São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

As cadências da decadência


Há momentos em que os times parecem imbatíveis. O tempo passa e o outrora invencível cai pelas tabelas

GRISALHO leitor, tingida leitora, a decadência vem para todos. Chega um dia e começamos a ter cabelos brancos (ou, o que é pior, brancos no cabelo), as costas doem apenas porque carregamos umas sacolas de supermercado e começamos a fazer um gemido de alívio cada vez que entramos no banco de trás de um carro de duas portas.
A decadência também chega para os times de futebol. Há momentos em que eles parecem imbatíveis, ganham troféus e tudo são alegrias e glórias. Mas o tempo passa, vão-se uns jogadores, perdem-se algumas partidas e pronto, eis que o time, outrora invencível, orgulho de sua torcida, está caindo pelas tabelas.
O Fluminense é um caso típico. Chegou à final da Libertadores, perdeu por um triz o maior troféu de sua vida e começou a descida da ladeira. Atualmente o clube é o penúltimo na Série A. Para piorar, no domingo, perdeu para o lanterna, o Ipatinga. Aliás, o Ipatinga, que em sua adolescência futebolística ganhou o Mineiro e subiu à primeira divisão do Nacional, também parece estar sentindo o peso dos anos. Neste ano, ele foi rebaixado no campeonato estadual e é um sério candidato a descer para a Série B. Quanto mais rápida a subida, maior a queda.
O Santos, que nesta década ganhou dois Brasileiros e dois Paulistas, está endividado, confuso e com a barba por fazer. É o outono em forma de time. As coincidências com o Palmeiras e o Corinthians que foram rebaixados são muitas: contratações desesperadas, falta padrão de jogo, um presidente há muito tempo no poder, trocas de técnico, bolas na trave, derrotas inesperadas, ira da torcida, etc... Como diria Karl Marx, um sábio cronista esportivo alemão, "a história se repete".
O Vasco está numa situação semelhante. O time montado por Eurico Miranda tem a pior defesa do campeonato, tomando em média dois gols por jogo. É um caso crônico: ele sofre derrotas retumbantes, então ameaça reagir, mas logo tem uma recaída e dá novos vexames.
Pior que estes quatro estão Paraná e o América (RN). No ano passado, os dois caíram para a Série B. E hoje estão na zona de rebaixamento para a C. Para estes, é como se o abismo não tivesse mais fim.
O Brasiliense também vive um naufrágio. Neste ano, foi campeão do Distrito Federal, conquistando seu quinto título em nove anos de existência. E sua escalação tem nomes famosos como Júnior Baiano, Athirson, Iranildo e Fábio Baiano.
Mas está em penúltimo na segunda divisão. Uma queda vertiginosa.
Mas em situação mais grave está o Santa Cruz, o simpático Santinha, que neste domingo perdeu em Recife para o Icasa. Sua torcida vem lotando o estádio, com mais de 20 mil espectadores por jogo, mas o time tem grande chance de não se classificar para a próxima fase da Série C. E, se ficar mal colocado nesta fase, em 2009 só lhe restará a Série D, de desastre.
Como disse Wooddy Allen, "envelhecer é o único jeito de não morrer". Para nós, reles mortais, a decadência é certa. Mas não para os clubes de futebol. Eles sempre podem ressurgir, renascer, remoçar. Vários deles já deram a impressão de estar em fase terminal, porém se reergueram como se tivessem bebido da fonte da juventude. Ah, que inveja...

torero@uol.com.br


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