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UM MUNDO QUE TORCE
¡¡Yo soy español, español, español!!
Em Madri, 250 mil pessoas espremem-se nas ruas para ver
em telões o título espanhol
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Praça de Cibeles, Madri,
Espanha, 11 de julho de 2010.
Havia um homem (ou uma
mulher) com fantasia de polvo. Brincadeira com Paul,
um dos personagens da Copa, que previu vitória espanhola no jogo decisivo.
Havia um nenê ainda de
chupeta e já de camisa 9 da
Fúria, ora nos ombros da
mãe, ora no carrinho, alheio
ao que acontecia ao redor.
Havia garotos e garotas de
cabelos espetados e piercings por todos os lados tentando pular os alambrados
que os separavam dos VIPs.
Mas sendo devolvidos à multidão pela tropa de policiais.
Havia um locutor empolgado. "Um dia muito especial. É a primeira vez em 80
anos de Mundial que estamos numa decisão. É a primeira vez que somos importantes para o mundo", gritava, diante do telão de 60 m2.
Havia crianças espremidas nas grades que não assistiram à seleção espanhola
entrar em campo e não conseguiram ver um lance do jogo. Havia cheiro de maconha, de cerveja, de gente suada no calor de 38º C às 20h30
locais, quando a bola rolou.
Havia turistas de todos os
cantos. E havia camisas de
quem ficou pelo caminho:
Gana, Alemanha, Brasil...
Havia uma menina colocando o copo de sangria,
cheio de gelo, na testa, para
tentar se refrescar um pouco.
Havia um rapaz de cabeça
raspada e uma camisa vermelha com as fotos dos jogadores da Espanha sob a frase
"um sueño, una ilusion".
"Hijo de puta!" Havia muita tensão, que vazava em xingamentos quando o telão
mostrava um lance ríspido.
Havia gente que não parava de chegar, o que justificou
a decisão de tirar o telão do
Santiago Bernabéu e levá-lo
para a praça, no centro.
Desses, havia uns 50 sobre
um caminhão inadvertidamente parado próximo do telão. Virou uma arquibancada, ficou todo amassado.
Havia gente otimista no intervalo. "Estamos dominando. Os holandeses estão muito agressivos. O jogadores espanhóis precisam esquecer
que estão numa final de Copa, jogar mais relaxados",
declarou Alberto Dorado, 27,
economista, madrileno.
Havia gritos de incentivo.
"A por ellos, olê; A por ellos,
olê." Havia festa de gol até
quando o juiz dava cartão
amarelo para um holandês.
O homem (ou mulher) da
fantasia, o nenê, os garotos
rebeldes, os turistas, as
crianças espremidas, a menina da sangria, a turma do caminhão... Havia 250 mil pessoas ali, afirma a polícia.
Havia enorme angústia,
uma dúvida histórica, um
complexo de vira-latas, a
busca pelo inalcançável.
Não há mais.
Porque Iniesta, aos 11min
do segundo tempo da prorrogação, fez um país explodir
em vibração e encher os pulmões para cantar sua nacionalidade com orgulho.
"Yo soy español, español,
español!"
O mantra da Espanha nesta Copa, adotado até por catalães e bascos nos últimos
jogos, invadiu a madrugada.
Madri, a cidade mais feliz
do mundo foi a 31ª e última
parada da série "Um Mundo
Que Torce". Foram 125.124
km, ou dez voltas na Terra,
em 43 voos por 29 companhias aéreas em 31 dias.
É hora de voltar para casa.
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