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SONINHA
Para que serve a seleção?
Se até o torcedor, que pode curtir com os amigos, anda enjoado, dá para entender a falta de interesse do jogador
"ZÉ ROBERTO anunciou uma
decisão que deve entristecer pelo menos duas torcidas: vai mesmo embora do Santos
e também da seleção brasileira."
Acabei de dizer isso na TV na sexta
à noite e embatuquei: duas torcidas?
Quem torce pela seleção? Muitos
colegas dizem, há tempos, que o torcedor prefere mil vezes seu time à
seleção. Eu relutava em admitir.
Talvez porque seja um exemplar
exótico de torcedor(a) que escolheu
um time depois de grande; não nasci
com uma camisa de futebol pendurada na porta da maternidade.
Hoje torço com paixão pelas cores
do meu escolhido, mas durante muito tempo a única camisa minha era a
da seleção. Mesmo com o trauma da
minha geração (82), segui interessadíssima no Brasil. Esperava convocações com ansiedade; assistia aos
jogos torcendo. Hoje em dia a gente
assiste, mas não torce, já reparou?
A menos que do outro lado esteja,
vá lá, uma Argentina. Mas às vezes o
bode é tanto que é capaz de brasileiro torcer pela Argentina -quem podia imaginar um negócio desses 20
anos atrás? Não sei dizer quando foi
que perdeu a graça de vez. Teria sido
decisivo o pragmatismo irritante
que nos deu o título em 94?
De lá para cá, houve momentos
muito altos: a final da Copa das Confederações contra a Argentina foi o
bicho, vencer a Alemanha por 2 a 0
em 2002 também não foi nada mal.
E uma coleção imensa de encontros
"café com leite". Que lembranças temos de Brasil x Catalunha, Brasil x
Kuait ou Brasil x Malásia? Se o torcedor, que pode curtir o jogo no bar
com os amigos, ou em casa comendo
uma pizza, já não vê a mesma graça
na seleção, como esperar entusiasmo por parte dos jogadores?
Antigamente, chegar à seleção significava ser reconhecido como um
dos melhores do país e do seu tempo. Ter a oportunidade de jogar ao
lado de outros grandes craques. Estar na melhor equipe possível e medir forças com os selecionados de
outros países.
Para o torcedor, era legal esperar
pela possibilidade de ver aquele
meia fantástico do outro time armando jogadas para o nosso atacante. Seleção era um time dos sonhos.
(Alguns sonhos fugiam do roteiro,
claro. Como disse o Tostão, a gente
adora inventar o passado...)
Jogar na seleção também era a
chance de obter reconhecimento internacional. Onde é que isso tudo
acontece agora? Nos times da Europa, oras. Lá, os melhores se encontram -juntos em uma equipe caprichosamente constituída por destaques de vários países ou se enfrentando em torneios de prestígio, em
estádios lotados. Ah, sim, e ganhando muito bem para isso.
Seleção para quê? Viajar, não treinar, jogar fora de posição, em esquema indefinido... Com adversário que
não representa um desafio, em jogo
que não vale nada. Arranhar o prestígio, em vez de adquirir. Regredir
no futebol, em vez de ascender.
Zé Roberto não quer mais a seleção porque estará velho em 2010.
Outros bem mais novos vão embora
sem se preocupar muito com a invisibilidade que pode afastá-los dela.
Seleção, para muitos, não é mais
objetivo. Não os culpo. (E o Blatter
queria fazer a Copa de dois em dois
anos. Em um mundo tão cheio de
chavões, ele nunca ouviu dizer que
menos é mais?)
soninha.folha@uol.com.br
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