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FUTEBOL
O Ronaldinho do Lyon
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A pós assistir nesta semana
aos jogos pela Copa dos
Campeões da Europa, faço algumas reflexões sobre vários jogadores brasileiros.
Ronaldinho Gaúcho não pára
de reinventar o futebol. Cada dia,
ele se distancia mais dos outros. O
seu repertório é inesgotável, uma
síntese das melhores qualidades
dos maiores craques de todos os
tempos.
O gol contra o Chelsea foi uma
mistura de habilidade, técnica,
criatividade, magia, velocidade,
ousadia e até de muita força
física.
Independentemente do que jogar na Copa do Mundo, Ronaldinho já está, no meu conceito, só
abaixo do Pelé -e no nível do
Maradona e Garrincha. Em um
esporte coletivo, seria injusto não
colocá-lo neste nível, mesmo se ele
não tiver atuações espetaculares
no Mundial da Alemanha. Além
disso, Ronaldinho já foi espetacular na Copa de 2002.
Dida falhou novamente, no gol
do Bayern de Munique. Apesar
do chute forte e de curva, ele poderia rebater a bola para o lado, e
não para a frente. Mas, nesses últimos quatro anos, vendo futebol
todos os dias, os únicos goleiros
que falharam raríssimas vezes foram Buffon, da Juventus, e Cech,
do Chelsea.
Serginho é melhor do que Gustavo Nery, Júnior, Gilberto e outros laterais cotados para a seleção, mas ele já disse que não quer
jogar mais na seleção.
Neste mundo globalizado, em
que o sentimento de nação é cada
vez menos freqüente, muitos jogadores sonham mais com ótimos
contratos em grandes clubes do
que com a seleção. Essa sensação
de liberdade, de viver sem fronteiras e sem pátria, é uma antiga
fantasia das pessoas.
Na verdade, os jogadores brasileiros têm ainda muito mais vontade e prazer de jogar para a sua
seleção do que os europeus. Isso e
mais a grande cobrança que sofrem da torcida e da sociedade
para ganhar uma Copa do Mundo ajudam o time brasileiro. Os
grandes craques crescem quando
são mais pressionados.
Juninho Pernambucano está
para o Lyon como Ronaldinho
Gaúcho está para o Barcelona.
Nas finalizações de fora da área e
nas bolas paradas, cruzadas ou
chutadas diretas para o gol, Juninho é ainda melhor do que Ronaldinho Gaúcho. Por isso e por
ser ótimo na marcação e no
apoio, ele deveria ser titular, no
lugar do eficiente Zé Roberto, que
ficou na reserva do Bayern contra
o Milan.
Contra o Arsenal, Ronaldo
mostrou mais uma vez suas deficiências. Ele não está em uma má
fase. Ronaldo e nós é que acostumamos, progressivamente, com a
sua mudança física, técnica e na
maneira de jogar.
Como ele terá 20 dias para se
preparar e são apenas sete jogos,
Ronaldo ainda poderá brilhar no
Mundial da Alemanha.
Platini disse que Ronaldo está
quatro anos mais velho, com pouca mobilidade e mais gordo do
que antes. Aí a imprensa pinçou
as palavras "velho" e "gordo" e virou um bafafá. Zico fez uma defesa emocionada, solidária e nacionalista do jogador.
O excelente preparador físico da
seleção, Moraci Sant'Anna, disse
que Ronaldo não está gordo.
Acredito. Ele deve ter o mesmo
peso dos últimos anos, mas não
tem mais a mobilidade que tinha
até a Copa de 2002.
Pelé também criticou Ronaldo,
e, como sempre, suas palavras tiveram enorme repercussão. Não
sei bem o que disse o Pelé, pois,
dependendo do momento e do
local onde ele está, fala coisas
diferentes. Não dou também importância às suas opiniões técnicas. Pelé, no seu trabalho de garoto-propaganda, deve assistir,
entre uma foto e outra, no máximo, aos melhores momentos de
uma partida.
Como todo cidadão, Pelé tem o
direito de falar o que pensa. Porém o fato de ser o Rei do Futebol
não lhe confere o título de um
bom comentarista, a não ser que
ele trabalhasse regularmente, que
se dedicasse à profissão e que tivesse outras qualidades. Pegar
um bico de vez em quando não
adianta. Isso serve para qualquer
ex-jogador, craque ou não.
Isso é uma coisa.
Outra é a bem-vinda presença
de criativos profissionais de outras áreas que, eventualmente ou
regularmente, falam ou escrevem
sobre futebol.
Por não terem compromisso
com as análises técnicas e táticas
e por não terem olhares e conceitos viciados de um comentarista,
eles enriquecem o nosso vocabulário e ampliam a nossa visão sobre o esporte e o mundo.
E-mail :
tostao.folha@uol.com.br
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