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A razão a serviço da emoção, e vice-versa
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Para terminar, de minha parte, essa discussão sobre os campeonatos regionais, quero esclarecer bem minha posição sobre umas tantas coisas.
1) Não são apenas -nem
principalmente- razões de ordem afetiva ou sentimental que
me levam a defender a continuidade, se não dos estaduais
em geral, pelo menos do Paulista e do Carioca, que conheço
melhor.
Claro que essas razões também pesam. Ver o fim de um
evento que nos trouxe ao longo
dos anos tantas emoções e alegrias é como ver demolirem a
casa onde passamos a infância,
ou o cinema em que vimos os
primeiros filmes.
Mas minha preocupação
maior não é com o passado, e
sim com o futuro.
Como notaram muito bem
vários leitores que me escreveram, acabar com os estaduais
-e, consequentemente, com os
times "pequenos"- equivaleria a liquidar a mais rica fonte
de jogadores com que o país
tem contado. O clichê "celeiro
de craques" não saiu do nada.
Seria tedioso relacionar todos
os jogadores de seleção brasileira -a elite da elite do futebol mundial- revelados nos
campeonatos estaduais. Só para citar alguns do Paulista: Sócrates, Oscar, Raí, Amoroso,
Roberto Carlos, Evair, Luizão.
Sem falar de técnicos, como
Wanderley Luxemburgo e Nelsinho Batista.
2) Não concordo com a mania
da elite brasileira de buscar
modelos prontos externos para
resolver magicamente os problemas nacionais. O Brasil não
é a Itália nem a Espanha nem
os Estados Unidos. Basta olhar
no mapa ou consultar algumas
estatísticas sobre PIB, renda per
capita e coisas do tipo para perceber a diferença.
Aliás, alguém já parou para
pensar na pobreza real do futebol italiano e espanhol -que
têm de recorrer a uma maioria
de atletas estrangeiros para formar campeonatos interessantes- em comparação com o
brasileiro? Alguém já parou para pensar por que acontece isso?
A resposta terá a ver com o
que está escrito acima, no item
1. Abrir mão de nosso patrimônio maior -o "celeiro de craques"- para supostamente
atingir a modernidade e a riqueza do futebol europeu é colocar as coisas de cabeça para
baixo. É como achar que o Brasil pode virar um país de Primeiro Mundo se eliminar (fisicamente) os pobres, os analfabetos, os sem-terra.
3) Discordo também da idéia
do lucro como valor supremo da
civilização, ao qual todos os outros devem ser submetidos.
É claro que o futebol é hoje um
grande negócio no mundo todo,
mas, pelo menos para mim, sua
razão de ser não é o lucro, e sim
o prazer que proporciona a seus
aficionados.
Temo que, ao pensar o esporte
exclusivamente (ou prioritariamente) como negócio lucrativo,
estejamos pensando como a
Prefeitura de São Paulo, para a
qual a função principal do
transporte coletivo não é servir
à população, e sim dar lucro às
empresas de ônibus.
Como o transporte, a saúde e a
educação, o futebol é um bem
social importante demais para
ser abandonado ao sabor dos
interesses de mercado.
Posso estar errado, mas a razão e a emoção (que devem andar sempre juntas) me mandaram dizer isso.
E-mail jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve aos sábados e às
segundas
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