São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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FUTEBOL

Ver para gostar ou não

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Fiquei entusiasmada com os primeiros momentos da seleção feminina de futebol na Olimpíada. O jogo começou com boa movimentação, bons passes de primeira, jogadas inteligentes e lances individuais que exibiam habilidade e confiança. O futebol da Marta, muito talentosa, amadureceu bastante na Suécia. Não é à toa que os suecos adoram nossa camisa dez, e chegam a compará-la (sem perder a cabeça e a noção da diferença) com outros brasileiros que encantaram por lá, como o Pelé garoto. É visível que os dias de treino intensivo surtiram efeito -o time demonstrou uma organização e um entrosamento que só costumava atingir nas fases finais das competições.
Marta vem de uma cidade em Alagoas que tem baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano. Tem gente que acha que é uma vergonha perder um jogo para Honduras ou não mandar a seleção masculina para Atenas. Talvez seja, mas vergonha mesmo é ter rincões de pobreza como esse (ainda mais quando há ricos que se sustentam da própria pobreza, como muitas vezes acontece).
Semanas atrás, Mario Magalhães admitiu que não gosta de futebol feminino -e apostou que essa é a opinião de muitos, que só não o diriam para não parecerem incorretos. Com razão, lembrou que ninguém sai correndo do trabalho para ver um jogo das mulheres. Só exagerou ao dizer que outros esportes, como basquete e vôlei, estão muitos degraus acima em termos de atração das massas.
Nada se compara ao interesse pelo futebol. Em momentos especiais, a torcida pode se empolgar com um Guga ou uma seleção. Ainda assim, pergunte nas ruas pela equipe que venceu o Grand Prix -se só a Virna e a Fernanda Venturini forem lembradas, já não me espanto. Outro dia fiquei chocada com uma menina que adora e joga basquete e não tinha nenhuma jogadora como ídolo. Não lembrou de um nome. Nem Paula, Hortência ou Janeth. Como culpá-la por não conhecer o que nunca lhe foi apresentado? O futebol (masculino) está em todos os lugares o tempo todo...
É difícil se empolgar com o que você não conhece ou não entende direito. Mesmo no futebol masculino, quem vai se interessar por Criciúma x Ponte Preta sem ser torcedor de um dos dois ou de um rival direto? O aficionado pode acabar perdendo um grande jogo, mas não troca a partida do seu time, por pior que seja, por aquela.
Futebol feminino -como o cinema brasileiro, que penou muito tempo com o "não vejo e não gosto"- pode ser bom ou ruim, empolgante ou chato, caprichado ou esculhambado. O interesse ou desconfiança são compreensíveis, mas é preciso ver um jogo de vez em quando para poder dizer "gostei" ou "não gostei" cheio de motivos. Ontem o Brasil teve ótimos momentos, mas também vacilos irritantes (gols perdidos no segundo tempo, um por preciosismo, outro por afobação). Gostar do feminino significa xingar as jogadoras também... Sem piedade, sem medo de ser incorreto, simplesmente torcendo como a gente torce por qualquer time.

Vocabulário masculino
É divertido ouvir o grito de alerta de uma jogadora para outra: "Ladrão!".

Critério histórico
Alguns times entram na Copa Sul-Americana pelo ranking de clubes, outros pela classificação no Brasileiro. Por isso, esta edição terá o Grêmio, 20º no ano passado, e não o Atlético-PR, que foi o 12º. Com o ranking, vale a história do time, e não a situação atual. É como se um atleta meio fora de forma (mas com muitas medalhas no armário) tirasse a vaga de outro em melhores condições.

Concordo
A CBF entende que auditores com mandato encerrado não podiam eleger o presidente do STJD. Eu também.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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