São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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FUTEBOL

O Ronaldinho do Lyon

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A pós assistir nesta semana aos jogos pela Copa dos Campeões da Europa, faço algumas reflexões sobre vários jogadores brasileiros.
Ronaldinho Gaúcho não pára de reinventar o futebol. Cada dia, ele se distancia mais dos outros. O seu repertório é inesgotável, uma síntese das melhores qualidades dos maiores craques de todos os tempos.
O gol contra o Chelsea foi uma mistura de habilidade, técnica, criatividade, magia, velocidade, ousadia e até de muita força física.
Independentemente do que jogar na Copa do Mundo, Ronaldinho já está, no meu conceito, só abaixo do Pelé -e no nível do Maradona e Garrincha. Em um esporte coletivo, seria injusto não colocá-lo neste nível, mesmo se ele não tiver atuações espetaculares no Mundial da Alemanha. Além disso, Ronaldinho já foi espetacular na Copa de 2002.
Dida falhou novamente, no gol do Bayern de Munique. Apesar do chute forte e de curva, ele poderia rebater a bola para o lado, e não para a frente. Mas, nesses últimos quatro anos, vendo futebol todos os dias, os únicos goleiros que falharam raríssimas vezes foram Buffon, da Juventus, e Cech, do Chelsea.
Serginho é melhor do que Gustavo Nery, Júnior, Gilberto e outros laterais cotados para a seleção, mas ele já disse que não quer jogar mais na seleção.
Neste mundo globalizado, em que o sentimento de nação é cada vez menos freqüente, muitos jogadores sonham mais com ótimos contratos em grandes clubes do que com a seleção. Essa sensação de liberdade, de viver sem fronteiras e sem pátria, é uma antiga fantasia das pessoas.
Na verdade, os jogadores brasileiros têm ainda muito mais vontade e prazer de jogar para a sua seleção do que os europeus. Isso e mais a grande cobrança que sofrem da torcida e da sociedade para ganhar uma Copa do Mundo ajudam o time brasileiro. Os grandes craques crescem quando são mais pressionados.
Juninho Pernambucano está para o Lyon como Ronaldinho Gaúcho está para o Barcelona. Nas finalizações de fora da área e nas bolas paradas, cruzadas ou chutadas diretas para o gol, Juninho é ainda melhor do que Ronaldinho Gaúcho. Por isso e por ser ótimo na marcação e no apoio, ele deveria ser titular, no lugar do eficiente Zé Roberto, que ficou na reserva do Bayern contra o Milan.
Contra o Arsenal, Ronaldo mostrou mais uma vez suas deficiências. Ele não está em uma má fase. Ronaldo e nós é que acostumamos, progressivamente, com a sua mudança física, técnica e na maneira de jogar.
Como ele terá 20 dias para se preparar e são apenas sete jogos, Ronaldo ainda poderá brilhar no Mundial da Alemanha.
Platini disse que Ronaldo está quatro anos mais velho, com pouca mobilidade e mais gordo do que antes. Aí a imprensa pinçou as palavras "velho" e "gordo" e virou um bafafá. Zico fez uma defesa emocionada, solidária e nacionalista do jogador.
O excelente preparador físico da seleção, Moraci Sant'Anna, disse que Ronaldo não está gordo. Acredito. Ele deve ter o mesmo peso dos últimos anos, mas não tem mais a mobilidade que tinha até a Copa de 2002.
Pelé também criticou Ronaldo, e, como sempre, suas palavras tiveram enorme repercussão. Não sei bem o que disse o Pelé, pois, dependendo do momento e do local onde ele está, fala coisas diferentes. Não dou também importância às suas opiniões técnicas. Pelé, no seu trabalho de garoto-propaganda, deve assistir, entre uma foto e outra, no máximo, aos melhores momentos de uma partida.
Como todo cidadão, Pelé tem o direito de falar o que pensa. Porém o fato de ser o Rei do Futebol não lhe confere o título de um bom comentarista, a não ser que ele trabalhasse regularmente, que se dedicasse à profissão e que tivesse outras qualidades. Pegar um bico de vez em quando não adianta. Isso serve para qualquer ex-jogador, craque ou não.
Isso é uma coisa.
Outra é a bem-vinda presença de criativos profissionais de outras áreas que, eventualmente ou regularmente, falam ou escrevem sobre futebol.
Por não terem compromisso com as análises técnicas e táticas e por não terem olhares e conceitos viciados de um comentarista, eles enriquecem o nosso vocabulário e ampliam a nossa visão sobre o esporte e o mundo.
E-mail : tostao.folha@uol.com.br


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