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POLÍTICA
Alheia ao olimpismo, máxima entidade do automobilismo se recusa a assinar convenção internacional antidoping e é desfiliada pelo COI, em mais um capítulo da discussão sobre o status da categoria
F-1 não é esporte
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A política de "tolerância zero"
do COI (Comitê Olímpico Internacional) atingiu ontem a F-1.
Em Atenas, onde realiza a 116ª
reunião de seu Comitê Executivo,
a entidade desfiliou duas federações esportivas que não assinaram o Código Mundial Antidoping, um dos pontos de honra da
gestão do belga Jacques Rogge.
Uma delas, a obscura Federação
Mundial de Bandy, uma variação
do hóquei, que tem sede nas montanhas do Quirgistão - ex-república soviética com área pouco
menor do que a do Paraná.
A outra, a milionária e glamourosa Federação Internacional de
Automobilismo. A FIA, fundada
em 1904 e que desde 1950 promove o Campeonato Mundial de F-1.
Inflexível, porém, o COI igualou
as duas federações. Independentemente de suas histórias e conquistas, usou um peso, uma medida. Cumpriu suas ameaças e expulsou quem não concordou com
todos os termos do código.
O documento foi redigido após
congresso da Wada (Agência
Mundial Antidoping), em Copenhague (Dinamarca), em 2003.
Foram ao encontro médicos, representantes de governos de vários países, inclusive do Brasil, e
dirigentes de federações.
O objetivo do código é unificar
regras de controle de doping e penalidades. "Esse regulamento é o
primeiro passo para consolidar
nossa agência e coibir o doping no
esporte", prega o canadense Dick
Pound, presidente da Wada.
Nem o COI nem a FIA comentaram a expulsão, mas o fato é que a
entidade do automobilismo não
concordou com a definição da
CAS (Corte de Arbitragem do Esporte), em Lausanne (Suíça), como instância máxima para julgar
casos de doping. O tribunal, criado pelo COI em 1984, também julga qualquer demanda esportiva.
Para a FIA, não há nada além de
sua própria Corte de Apelações.
Uma mudança de postura da
entidade dirigida por Max Mosley
é improvável. Há anos, a FIA nem
sequer alardeia o status de federação reconhecida pelo COI.
Por enquanto, a única seqüela
prática da decisão que foi tomada
ontem é o surgimento de mais um
capítulo na velha discussão de botequim sobre se o automobilismo
é ou não é um esporte.
Embora a federação fosse, até
ontem, integrante da estrutura do
COI, o automobilismo não tinha a
condição de esporte olímpico,
pois fere um dos preceitos do comitê internacional -veto à oficialização de um esporte que dependa de propulsão mecânica.
Criada em 1999, a Wada (Agência Mundial Antidoping) é quem
hoje centraliza toda a política de
combate ao doping. A agência é
financiada pelo COI e pelos governos de cada país, em uma proporção de 50% para cada um.
Em Atenas, a entidade pretende
realizar entre 3.000 e 3.500 testes
antidoping, aumento de cerca de
25% em relação ao total de exames feitos em 2000, em Sydney.
Mais por vontade própria do
que por pressões internacionais, a
FIA também realiza testes. São
exames esporádicos na F-1 e na F-3000. Por enquanto, só um piloto
foi pego: no final de 2002, o tcheco
Tomas Enge perdeu o título da categoria-escola da F-1 após seu
exame apontar uso de maconha.
Nada de fato deve mudar. Apenas o tom das intermináveis discussões sobre o status de Michael
Schumacher, Rubens Barrichello
e companhia. Que, às vésperas do
GP da Hungria, não reclamaram.
Por enquanto também não se
ouviu nenhum protesto vindo das
montanhas do Quirgistão.
Colaborou Adalberto Leister Filho,
enviado especial a Atenas
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