São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Celebração revela instabilidade

Festa dos jogadores explicita "racha" patriótico da Espanha, que vive grave crise econômica

DE JOHANNESBURGO
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

Na foto oficial dos atletas com a taça, ela estava lá, como manda o protocolo. Mas foi só começar a volta olímpica para a bandeira espanhola ficar em segundo plano.
Foi uma chance muito bem aproveitada por diversos jogadores para uma demonstração de nacionalismo. Catalães, o zagueiro Puyol e o meia Xavi pulavam e beijavam a bandeira de listas horizontais amarelas e vermelhas da região, que tem Barcelona como capital.
Nascido em Navarra, área do norte da Espanha que tem forte sentimento independentista, o meio-campo Javi Martínez corria com o pavilhão vermelho da região.
Também podiam ser vistas bandeiras das Ilhas Canárias e da Andaluzia, regiões que se sentem um pouco mais "espanholas" do que a Catalunha e o País Basco. Uma solitária bandeira espanhola, empunhada pelo andaluz Sergio Ramos, marcou presença na volta olímpica.
A possível conquista da Copa do Mundo, agora concretizada, vinha sendo exaltada ao longo das últimas semanas como uma rara possibilidade de unificar um país que apresenta alguns dos sentimentos nacionalistas mais fortes da Europa.
A seleção é razoavelmente multicultural, o que ajuda no esforço de torná-la um símbolo de uma nova Espanha. Dos 23 campeões, oito são catalães e três são bascos.
A taça chega num momento especialmente delicado para o equilíbrio do país. Anteontem, uma multidão saiu às ruas de Barcelona para protestar contra a decisão do Tribunal Constitucional espanhol de anular parte do estatuto que reconhece a autonomia da Catalunha.
Além das tensas questões federativas, a Espanha sagra-se campeã quando tenta sair da maior crise econômica da sua história recente.
O estouro de uma bolha imobiliária levou o país a uma severa recessão no ano passado. A economia caiu 3,6% em 2009, e o desemprego atingiu 20%. O temor de uma onda de xenofobia, direcionada sobretudo a ilegais africanos, é grande.
A Espanha amarga hoje um dos maiores deficits públicos da União Europeia (12% do PIB). Em razão de seu tamanho (é a quinta maior economia do bloco), pode arrastar o continente todo se entrar em colapso. O país só deverá voltar a registrar crescimento no ano que vem, segundo prevê o FMI.
No front político, a conquista da Copa pode ser um bem-vindo impulso para o primeiro-ministro José Zapatero, que enfrenta queda de popularidade e corre o risco de perder o cargo em eleições marcadas para daqui a dois anos.
(FÁBIO ZANINI, EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS, RODRIGO BUENO, RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)


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