratada com antibióticos.
A proposta de adiamento do lançamento foi rechaçada com a firmeza dos bravos e lá estava ele, belíssimo em seus trajes de verão, como se o estádio de sua vida fosse o rio Danúbio de sua infância.
Bob Wolfenson, Cristiano Mascaro, Edu Simões, discípulos que honram o mestre, lá estavam, tão comovidos como Alexandre Dórea, o editor, Alexandre Machado, Antonio de Franceschi, Carlos Augusto Calil, Danilo Santos de Miranda, Gaspar Gasparian Filho, cujo pai foi outro gigante da fotografia, José Possi Neto, Luiz Carlos Bresser Pereira, Roberto Teixeira da Costa e Zuza Homem de Mello, a cultura em desfile.
Farkas, cuja trajetória está também indissociavelmente ligada à Fotoptica, loja que herdou do pai e multiplicou até vender, depois de duas horas ininterruptas de dedicatórias individualizadas para cada admirador, cansou-se e voltou para casa, de onde, ao acordar, foi para o hospital retomar os cuidados que sua saúde exige.
Com a tranqüilidade de quem viveu mais um belo dia, tanto quanto as poéticas 101 fotos que ilustram as 142 páginas de sua obra mais recente, em formato de livro de mesa, nas quais muito mais que a bola rolando interessam as pessoas, os torcedores que lotavam o chamado, pelos narradores das antigas, próprio da municipalidade, sinônimo de estádio municipal... O que vale é que Farkas é uma graça.

blogdojuca@uol.com.br



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