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Ex-Wada quer ouro para Brasil
Para ex-chefe da Agência Mundial Antidoping, pódio dos EUA no 4 x100 m em 2000 deve ser cassado
Dirigente diz que o fato de o esporte ter sido permissivo com doping provoca olhar desconfiado sobre façanhas de Phelps e Bolt em Pequim
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-presidente da Wada
(Agência Mundial Antidoping),
Dick Pound defende a cassação
da medalha de ouro dos EUA
obtida no revezamento 4 x 100
m nos Jogos de Sydney-00.
Em novembro, Tim Montgomery, que integrou aquela
equipe, confessou o uso de drogas proibidas antes de correr.
Em caso de cassação da medalha, o Brasil herdaria o ouro.
"Não há dúvida de que essa
medalha deveria ser retirada.
Espero que o COI faça isso",
afirmou à Folha o dirigente.
Pound também comentou
sobre seu sucessor, John Fahey, as eleições no COI e da
desconfiança em relação aos
feitos de Usain Bolt e Michael
Phelps na última Olimpíada.
FOLHA - Na sua avaliação, como
está a luta contra o doping hoje?
DICK POUND - Creio que tivemos
bom começo e progressos significativos. Mas essa luta está
longe de ser vitoriosa. Devemos
continuar com os esforços de
prevenção e desafiar os fraudadores que não se importam em
seguir as regras do esporte.
FOLHA - É o caso de Tim Montgomery, que confessou recentemente
doping antes de Sydney-00? O sr. é a
favor da cassação dessa medalha?
POUND - Se Montgomery cometeu fraude em Sydney como
integrante do revezamento 4 x
100 m, não há dúvida de que essa medalha deva ser retirada.
Espero que o COI proceda de
acordo com isso.
FOLHA - Mas há a questão dos outros corredores do time...
POUND - Espero que os outros
membros da equipe de revezamento não queiram uma medalha conseguida através de fraude e voluntariamente se disponham a devolver seus ouros.
FOLHA - Antes de deixar a Wada, o
sr. falou com Victor Conte [dono do
laboratório Balco, que fornecia drogas a atletas]. O que foi conversado?
POUND - Foi nosso primeiro
encontro. Tivemos uma conversa genérica sobre como o
doping no esporte estava organizado e quais eram alguns canais de distribuição em nível
internacional e as fragilidades
dos programas de testes.
FOLHA - Após tantos escândalos de
doping, o que o sr. achou das performances de Michael Phelps e Usain
Bolt em Pequim? Foram suspeitas?
POUND - Tenho receio de que,
devido ao esporte ter sido permissivo com o doping, sempre
que um desempenho excepcional ocorra, as pessoas questionem se o doping esteve por trás.
É a maior desgraça para atletas
que competem limpos. Mas é
um legado de um passado que
foi tolerante com o doping.
FOLHA - Por conta disso, o sr. acredita que a Wada errou ao ter voltado atrás na intenção de divulgar
uma lista de esportes que têm falhado na luta contra o doping?
POUND
- É importante que a
Wada execute suas responsabilidades em monitorar a conformidade com o Código Mundial
Antidoping. E é importante para o público saber os esportes e
países que não estão obedecendo [ao código]. Não concordo
com o adiamento da divulgação
desse relatório [para maio].
FOLHA - Em 2009, o COI terá eleições. O sr. pretende participar?
POUND - Acho que minha
chance para me tornar presidente do COI foi em 2001,
quando não fui eleito [perdeu
para o atual presidente, Jacques Rogge]. Então, não tenho
intenção de participar.
FOLHA - Neste ano, Rogge tem sido
criticado por algumas entidades. Crê
que haverá candidato de oposição?
POUND - Quem estiver nesta
posição de presidente do COI
será certamente criticado por
alguns, até por membros da família olímpica. Mas duvido fortemente de que haverá um candidato de oposição. A maioria
dos membros do COI gosta de
competir só quando está certa
da vitória e é muito difícil derrotar um presidente no poder.
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