São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Técnico que liderou título inédito no rúgbi sonha em assumir a seleção

"Bernardinho inglês" quer a bola redonda, e não a oval

CAIO MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo do futebol inglês entrou em polvorosa na última semana, depois que sir Clive Woodward, técnico da equipe de rúgbi do país, campeã da Copa do Mundo, anunciou a renúncia ao cargo.
Horas mais tarde, a imprensa local divulgou que ele poderia assumir um posto na comissão técnica do Southampton, 12º colocado no último Campeonato Inglês de futebol, de cujo "chairman", Rupert Lowe, é amigo.
A história poderia ser só uma das fofocas que alimentam os tablóides britânicos, não fosse o fato de que não são poucas as pessoas que levam a sério a possibilidade de Woodward, que foi declarado "sir" depois da conquista da Copa do Mundo de rúgbi, chegar a assumir o "English Team".
Woodward é uma espécie de Bernardinho da Inglaterra. O ex-técnico da seleção de rúgbi é tido por todos como o homem que revolucionou a modalidade do país, levando-o ao título de 2003.
A conquista, inédita para a nação que inventou o esporte, quebrou a hegemonia do hemisfério Sul na Copa do Mundo. E o título veio de forma dramática, na prorrogação, contra a Austrália em Sydney, pela diferença mínima de três pontos (20 a 17), conquistada a 26 segundos do fim do período.
Mais que um estrategista do rúgbi, Woodward é louvado por sua habilidade organizacional e motivacional. Tal qual Bernardinho, é tido como o "pai" dos atletas. Mas há uma diferença fundamental entre os dois.
"Amo futebol. Nunca tive essa paixão pelo rúgbi. Fui forçado a jogar rúgbi porque era o único jogo que minha escola praticava. E eu detestava. Fugi várias vezes pelo futebol", declarou Woodward.
Mas, se ninguém duvida de que a perda para o rúgbi será tremenda, há quem ache que a mudança de esporte pode ser um desafio grande demais, mesmo para um mestre em relacionamento.
A seleção inglesa é treinada desde 2001 pelo sueco Sven Goran Eriksson, o primeiro estrangeiro a dirigi-la, que viu seu cargo ameaçado há algumas semanas, quando os tablóides ingleses revelaram que ele tivera um caso com uma secretária da FA, a federação inglesa de futebol.
Safou-se do escândalo porque a cláusula de rescisão de seu contrato é altíssima, e não haveria base legal para dispensá-lo por questões particulares. Até 2007, portanto, o cargo é dele, a não ser que ele mesmo decida abrir mão.
Woodward já deixou claro mais de uma vez que é esse o cargo que cobiça, e que em 2007 espera estar preparado para ocupá-lo.
Apesar das semelhanças que o caso de Woodward possa ter com o de Bernardinho, o futebol inglês tem uma grande diferença em relação ao brasileiro: tem só uma Copa, conquistada há 38 anos.
Não é difícil imaginar o que aconteceria se, em pleno 2004 da consagração do técnico da seleção de vôlei, o Brasil estivesse há 38 anos sem ganhar a Copa do Mundo. Em 2000, antes de Luiz Felipe Scolari assumir a seleção e quando o país esteve ameaçado de não ir a uma Copa pela primeira vez, houve quem se lembrasse, ainda que em conversas de boteco, do nome do então técnico do vôlei feminino.
Antes de 2007, há uma Copa do Mundo disputada na Alemanha, e o desempenho do time inglês na competição vai fazer toda a diferença na manutenção ou não de Eriksson no cargo.
O fato é que o torcedor inglês dificilmente engolirá outro fracasso em 2006. E, se em 2007, depois de uma eventual saída precoce da Inglaterra da Copa de 2006, Woodward já tiver tido tempo de provar seu valor nos campos de futebol, há chances de que a pressão popular o leve ao cargo que deseja.
Se chegar lá, Woodward vai romper, como tem lembrado a mídia inglesa, uma linha estabelecida no século 19, quando foi fundada a federação inglesa de rúgbi por clubes que não queriam mais jogar o futebol só com os pés.

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