São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2006

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FUTEBOL

Destruição de mitos

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Além de ter o time que mais fascina no mundo, o Barcelona, da Espanha, é o maior destruidor de mitos, que passam de técnico para técnico, de comentarista para comentarista, de torcedor para torcedor e se tornam "verdades".
É muito mais fácil e seguro repetir do que ousar e inventar. A repetição melhora a técnica, mas, quando excessiva, diminui a beleza e a criatividade.
O primeiro mito destruído pelo Barcelona é o de que jogar com três atacantes é ultrapassado. Os dois que atuam pelos lados no time catalão também avançam pelo meio e, quando dá tempo, recuam para marcar. Vários times europeus têm jogado dessa mesma forma.
O segundo mito é o de que não dá mais para atuar com apenas um volante. Os times brasileiros costumam atuar com dois volantes e mais um terceiro de zagueiro. O Barcelona joga com um volante e dois meias, que atacam e defendem. Não há um meia ofensivo sem participar da marcação. Os laterais também avançam, alternadamente, e a defesa não fica desprotegida.
O terceiro mito é o de que driblar e tabelar pelo meio é estilo do passado, da época de Pelé e Coutinho. A maioria dos gols, em todo o mundo, sai de bolas cruzadas. O Barcelona joga pelos lados e também pelo meio, trocando passes entre os habilidosos Eto'o, Deco e Ronaldinho Gaúcho. O futebol fica mais bonito.
O quarto mito é o de que o maior craque de um time tem de "chamar o jogo para si" e que todas as bolas precisam passar por ele. Ronaldinho Gaúcho atua mais pela esquerda, onde foge dos milhares de marcadores na intermediária. Ele vai para o centro no momento certo.
Os articuladores da equipe são os armadores, principalmente Deco, outro craque. O Barcelona não joga em função do Ronaldinho, como insistem em dizer.
O quinto mito é o de que não dá para marcar por pressão na maior parte do jogo, pois há um grande desgaste físico, todos os jogadores precisam participar e existem muitos espaços na defesa para o contra-ataque do time adversário. O Barcelona faz essa marcação com eficiência e está sempre com a bola no outro campo, perto do gol.
Ronaldinho brilha mais vezes no Barcelona do que na seleção brasileira porque fica mais tempo com a bola perto da área, é um atacante (e não um armador) e o time espanhol é mais organizado do que o do Brasil.
Isso tudo pode ser visto. O restante são divagações de quem só vê os melhores momentos ou os gols no "Jornal Nacional".
Se o Barcelona for campeão da Europa, muitos técnicos vão repetir o seu estilo. Será ótimo para o futebol.
Se o Barcelona perder, não deixará de ser brilhante nem será surpresa, pois vai enfrentar fortes equipes, como o italiano Milan. Será mais uma evidência de que há um grande número de fatores envolvidos no resultado de um jogo e que existem várias maneiras de vencer.
Prefiro ganhar e encantar.

Nova contusão
Um dos motivos da nova contusão muscular do Ronaldo é certamente o grande esforço que ele fez nos últimos jogos para mostrar que estava bem.
Isso reforça a impressão de que Ronaldo não tem mais condições de brilhar com regularidade durante um longo campeonato.
Por isso, ele precisa de um tratamento especial até a Copa do Mundo, que começa em junho, para jogar bem as sete partidas.
A sua contusão e a eliminação do Real Madrid da Copa dos Campeões da Europa e, praticamente, da conquista do título espanhol podem ajudar o Brasil.
Se Romário tivesse tido uma atenção especial nos primeiros seis meses de 1998, ele não teria tido tantas contusões, e a história poderia ter sido outra.
Com o tempo, os grandes craques perdem o esplendor físico e passam a escolher os melhores momentos para brilhar.

Quase craque
Dodô, melhor jogador do Estadual do Rio, excelente atacante, artilheiro de lindos gols, quase craque, que tinha tudo para ser, mas não foi. Por quê?
Por causa da sorte, do destino, dos mistérios, da irregularidade, por ter sido rotulado de desleixado e/ou sonolento, pela falta de orientação dos técnicos ou porque muitas pessoas não gostam de seu sorriso de menino feliz?
Não sei.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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