São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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RITA SIZA

Uma maratona por dia


Por vezes penso no que leva as pessoas a querer dedicar-se ao esporte de forma profissional


TALVEZ PORQUE também seja asmática e incapaz de correr mais de 100 metros sem o auxílio de corticosteroides, fiquei ainda mais impressionada com a história daquele belga que, desprezando a sua própria condição brônquica, correu uma maratona por dia durante um ano. Stefaan Engels, aí está um doido. 365 maratonas seguidas. É obra.
Parece que o senhor Stefaan Engels, de 49 anos e designer gráfico de profissão, quis provar que as limitações físicas não impedem ninguém de praticar uma actividade física -nem sequer uma tão exigente como a corrida olímpica de 42 quilómetros. Em criança, os médicos tinham-lhe dito que ele nunca conseguiria fazer esporte. Não sei como daí ele foi pensar: "Lá está, uma maratona por dia, nem sabe o bem que lhe fazia!". E, antes de correr uma maratona por dia, ele já tinha tido outra ideia maluca: num só ano terminou 20 triatlos do Iron Man.
Mas, para mim, o mais curioso na sua história foi a explicação que ele deu esta semana, quando finalmente terminou o seu mais recente projecto. "Nunca encarei o meu ano da maratona como uma tortura. Eu encarava como um trabalho normal. Levantava-me e ia correr, como quem se levanta e vai para o trabalho. Havia dias em que não me apetecia, mas tinha de ser, e lá ia eu: corria, tomava um duche, fazia a minha fisioterapia e pronto, estava feito o dia, podia voltar para casa".
Por vezes penso no que leva as pessoas a querer ser esportistas -ou, melhor dizendo, a querer dedicar-se ao esporte profissionalmente. É o talento, é a paixão, é o salário, é o reconhecimento público, é a falta de outras alternativas? Por exemplo, uma das minhas interrogações frequentes tem a ver com aquela teoria que diz que só segue uma carreira esportiva quem não tem "jeito" ou então "cabeça" para fazer mais nada. Uma das reacções mais típicas da torcida do futebol é chamar de burro o jogador que faz um passe errado ou leva um cartão desnecessário -um comentário logo complementado pela explicação lógica: "Claro que é burro, se fosse muito inteligente não andava ali a jogar a bola". Quer dizer então que quem é inteligente pode ser médico ou juiz ou escritor, mas não pode ser jogador de futebol (e presumivelmente vice-versa?), pergunto-me.
Às vezes também dou em pensar porque é que tanta gente se dedica às coisas mais estranhas para inscrever o seu nome no livro dos recordes do Guiness. Habitualmente tais coisas são de uma ordem de grandeza máxima, equivalente à sua irrelevância: o maior castelo de areia, a maior feijoada, o maior bigode ou o maior arroto do mundo. Incompreensível.


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