São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Futebol de clichês

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Há anos, fiz uma análise crítica e irônica sobre os clichês existentes no futebol. Faço agora uma revisão e acrescento mais algumas frases.
- Faltou atitude.
É a frase da moda entre os técnicos e os jogadores. Substituiu a pegada. A falta de atitude explica todas as derrotas.
- O time teve boa dinâmica.
Os treinadores adoram essa palavra. A outra é equilibrado. Qualquer dia vão dizer que a equipe teve uma dinâmica equilibrada. Aí vira moda.
- O time acusou o golpe.
Futebol não é boxe nem luta corporal.
- A melhor defesa é o ataque.
O time que ataca muito e não defende bem geralmente perde.
- A bola procura o artilheiro.
A bola não enxerga. É o artilheiro que sabe, antes dos outros, aonde a bola vai chegar.
- No passado, palavra era documento.
Parece até que no passado só havia pessoas honestas. Quem afirma isso não conhece nem um pouco a alma humana.
- Ganha-se e perde-se todos.
A união é importante, mas alguns jogadores são mais decisivos na vitória, e outros, na derrota.
- O time só perde para ele mesmo.
É uma demonstração de menosprezo à equipe adversária.
- Pênalti é tão sério que só deveria ser batido pelo presidente.
Os presidentes estão tão sem moral que é melhor mesmo bater o jogador.
- Se ninguém falhar, a partida terminará empatada.
Os acertos são muito mais importantes do que os erros.
- Vencer ou vencer.
Quem fala isso são os que têm mais medo de perder.
- Treino é treino, jogo é jogo.
Nem sempre quem treina muito joga bem, mas quem não treina geralmente joga mal, com exceção de gênios como Didi.
- Não se ganha na véspera.
Nem depois do jogo.
- Dois a zero é um resultado perigoso.
É mais perigoso que 3 a 0 e menos que 1 a 0.
- Pênalti é loteria.
Um pênalti depende muito do estado emocional de quem o cobra, da competência do batedor, dos treinos, do tamanho e da eficiência do goleiro adversário e também da sorte.
- Quem não faz leva.
O time que joga melhor e perde muitos gols na maioria das vezes abre o placar da partida.
- Empatar fora de casa é um bom resultado.
Num campeonato em que a vitória vale três pontos, empatar é sempre ruim para quem deseja disputar o título.
- Perdeu na hora certa.
O melhor, acredito, é não perder em hora nenhuma.
- Se Deus quiser, vamos vencer.
Deus está muito ocupado e preocupado com coisas mais importantes. Vamos poupá-lo.
- O grupo está fechado.
O grupo tem de estar aberto, senão vira ditadura, panelinha.
- Será uma partida de seis pontos.
Geralmente o clube de quem afirma isso se encontra muito mal na classificação do campeonato. É a ilusão dos desesperados.
- O zagueiro tem de marcar o adversário, e não a bola.
O defensor tem de ter um olho na bola e outro no adversário.
- O time com dez jogadores joga melhor do que com 11.
Raramente acontece. Com freqüência, o time que tem um a menos leva goleada.
- O futebol é uma caixinha de surpresas.
Essa é a melhor desculpa para as derrotas.
- O treinador tem o time nas mãos.
Ele é que pensa.
- Vamos correr atrás do prejuízo.
O time que perde tem de correr atrás do lucro.
- Não existe mais time bobo.
Não tem time bobo, mas tem muito time horrível.
- Calou a boca dos críticos.
Os próprios repórteres esportivos adoram falar isso. Se um jogador estava sendo corretamente criticado e passa a jogar bem, não foi o crítico que errou, e sim o jogador que melhorou.
- O importante é competir.
O importante é vencer, respeitando o adversário. O barão de Coubertin, idealizador da Olimpíada da Era Moderna, nunca disputou uma final de campeonato ou perdeu todas as decisões.

Estarei de férias nesta semana. A coluna volta no dia 22. Até lá.

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