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FUTEBOL
Destruição de mitos
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Além de ter o time que mais
fascina no mundo, o Barcelona, da Espanha, é o maior destruidor de mitos, que passam de
técnico para técnico, de comentarista para comentarista, de torcedor para torcedor e se tornam
"verdades".
É muito mais fácil e seguro repetir do que ousar e inventar. A
repetição melhora a técnica, mas,
quando excessiva, diminui a beleza e a criatividade.
O primeiro mito destruído pelo
Barcelona é o de que jogar com
três atacantes é ultrapassado. Os
dois que atuam pelos lados no time catalão também avançam pelo meio e, quando dá tempo, recuam para marcar. Vários times
europeus têm jogado dessa mesma forma.
O segundo mito é o de que não
dá mais para atuar com apenas
um volante. Os times brasileiros
costumam atuar com dois volantes e mais um terceiro de zagueiro. O Barcelona joga com um volante e dois meias, que atacam e
defendem. Não há um meia ofensivo sem participar da marcação.
Os laterais também avançam, alternadamente, e a defesa não fica
desprotegida.
O terceiro mito é o de que driblar e tabelar pelo meio é estilo do
passado, da época de Pelé e Coutinho. A maioria dos gols, em todo
o mundo, sai de bolas cruzadas. O
Barcelona joga pelos lados e também pelo meio, trocando passes
entre os habilidosos Eto'o, Deco e
Ronaldinho Gaúcho. O futebol fica mais bonito.
O quarto mito é o de que o
maior craque de um time tem de
"chamar o jogo para si" e que todas as bolas precisam passar por
ele. Ronaldinho Gaúcho atua
mais pela esquerda, onde foge dos
milhares de marcadores na intermediária. Ele vai para o centro no
momento certo.
Os articuladores da equipe são
os armadores, principalmente
Deco, outro craque. O Barcelona
não joga em função do Ronaldinho, como insistem em dizer.
O quinto mito é o de que não dá
para marcar por pressão na
maior parte do jogo, pois há um
grande desgaste físico, todos os jogadores precisam participar e
existem muitos espaços na defesa
para o contra-ataque do time adversário. O Barcelona faz essa
marcação com eficiência e está
sempre com a bola no outro campo, perto do gol.
Ronaldinho brilha mais vezes
no Barcelona do que na seleção
brasileira porque fica mais tempo
com a bola perto da área, é um
atacante (e não um armador) e o
time espanhol é mais organizado
do que o do Brasil.
Isso tudo pode ser visto. O restante são divagações de quem só
vê os melhores momentos ou os
gols no "Jornal Nacional".
Se o Barcelona for campeão da
Europa, muitos técnicos vão repetir o seu estilo. Será ótimo para o
futebol.
Se o Barcelona perder, não deixará de ser brilhante nem será
surpresa, pois vai enfrentar fortes
equipes, como o italiano Milan.
Será mais uma evidência de que
há um grande número de fatores
envolvidos no resultado de um jogo e que existem várias maneiras
de vencer.
Prefiro ganhar e encantar.
Nova contusão
Um dos motivos da nova contusão muscular do Ronaldo é certamente o grande esforço que ele fez
nos últimos jogos para mostrar
que estava bem.
Isso reforça a impressão de que
Ronaldo não tem mais condições
de brilhar com regularidade durante um longo campeonato.
Por isso, ele precisa de um tratamento especial até a Copa do
Mundo, que começa em junho,
para jogar bem as sete partidas.
A sua contusão e a eliminação
do Real Madrid da Copa dos
Campeões da Europa e, praticamente, da conquista do título espanhol podem ajudar o Brasil.
Se Romário tivesse tido uma
atenção especial nos primeiros
seis meses de 1998, ele não teria tido tantas contusões, e a história
poderia ter sido outra.
Com o tempo, os grandes craques perdem o esplendor físico e
passam a escolher os melhores
momentos para brilhar.
Quase craque
Dodô, melhor jogador do Estadual do Rio, excelente atacante,
artilheiro de lindos gols, quase
craque, que tinha tudo para ser,
mas não foi. Por quê?
Por causa da sorte, do destino,
dos mistérios, da irregularidade,
por ter sido rotulado de desleixado e/ou sonolento, pela falta de
orientação dos técnicos ou porque
muitas pessoas não gostam de seu
sorriso de menino feliz?
Não sei.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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