São Paulo, quarta, 12 de agosto de 1998

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A harmonia entre jogadores e esquemas táticos

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Antigamente, dizia-se que havia jogador de time e jogador de seleção. Waldemar Fiúme e Ademir da Guia, por coincidência dois eméritos palestrinos de gerações distintas, carregaram vida afora o estigma de serem jogadores de time, não de seleção. Já outros se arrastavam em seus times o ano inteiro, mas, quando vestiam a camisa amarela, transfiguravam-se, encorpavam, viravam leões.
O mesmo valia para os treinadores: Aymoré, por exemplo, nunca levantou um título paulista, embora tivesse dirigido todos os grandes (e alguns pequenos) por aqui, durante várias temporadas. Na seleção, porém, só perde para Zagallo no quesito tempo de serviço.
Em contrapartida, o mestre Brandão, vestia faixa sobre faixa nos regionais, mas nunca deu certo na seleção.
Assim como é comum dizer-se que há treinadores de esquema e aqueles que adaptam o esquema às características dos jogadores de que dispõem. Zagallo, por exemplo, tentou impor um esquema à seleção brasileira, ainda que contrariando as características de alguns dos jogadores de que dispunha. Não deu, embora o técnico da seleção, na teoria, tenha um leque inconcebível de escolhas na mão.
Cada um é cada um. Não há dois jogadores rigorosamente iguais, como não há duas pessoas iguais. Parecidas, sim. Mas, iguais, não.
Logo, o bom treinador é aquele capaz de harmonizar estilos e diferenças, mesmo que disponha do mais variado, rico e amplo elenco de craques de todo o mundo, num esquema capaz de extrair de cada um o máximo, em benefício do conjunto.
Esse parece ser o caso de Luxemburgo, anunciado ontem, oficialmente, como o novo técnico da seleção brasileira. Pelo menos, foi o que ouvi de César Sampaio, que trabalhou com Luxemburgo no Palmeiras, na rádio, ontem. Segundo o experiente meio-campista, Luxemburgo pertence a esse categoria de técnicos que montam o esquema, a tática, o que seja, de acordo com o estilo dos jogadores de que dispõe.
Já vi Luxemburgo armar seus times com líbero, sem líbero, com três ou nenhum volante, com dois, três ou quatro atacantes, dependendo das circunstâncias. Mas nunca o vi transformar-se em arauto de um sistema fechado, aquela fórmula mágica, que, acima das pessoas e das contingências, quando aplicada, resulta em vitória.
Flávio Costa, Zezé Moreira, Zagallo e até mesmo o nosso Felipão sempre colocaram o homem a serviço do sistema.
Já Luxemburgo embarca na vertente de Feola, Aymoré e Telê: o homem é quem determina o sistema ideal. É um jeito de ver o futebol. A meu ver, um bom jeito de ver a vida.

Há quem, como eu, vê nessa escolha uma sombra: Luxemburgo, lançado agora nas águas turvas do pré-olímpico e torneios vesgos, pode estar assumindo o papel de boi de piranha, sobretudo porque, embora carioca de nascença, tem boa parte da imprensa do Rio no contrafluxo, por ter sido um profissional que deslanchou por aqui, na província.
Cabe a ele, porém, reverter essa situação. Aqui entre nós, acho que o fará.


Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas


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