São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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POLÍTICA

Alheia ao olimpismo, máxima entidade do automobilismo se recusa a assinar convenção internacional antidoping e é desfiliada pelo COI, em mais um capítulo da discussão sobre o status da categoria

F-1 não é esporte

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A política de "tolerância zero" do COI (Comitê Olímpico Internacional) atingiu ontem a F-1.
Em Atenas, onde realiza a 116ª reunião de seu Comitê Executivo, a entidade desfiliou duas federações esportivas que não assinaram o Código Mundial Antidoping, um dos pontos de honra da gestão do belga Jacques Rogge.
Uma delas, a obscura Federação Mundial de Bandy, uma variação do hóquei, que tem sede nas montanhas do Quirgistão - ex-república soviética com área pouco menor do que a do Paraná.
A outra, a milionária e glamourosa Federação Internacional de Automobilismo. A FIA, fundada em 1904 e que desde 1950 promove o Campeonato Mundial de F-1.
Inflexível, porém, o COI igualou as duas federações. Independentemente de suas histórias e conquistas, usou um peso, uma medida. Cumpriu suas ameaças e expulsou quem não concordou com todos os termos do código.
O documento foi redigido após congresso da Wada (Agência Mundial Antidoping), em Copenhague (Dinamarca), em 2003. Foram ao encontro médicos, representantes de governos de vários países, inclusive do Brasil, e dirigentes de federações.
O objetivo do código é unificar regras de controle de doping e penalidades. "Esse regulamento é o primeiro passo para consolidar nossa agência e coibir o doping no esporte", prega o canadense Dick Pound, presidente da Wada.
Nem o COI nem a FIA comentaram a expulsão, mas o fato é que a entidade do automobilismo não concordou com a definição da CAS (Corte de Arbitragem do Esporte), em Lausanne (Suíça), como instância máxima para julgar casos de doping. O tribunal, criado pelo COI em 1984, também julga qualquer demanda esportiva.
Para a FIA, não há nada além de sua própria Corte de Apelações.
Uma mudança de postura da entidade dirigida por Max Mosley é improvável. Há anos, a FIA nem sequer alardeia o status de federação reconhecida pelo COI.
Por enquanto, a única seqüela prática da decisão que foi tomada ontem é o surgimento de mais um capítulo na velha discussão de botequim sobre se o automobilismo é ou não é um esporte.
Embora a federação fosse, até ontem, integrante da estrutura do COI, o automobilismo não tinha a condição de esporte olímpico, pois fere um dos preceitos do comitê internacional -veto à oficialização de um esporte que dependa de propulsão mecânica.
Criada em 1999, a Wada (Agência Mundial Antidoping) é quem hoje centraliza toda a política de combate ao doping. A agência é financiada pelo COI e pelos governos de cada país, em uma proporção de 50% para cada um.
Em Atenas, a entidade pretende realizar entre 3.000 e 3.500 testes antidoping, aumento de cerca de 25% em relação ao total de exames feitos em 2000, em Sydney.
Mais por vontade própria do que por pressões internacionais, a FIA também realiza testes. São exames esporádicos na F-1 e na F-3000. Por enquanto, só um piloto foi pego: no final de 2002, o tcheco Tomas Enge perdeu o título da categoria-escola da F-1 após seu exame apontar uso de maconha.
Nada de fato deve mudar. Apenas o tom das intermináveis discussões sobre o status de Michael Schumacher, Rubens Barrichello e companhia. Que, às vésperas do GP da Hungria, não reclamaram.
Por enquanto também não se ouviu nenhum protesto vindo das montanhas do Quirgistão.


Colaborou Adalberto Leister Filho, enviado especial a Atenas


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