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Celebração revela instabilidade
Festa dos jogadores explicita "racha" patriótico da Espanha, que vive grave crise econômica
DE JOHANNESBURGO
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
Na foto oficial dos atletas
com a taça, ela estava lá, como manda o protocolo. Mas
foi só começar a volta olímpica para a bandeira espanhola
ficar em segundo plano.
Foi uma chance muito
bem aproveitada por diversos jogadores para uma demonstração de nacionalismo. Catalães, o zagueiro Puyol e o meia Xavi pulavam e
beijavam a bandeira de listas
horizontais amarelas e vermelhas da região, que tem
Barcelona como capital.
Nascido em Navarra, área
do norte da Espanha que tem
forte sentimento independentista, o meio-campo Javi
Martínez corria com o pavilhão vermelho da região.
Também podiam ser vistas
bandeiras das Ilhas Canárias
e da Andaluzia, regiões que
se sentem um pouco mais
"espanholas" do que a Catalunha e o País Basco. Uma solitária bandeira espanhola,
empunhada pelo andaluz
Sergio Ramos, marcou presença na volta olímpica.
A possível conquista da
Copa do Mundo, agora concretizada, vinha sendo exaltada ao longo das últimas semanas como uma rara possibilidade de unificar um país
que apresenta alguns dos
sentimentos nacionalistas
mais fortes da Europa.
A seleção é razoavelmente
multicultural, o que ajuda no
esforço de torná-la um símbolo de uma nova Espanha.
Dos 23 campeões, oito são catalães e três são bascos.
A taça chega num momento especialmente delicado
para o equilíbrio do país. Anteontem, uma multidão saiu
às ruas de Barcelona para
protestar contra a decisão do
Tribunal Constitucional espanhol de anular parte do estatuto que reconhece a autonomia da Catalunha.
Além das tensas questões
federativas, a Espanha sagra-se campeã quando tenta
sair da maior crise econômica da sua história recente.
O estouro de uma bolha
imobiliária levou o país a
uma severa recessão no ano
passado. A economia caiu
3,6% em 2009, e o desemprego atingiu 20%. O temor de
uma onda de xenofobia, direcionada sobretudo a ilegais
africanos, é grande.
A Espanha amarga hoje
um dos maiores deficits públicos da União Europeia
(12% do PIB). Em razão de
seu tamanho (é a quinta
maior economia do bloco),
pode arrastar o continente
todo se entrar em colapso. O
país só deverá voltar a registrar crescimento no ano que
vem, segundo prevê o FMI.
No front político, a conquista da Copa pode ser um
bem-vindo impulso para o
primeiro-ministro José Zapatero, que enfrenta queda de
popularidade e corre o risco
de perder o cargo em eleições
marcadas para daqui a dois
anos.
(FÁBIO ZANINI, EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO
COBOS, RODRIGO BUENO, RODRIGO
MATTOS E SÉRGIO RANGEL)
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