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FUTEBOL
Ver para gostar ou não
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Fiquei entusiasmada com os
primeiros momentos da seleção feminina de futebol na Olimpíada. O jogo começou com boa
movimentação, bons passes de
primeira, jogadas inteligentes e
lances individuais que exibiam
habilidade e confiança. O futebol
da Marta, muito talentosa, amadureceu bastante na Suécia. Não
é à toa que os suecos adoram nossa camisa dez, e chegam a compará-la (sem perder a cabeça e a noção da diferença) com outros brasileiros que encantaram por lá,
como o Pelé garoto. É visível que
os dias de treino intensivo surtiram efeito -o time demonstrou
uma organização e um entrosamento que só costumava atingir
nas fases finais das competições.
Marta vem de uma cidade em
Alagoas que tem baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano.
Tem gente que acha que é uma
vergonha perder um jogo para
Honduras ou não mandar a seleção masculina para Atenas. Talvez seja, mas vergonha mesmo é
ter rincões de pobreza como esse
(ainda mais quando há ricos que
se sustentam da própria pobreza,
como muitas vezes acontece).
Semanas atrás, Mario Magalhães admitiu que não gosta de
futebol feminino -e apostou que
essa é a opinião de muitos, que só
não o diriam para não parecerem
incorretos. Com razão, lembrou
que ninguém sai correndo do trabalho para ver um jogo das mulheres. Só exagerou ao dizer que
outros esportes, como basquete e
vôlei, estão muitos degraus acima
em termos de atração das massas.
Nada se compara ao interesse
pelo futebol. Em momentos especiais, a torcida pode se empolgar
com um Guga ou uma seleção.
Ainda assim, pergunte nas ruas
pela equipe que venceu o Grand
Prix -se só a Virna e a Fernanda
Venturini forem lembradas, já
não me espanto. Outro dia fiquei
chocada com uma menina que
adora e joga basquete e não tinha
nenhuma jogadora como ídolo.
Não lembrou de um nome. Nem
Paula, Hortência ou Janeth. Como culpá-la por não conhecer o
que nunca lhe foi apresentado? O
futebol (masculino) está em todos
os lugares o tempo todo...
É difícil se empolgar com o que
você não conhece ou não entende
direito. Mesmo no futebol masculino, quem vai se interessar por
Criciúma x Ponte Preta sem ser
torcedor de um dos dois ou de um
rival direto? O aficionado pode
acabar perdendo um grande jogo,
mas não troca a partida do seu time, por pior que seja, por aquela.
Futebol feminino -como o cinema brasileiro, que penou muito
tempo com o "não vejo e não gosto"- pode ser bom ou ruim, empolgante ou chato, caprichado ou
esculhambado. O interesse ou
desconfiança são compreensíveis,
mas é preciso ver um jogo de vez
em quando para poder dizer
"gostei" ou "não gostei" cheio de
motivos. Ontem o Brasil teve ótimos momentos, mas também vacilos irritantes (gols perdidos no
segundo tempo, um por preciosismo, outro por afobação). Gostar
do feminino significa xingar as
jogadoras também... Sem piedade, sem medo de ser incorreto,
simplesmente torcendo como a
gente torce por qualquer time.
Vocabulário masculino
É divertido ouvir o grito de
alerta de uma jogadora para
outra: "Ladrão!".
Critério histórico
Alguns times entram na Copa
Sul-Americana pelo ranking de
clubes, outros pela classificação
no Brasileiro. Por isso, esta edição terá o Grêmio, 20º no ano
passado, e não o Atlético-PR,
que foi o 12º. Com o ranking,
vale a história do time, e não a
situação atual. É como se um
atleta meio fora de forma (mas
com muitas medalhas no armário) tirasse a vaga de outro
em melhores condições.
Concordo
A CBF entende que auditores
com mandato encerrado não
podiam eleger o presidente do
STJD. Eu também.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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