São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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PASQUALE CIPRO NETO

Casi lo de siempre


Ontem tentei ver o jogo do México contra a África do Sul com o olhar de um mexicano

A TÃO DECANTADA Califórnia já foi mexicana. Esse Estado americano, hoje governado pelo austríaco Arnold Schwazenegger, passou para os EUA em 1848. Antes, em 1845, o Texas, que declarara sua independência do México em 1836, resolveu anexar- -se à terra de Tio Sam.
No futebol, o México também conhece suas derrotas. Na história da seleção asteca, são comuns jogos e mais jogos em que a equipe se esforça, luta, chega até a jogar mais ou menos bem, mas... Mas perde, é eliminada etc. E a manchete dos jornais mexicanos nem precisa mudar: "Lo de siempre".
Tirante o Mundial sub-17 de 2005 e a Copa das Confederações de 99 (4 a 3 no Brasil, na final), o México nunca se destacou no esporte mais amado por seu povo. "A México le falta gana para vencer", disse-me um jornalista mexicano aqui no centro de imprensa do Soccer City.
Ontem tentei ver o jogo do México contra a África do Sul com o olhar de um mexicano, ou seja, como quem vive a eterna angústia do inexorável "lo de siempre". Pois o velho script foi quase todo mantido. No primeiro tempo, o México dominou, criou muito mais oportunidades do que o time de Parreira, perdeu algumas chances claras de gol etc. Quase no fim do primeiro tempo, eu disse a Juca Kfouri, que estava ao meu lado, que tudo parecia prontinho para mais um capítulo do "lo de siempre".
Pois não foi preciso esperar mais que dez minutos para a casa mexicana começar a cair, com o gol de Tshabalala. Em seguida, o que se viu foi o predomínio da equipe sul-africana, que, por pouco, não ampliou o resultado.
Quando se começava a confirmar o velho roteiro mexicano, que lembra um trecho do antológico sexto capítulo de "Quincas Borba", de Machado de Assis ("Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas" -no meu caso, o sentimento era de compaixão), o México arrancou o empate, aos 34min do segundo tempo, com um gol de Fio Maravilha, digo, de Rafael Márquez.
Na saída do estádio, um torcedor mexicano vê minha credencial pendurada no pescoço e me pergunta se sou da Fifa. Digo que sou da imprensa, e ele me pergunta de que país. Pronto! O pobre coitado quase me pede desculpas pela disparidade entre o futebol brasileiro e o mexicano (palavras dele). E mostra sua resignação diante do "lo de siempre". "Mas vocês não perderam", disse eu. "Mas vamos perder as próximas." Lo de siempre. É isso.


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