São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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Sobra energia

Esportes apoiados por estatais chegam ao Pan turbinados por aumento de 174% em suas verbas em relação à última edição

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Quem depende do dinheiro da Lei Piva, o grosso das confederações esportivas brasileiras, patina. Quem vai de patrocínio de estatais acelera forte.
O Pan-Americano do Rio será uma amostra dessa divisão de classes do esporte nacional.
O dinheiro das loterias, quase a fonte única de receita para quase 20 confederações, cresceu menos de 20% de 2003, ano da última competição continental, a 2006. Entre o ano retrasado e o passado, houve queda de quase 3%. Foram R$ 69 milhões no último ano.
Tudo muito diferente de quem foi escolhido por uma estatal. Segundo o governo, as empresas públicas gastaram R$ 194 milhões com esportes no ano passado, um crescimento de 174% em relação a 2003, ano do Pan de Santo Domingo e de estréia do governo Lula.
E o Pan carioca vai ser outro fator para impulsionar esse investimento. Patrocinada pela Caixa Econômica Federal desde 2001, a Confederação Brasileira de Atletismo vai receber R$ 10,5 milhões neste ano, 20% a mais do que em 2006.
A CEF dá um motivo histórico, e sem relação com o esporte, para justificar a parceria com a modalidade. "Sei que no atletismo há muitos negros, e no começo de sua história [no século 19] os recursos obtidos pela empresa serviam para obter a liberdade de escravos", diz Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da Caixa.
O banco gasta mais R$ 1,8 milhão com a ginástica, um dos últimos esportes a receber abrigo estatal. Outro é o judô, com R$ 1 milhão por ano da Infraero.
Essas modalidades logo terão, se mantido o retrospecto, um bom aumento. Quando começou a patrocinar o handebol, em 2004, a Petrobras dava R$ 1,3 milhão à confederação brasileira. Neste ano, serão R$ 2,9 milhões. Segundo a empresa, o motivo do aumento é "tornar possível um crescimento cada vez maior do esporte".
A verba paga pelos Correios por temporada para a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos triplicou nos últimos três anos. A da Eletrobrás, para o basquete, dobrou.
Os cerca de R$ 40 milhões que o vôlei recebe do Banco do Brasil por ano superam até o maior patrocínio da CBF -a entidade, com o dólar desvalorizado, terá receita neste ano de R$ 20 milhões via AmBev.
E a exposição das marcas está garantida no Pan. Finais do atletismo e da natação, por exemplo, serão no horário nobre, exibição certa nas TVs.
A ligação entre as estatais e o esporte nacional aparece também nos slogans do Pan. O da Petrobras é "Mais energia para o Pan-2007". O oficial da competição é "Viva essa energia!".
A empresa de petróleo é um dos seis principais patrocinadores dos Jogos -a Caixa é outra estatal nessa lista. Para ter esse direito, pagou R$ 10 milhões. Muito maior será o investimento para a compra de cotas na mídia -R$ 55 milhões.


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