São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Brasil abre Mundial antiglobalizado

Seleções reagem ao assédio da WNBA, seguram jogadoras no país e apostam em entrosamento para triunfar no basquete

Anfitrião do torneio, time brasileiro vai na contramão e alinha no elenco que estréia hoje oito atletas que jogam no exterior


ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos internacionalizado do que há quatro anos, o Mundial feminino de basquete começa hoje, em São Paulo e Barueri, com oito partidas. O Brasil estréia contra a Argentina.
Ao contrário da última edição, na China-02, algumas das forças do planeta passaram a incentivar as selecionáveis a permanecer nas ligas locais.
Anteriormente, ter várias jogadoras na WNBA era considerado um trunfo. A liga norte-americana se firmava como a versão feminina da NBA e oferecia contratos vantajosos, atraindo estrelas do mundo.
Como ônus dessa escolha, quem se destacava no competitivo torneio costumava desfalcar seu país. Como a WNBA realiza mata-matas às vésperas do Mundial, algumas seleções não disputavam um só amistoso com seu grupo completo.
Os países decidiram, assim, dar um basta à condição de coadjuvantes. Foi o caso, por exemplo, de Espanha, Rússia, República Tcheca e Austrália.
"A federação quer que nossas jogadoras fiquem no país. Temos só duas no exterior e o melhor é que todas são importantes para seus times", diz o técnico espanhol Domingo Díaz.
A Rússia é o caso mais significativo. Em quatro anos, o país, vice-campeão mundial, estruturou liga forte, atraindo interesse até de americanas e brasileiras -Helen e Iziane atuaram por lá. Além disso, a Rússia abriga as finais Liga Mundial de clubes, torneio criado em 2003. Como resultado, todo o elenco da seleção hoje joga no país.
A República Tcheca adotou solução parecida. Apenas Zuzana Klimesova joga na França. As outras 11 estão no país.
E, para melhorar o entrosamento, seis delas defendem a mesma equipe, o Gambriunis Brno, campeão europeu, que é dirigido por Jan Bobrovsky, o mesmo treinador da seleção.
França, com nove atletas na liga local, e Lituânia, que possui 11 jogadoras em casa, seguem estratégia semelhante. Austrália, vice-campeã olímpica, e Brasil são as exceções.
A federação australiana bem que tentou: chegou a anunciar que não chamaria atletas da WNBA. Rendeu-se ao óbvio. A técnica Jan Stirling teve que convocar dez "estrangeiras".
Em conversa com Iziane, a armadora Kristi Harrower, companheira da brasileira no Seattle, queixou-se da preparação inadequada. A australiana lamentou que a equipe treinou só dois dias completa e fez um amistoso, contra os EUA, antes do desembarque no Brasil.
Mesmo a seleção nacional, com oito no exterior, vive momento de refluxo. Em 2002, eram nove atletas, sendo seis na liga norte-americana. Do grupo atual, só Iziane optou por disputar a temporada nos EUA.
Para Antonio Carlos Barbosa, técnico da seleção brasileira, a diáspora de jogadoras para o exterior afeta a preparação.
"O ideal é que todas estivessem no Brasil pelo menos 60 dias antes para fazer a preparação física", afirmou o treinador, que ressaltou o desnível de Iziane, que se apresentou após seu time ser eliminado na WNBA. "Ela chegou aqui meio perdida, precisando de ritmo."


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