São Paulo, quarta, 12 de agosto de 1998

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Nike pagou propina à CBF, diz Edmundo

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
do "Notícias Populares"

Em uma gravação obtida pelo jornal "Notícias Populares", o atacante Edmundo afirma que a escalação de Ronaldinho na final da Copa do Mundo era exigência de um contrato especial, assinado entre a CBF e a Nike, sua fornecedora de material esportivo.
Segundo Edmundo, a negociação foi comandada pelo presidente da entidade, Ricardo Teixeira.
"A Nike tem força (na seleção). Ela negociou direto com o presidente. Quer dizer, o presidente é que levou a porcentagem na negociação", diz o jogador.
Edmundo diz que "o negócio da Nike é uma coisa verdadeira". "Tem um contrato que o Ronaldo tem que jogar todos, todos os jogos, os 90 minutos."
A Nike negou, em uma nota oficial, a existência do contrato.
"Esse tipo de ação sugeriria uma intromissão fortíssima da Nike na CBF. A Nike não faz intromissões técnicas, seria loucura", diz a nota, na qual, porém, a empresa se recusa a dar detalhes do contrato.
Ronaldinho mantém contrato pessoal com a empresa, da qual é um dos maiores garotos-propaganda do mundo.
A polêmica em torno da escalação do atacante na final da Copa do Mundo começou pouco antes da partida, no estádio de Saint-Denis, na periferia de Paris.
Após sofrer uma crise nervosa no hotel, Ronaldinho foi substituído por Edmundo na escalação oficial entregue pela CBF à Fifa.
Ronaldinho foi levado a um hospital e acabou sendo confirmado na equipe titular 45 minutos antes do jogo, tirando assim as chances de Edmundo iniciar a partida.
Na gravação, Edmundo diz ter acompanhado a ação do médico Lídio Toledo no episódio, que teria revoltado os jogadores.
"Todo mundo ficou meio puto com o Lídio, porque quando ele (Ronaldinho) tava passando mal (...), o doutor Lídio só ficava assim: "Vai passar, vai passar'."
No mês passado, Edmundo já havia declarado que a Nike mantinha uma pessoa infiltrada na concentração da seleção e que a decisão pela escalação de Ronaldinho havia sido influenciada pela empresa -o que foi rebatido pelo técnico Zagallo e pela CBF.
Como agora, a Nike também negou a acusação, alegando que um assessor teria feito apenas uma visita ao Château de Grande Romaine durante o período do Mundial.
Na nota em que nega as declarações de Edmundo, a Nike cita um amistoso da seleção no ano passado para fazer sua defesa.
Para a empresa, "um exemplo que Ronaldinho não tem de jogar por imposição os 90 minutos é o jogo realizado na Arábia Saudita em 16 de dezembro passado, na Copa das Confederações. O Brasil ganhou de 3 a 2 do México, e Ronaldinho foi substituído no segundo tempo por Bebeto".
Ontem à tarde e à noite, a Folha procurou o jogador para que comentasse a gravação. O assessor pessoal do atleta, Helinho, disse que Edmundo estava em uma reunião particular, sem condições de ser contatado.


Com a Reportagem Local


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