São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-Wada quer ouro para Brasil

Para ex-chefe da Agência Mundial Antidoping, pódio dos EUA no 4 x100 m em 2000 deve ser cassado

Dirigente diz que o fato de o esporte ter sido permissivo com doping provoca olhar desconfiado sobre façanhas de Phelps e Bolt em Pequim


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), Dick Pound defende a cassação da medalha de ouro dos EUA obtida no revezamento 4 x 100 m nos Jogos de Sydney-00.
Em novembro, Tim Montgomery, que integrou aquela equipe, confessou o uso de drogas proibidas antes de correr.
Em caso de cassação da medalha, o Brasil herdaria o ouro.
"Não há dúvida de que essa medalha deveria ser retirada. Espero que o COI faça isso",
afirmou à Folha o dirigente.
Pound também comentou sobre seu sucessor, John Fahey, as eleições no COI e da desconfiança em relação aos feitos de Usain Bolt e Michael Phelps na última Olimpíada.

 

FOLHA - Na sua avaliação, como está a luta contra o doping hoje?
DICK POUND
- Creio que tivemos bom começo e progressos significativos. Mas essa luta está longe de ser vitoriosa. Devemos continuar com os esforços de prevenção e desafiar os fraudadores que não se importam em seguir as regras do esporte.

FOLHA - É o caso de Tim Montgomery, que confessou recentemente doping antes de Sydney-00? O sr. é a favor da cassação dessa medalha?
POUND
- Se Montgomery cometeu fraude em Sydney como integrante do revezamento 4 x 100 m, não há dúvida de que essa medalha deva ser retirada. Espero que o COI proceda de acordo com isso.

FOLHA - Mas há a questão dos outros corredores do time...
POUND
- Espero que os outros membros da equipe de revezamento não queiram uma medalha conseguida através de fraude e voluntariamente se disponham a devolver seus ouros.

FOLHA - Antes de deixar a Wada, o sr. falou com Victor Conte [dono do laboratório Balco, que fornecia drogas a atletas]. O que foi conversado?
POUND
- Foi nosso primeiro encontro. Tivemos uma conversa genérica sobre como o doping no esporte estava organizado e quais eram alguns canais de distribuição em nível internacional e as fragilidades dos programas de testes.

FOLHA - Após tantos escândalos de doping, o que o sr. achou das performances de Michael Phelps e Usain Bolt em Pequim? Foram suspeitas?
POUND
- Tenho receio de que, devido ao esporte ter sido permissivo com o doping, sempre que um desempenho excepcional ocorra, as pessoas questionem se o doping esteve por trás. É a maior desgraça para atletas que competem limpos. Mas é um legado de um passado que foi tolerante com o doping.

FOLHA - Por conta disso, o sr. acredita que a Wada errou ao ter voltado atrás na intenção de divulgar uma lista de esportes que têm falhado na luta contra o doping?
POUND
- É importante que a Wada execute suas responsabilidades em monitorar a conformidade com o Código Mundial Antidoping. E é importante para o público saber os esportes e países que não estão obedecendo [ao código]. Não concordo com o adiamento da divulgação desse relatório [para maio].

FOLHA - Em 2009, o COI terá eleições. O sr. pretende participar?
POUND
- Acho que minha chance para me tornar presidente do COI foi em 2001, quando não fui eleito [perdeu para o atual presidente, Jacques Rogge]. Então, não tenho intenção de participar.

FOLHA - Neste ano, Rogge tem sido criticado por algumas entidades. Crê que haverá candidato de oposição?
POUND
- Quem estiver nesta posição de presidente do COI será certamente criticado por alguns, até por membros da família olímpica. Mas duvido fortemente de que haverá um candidato de oposição. A maioria dos membros do COI gosta de competir só quando está certa da vitória e é muito difícil derrotar um presidente no poder.


Texto Anterior: Pressão: Organizada diz que irá cobrar astro sobre respeito ao time
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.